Culto de Gratidão aconteceu neste sábado, 31, com a celebração do pastor Miguel Anilton da Silva Silva
No sábado, 31 de maio, a Igreja Metodista de Bento Gonçalves se transformou em um espaço de memória e celebração ao realizar o Culto de Gratidão pelos 150 anos da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul. A cerimônia ocorreu às 19h e contou com transmissão ao vivo pelo YouTube, ampliando o alcance desta homenagem aos imigrantes que, movidos pela esperança e pela fé, construíram raízes profundas na região.
A iniciativa parte da própria comunidade metodista, como explica Vânia Kratz Mendes, secretária da igreja. Ela ressalta que a motivação para organizar o culto está diretamente ligada à relevância histórica da efeméride: “Este culto é uma oportunidade de agradecer e reconhecer o legado de fé e esperança deixado pelos nossos antepassados”, afirma.

Organizar uma celebração envolve diversos desafios. Vânia relata que um dos principais é engajar a comunidade e preparar cuidadosamente uma liturgia bilíngue, respeitando a herança cultural italiana. “Queríamos que todos pudessem se sentir acolhidos e que a celebração refletisse a riqueza cultural trazida pelos imigrantes”, afirma.
A programação incorpora elementos culturais significativos. Vânia enfatiza a importância dessas escolhas: “Introduzimos orações e hinos em língua italiana e contamos com a participação especial do Coral do Círculo Friulano da Serra Gaúcha, que cantou duas músicas em dialeto friulano”, detalha.
O envolvimento comunitário é apontado como intenso e fundamental para o êxito do evento. “A participação da comunidade foi intensa e muito receptiva, inclusive para a preparação do ‘merendin’, que foi ofertado a todos após o culto, no salão abaixo da igreja”, relata Vânia, ressaltando o caráter fraterno do encontro.
A celebração não encerra as homenagens previstas pela igreja. Vânia antecipa que outras atividades estão programadas, entre elas o lançamento de um livro: “No próximo dia 19 de julho, a igreja vai sediar o lançamento de um livro escrito pelo pesquisador Vicente Dalla Chiesa, no âmbito de um programa de pós-graduação, onde se aborda a história do metodismo regional de 1887 a 1900”, informa.
Entre os presentes, o prefeito municipal, Diogo Segabinazzi Siqueira, assim como o secretário municipal da Cultura, Evandro Soares, e o vereador Eduardo Pompermayer, que representou o deputado Guilherme Pasin. O evento reuniu ainda o pastor Norberto da Cunha Garin, do Grupo de Pesquisa Histórica do Metodismo no RS; Vicente Dalla Chiesa, pesquisador da história do metodismo na Região Colonial Italiana do Nordeste Gaúcho; Anthony Beux Tessari, presidente do Instituto de Memória e Cultura da UCS; Sandro Giordani, do Circolo Trentino; Lisete Furlan Canabarro, do Circolo Friulano da Serra Gaúcha, junto com o Coral “Côr Rivocs dal Friul”, e Gabrielle Tesser Gugel, da ANEA – Associação Nacional dos Emirados e Ex-Emigrados das Américas e Austrália. O professor Dr. Sandro Gallazi e sua esposa, Anna Maria Rizzante Gallazi, participam da celebração, juntamente com familiares dos fundadores da Igreja Metodista em Bento Gonçalves, das famílias Premaor, Brun e Covolo. Além das participações internacionais, por meio da transmissão on-line, o Prof. Dr. Massimo Di Gioacchino, da New York University, e o Pastor Dr. Luca Anziani, presidente da Igreja Metodista na Itália.
O pastor Miguel Anilton da Silva Silva, dirigente da igreja, confere à celebração um significado pessoal e espiritual profundo. Ele afirma que o culto é mais do que uma simples homenagem. “Representa a recuperação da história de uma comunidade religiosa que tem sua origem na imigração italiana”, enfatiza. Refletindo sobre a trajetória dos imigrantes, o Silva destaca o papel da fé. “Certamente, a fé em Deus e em condições melhores de vida foi muito importante no cotidiano também dos imigrantes italianos protestantes”, analisa.

Para o pastor, o legado mais marcante deixado pelos pioneiros está na vivência concreta da fé: “A resiliência e a consciência de que a fé se manifesta ‘com palavras e atos’, como diz um tradicional hino evangélico”, ressalta, evocando o testemunho dos antepassados. Durante a celebração, ele transmitiu uma mensagem clara à comunidade: “Somos uma continuidade dos que nos precederam”, afirma.
O compromisso da Igreja Metodista com a preservação da memória se manifesta, segundo Silva, através do cuidado com os registros históricos: “Buscamos manter viva a memória das famílias imigrantes através da conservação da documentação histórica, em particular de livros de registro, parte deles sob a custódia do Museu do Imigrante”, explica.
O pastor também acredita que eventos como este fortalecem a identidade cultural e comunitária: “Sem dúvida, ajudam a esclarecer quem é a Igreja Metodista e qual sua presença nesta região”, afirma.
O culto marca como um momento de profunda emoção e de reconhecimento histórico. Para o pastor, trata-se de um gesto de gratidão e reafirmação da missão comunitária: “A celebração foi um gesto de gratidão e de reafirmação de nossa missão enquanto comunidade de fé e cultura”, conclui ele, com a convicção de que a memória dos imigrantes seguirá viva através das gerações.