Lembram do chorão? Não estou falando de Ryutaro Nonomura, o japonês corrupto que abriu o berreiro numa entrevista coletiva, para justificar suas maracutaias. O chorão em questão é uma arvorezinha que se desenvolveu a partir de um galho fincado na terra encharcada, nos fundos de minha casa.

Já contei, uma vez, a saga da plantinha, a sua luta pela sobrevivência. Só lembrando: toda vez que ela se vestia de folhas, vinham as formigas cortadeiras e sorrateiramente a depenavam. Ela, numa prova de resistência incrível, mantinha o coração bombeando os nutrientes pelo caule, até a clorofila explodir em centenas de pontinhos verdes que logo ganhavam forma.

Cansada de ver a pobrezinha naquela luta insana, parei de conferir o estrago. Mas, há um mês, ainda procurando a origem da água que desemboca no meu pátio e se derrama pela calçada formando charcos, dei de cara com um com um salgueiro de quase dois metros.

Fiquei impressionada. O tempo passara (meses???) sem eu perceber, e o meu chorãozinho, feliz da vida, dançava no ritmo do vento… Que prova de obstinação a natureza dava. Então, com medo de que as cortadeiras voltassem a atacar a planta, resolvi ajudar: derramei, ao redor dela, sal grosso. Resultado: o salgueirinho foi desbotando, desbotando, suas folhas secando e caindo. Todas.
Quase chorei vendo o esqueleto do meu chorão. Tentei reanimá-lo com terra fofa e palavras de carinho. Depois de algum tempo – surpresa! -ele voltou a brotar.
Assim é o povo brasileiro. Embora historicamente venha sendo explorado, manipulado, enganado, pilhado, surrupiado, humilhado, afrontado… continua buscando força no âmago do ser, para driblar as carências e dificuldades do dia a dia. Mas os predadores, sem lei nem moral, são insaciáveis… Saqueiam os cofres públicos sordidamente… É uma gana feroz… Querem sempre mais… Não encontram limites…
Enquanto a terra verter água, meu chorão sobreviverá… E o povo?