O problema da evasão escolar em Bento Gonçalves parece estar longe de ser solucionado. Embora exista uma rede entre Secretaria Municipal de Educação (SMED), 16° Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Conselho Tutelar e Ministério Público (MP) atuando em conjunto para tentar encontrar medidas que possam minimizar a situação, todos os anos os números finais são maiores.

Sabendo que a infrequência escolar é caminho para a evasão, desde 1997 todas as escolas do Rio Grande do Sul trabalham com a Ficha de Comunicação de Aluno Infrequente (Ficai). Na prática, quando um estudante, independente da série ou idade, atinge cinco faltas consecutivas, o orientador escolar ou diretor é obrigado a abrir essa ficha e informar o motivo pelo qual o aluno não está indo. Quando não tem sucesso em localizar o estudante ou a família, a escola envia a Ficai para o Conselho Tutelar, que passa a ser o órgão responsável por atuar no caso.

De acordo com os dados cedidos pelo Promotor de Justiça, Elcio Resmini Meneses, no período que compreendem os meses de fevereiro a agosto desse ano, foram abertas 631 Ficais. Dessas, 317 são de escolas estaduais; 311 de escolas municipais e três de escolas particulares de Bento. Das escolas municipais, a que apresenta o maior número de Ficais abertas até o momento é a Professora Maria Borges Frota, com 100. Das estaduais é a Escola Mestre Santa Bárbara, com 48.

Embora trabalhem em conjunto e com a mesma finalidade, alguns dos órgãos envolvidos falam em problemas relacionados a Ficai, demonstrando existir falta de organização nesse processo.

A Secretária Adjunta de Educação, Adriane Zorzi, afirma que o total de Ficais abertas não representa de fato a quantidade de alunos evadidos, sob justificativa de que em muitos casos, o aluno já retornou para a escola, mas alguém esqueceu de fechar a ficha de infrequência, fazendo com que continue somando no sistema. “Quando se diz que tem um grande número de evasão, a maioria das vezes se olha o número de Ficais abertas, são números de alunos que aparecem como evadidos, mas não verdade não são. Fica muito ruim imaginar que tem tantos alunos fora da escola e na verdade eles não estão. Não vamos dizer que não tem alunos que faltem, mas não é o número que aparece. Hoje, têm 311 fichas abertas de Ficais, mas esse número não é real”, argumenta Adriane.

A Assessora Pedagógica do Município, Janete Maria Ziero Lunelli, explica que para saber se realmente existe evasão, é preciso abrir ficha por ficha e que ao fazer esse procedimento, algumas vezes é constatado que algumas Ficais seguem abertas porque o Conselho Tutelar não foi verificar o que aconteceu com o aluno. “Temos aqui uma FICAI que foi enviada e o conselheiro não foi atrás, então ela está em aberto, mas porque está lá no Conselho Tutelar que não faz o que tem que fazer, às vezes”, afirma.

Por outro lado, a coordenadora e conselheira do Conselho Tutelar, Silvana Lima, relata dificuldades em contatar as famílias dos estudantes, que trocam de telefone e endereço com certa frequência. “Tenho um caso que desde abril ligo para a mãe, já fui três vezes na casa, mas estava com o endereço errado. Essa semana consegui fazer contato com a família para vir aqui, para eu fechar a Ficai”, Silvana.

A reportagem questionou o promotor Meneses se existe falha no trabalho realizado pelo Conselho Tutelar. De acordo com o promotor, há anos existe divergências entre o Conselho e as escolas. “Dizer que o Conselho não faz seu trabalho seria simples demais. A demanda é grande e o Conselho Tutelar, com cinco pessoas, não existe só para atender a Ficai, mas toda uma questão de proteção. Talvez exista uma falha ou outra, um conselheiro ou outro que haja diferente e a escola acha que não deveria ser assim. São percepções de atuações de cada um”, acredita.

Motivos:

Os motivos para que um aluno comece a se tornar infrequente na escola, são os mais variados. De acordo com a conselheira Silvana, entre eles, desinteresse, drogadição, dificuldades no transporte escolar, distorção de idade/série, problemas familiares, maternidade, dentre outros.

Sobre o aumento dos números, o promotor Meneses conta que todos os meses, os órgãos citados se reúnem em uma reunião para discutir quais são as maiores causas que estão levando ao aumento da evasão e de que maneira podem combater o problema. ” As coisas lá fora estão muito mais sedutoras que dentro da escola, por isso a gente não está conseguindo reduzir números, mas estamos tentando, fazendo trabalho conjunto para tentar fazer isso. A evasão está existindo, está aumentando e não é um fato pontual de Bento Gonçalves, é geral”, afirma.