Entre as doenças mais prevalentes estão a insônia, a apneia obstrutiva do sono e a síndrome das pernas inquietas

Crescente na população brasileira, os distúrbios do sono já afetam 72% da população do país, segundo dados da Fundação Oswaldo Cruz.
O médico Alexandre Pressi, pneumologista e médico do sono, explica que estes também são os distúrbios mais frequentes entre a população bento-gonçalvense. A insônia, perturbação mais comum também a nível mundial, pode aparecer já na fase infantil, principalmente quando passam a dormir no próprio quarto, o que causa certo estresse momentâneo ao sono do bebê. Já na adolescência é possível observar a dificuldade para dormir devido ao uso excessivo de telas e mídias. Por fim, na fase adulta pode ser observado devido às preocupações, sejam referentes ao trabalho, problemas afetivos ou financeiros.
“A segunda situação é a apneia obstrutiva do sono. O paciente, enquanto dorme, tem pausas respiratórias por mais de 10 segundos. A pessoa ronca muito e de repente para. Quando retorna a respirar ronca mais alto após essa pausa,” explica o médico. Essa situação pode ainda ser agravada pela menopausa, para as mulheres, e pela obesidade, que é um fator de risco para a ocorrência.
Entretanto, explica Pressi, a causa principal para a apneia do sono é a obstrução das vias aéreas superiores devido a um aumento das amígdalas ou das adenoides.
Em menor frequência, entre os distúrbios do sono há o sonambulismo, distúrbios comportamentais do sono REM e a síndrome das pernas inquietas, que é a movimentação involuntária dos membros inferiores, o que acaba atrapalhando o sono.

O impacto

Dr Alexandre Pressi, Pneumologia e Clínica do Sono

O resultado de uma noite mal dormida é enorme, indo desde a sensação de sonolência e cansaço durante o dia até diminuição cognitiva. Neste caso, a pessoa acaba tendo um raciocínio mais lento, mais dificuldade de aprendizado e de memorização, principalmente entre as crianças. “Muitas vezes, por não ter tido um sono reparador, durante o dia a pessoa apresenta um quadro de ansiedade e angústias e acaba provocando problemas de relacionamento, pois é uma pessoa que fica muito ‘arisca’ em qualquer situação de estresse. E essa situação ocorre tanto a nível afetivo quanto a nível profissional”, explica Pressi.
Outra situação acarretada pela privação de sono é o aumento do risco de infarto e de acidente vascular cerebral, para pessoas que ficam muito estressadas devido à dificuldade para dormir, bem como o risco de acidentes de trânsito, devido à sonolência durante o dia.

Tratamentos

Pressi explica que o tratamento passa por três fases.
A primeira seria a higiene do sono, com a adequação do quarto para diminuição ou correção da insônia. Nesse caso o local precisa ter luminosidade baixa, temperatura adequada, o mais silencioso possível e com uma cama adequada. “É importante que o quarto seja um ambiente de relaxamento e prazer, deixando as demais atividades para outros ambientes, como sala e cozinha”, afirma o médico.
O segundo passo seria a terapia cognitiva comportamental, que é realizada por psicólogos ou profissionais habilitados e dura em torno de três meses. “Essa terapia promove o relaxamento da musculatura, fazendo com que o cérebro mude de direção na horar de dormir e não fique naquele ciclo de ansiedade pré insônia”, explica Pressi.
A terceira etapa seriam os tratamentos farmacológicos, onde primeiro é feita a análise da idade do paciente, o risco de dependência e o tipo de insônia, inicial, quando há dificuldade em pegar no sono, intermediária, quando a pessoa acorda no meio da noite e não consegue mais dormir ou o despertar precoce, quando a pessoa acorda quatro ou cinco horas da manhã e não consegue mais dormir. “O tratamento farmacológico seria para a insônia crônica, porque tem a insônia pontual, que acontece devido a preocupações pontuais, que podem ser até três meses”, afirma o médico.

Medicamento para induzir o sono

Entre os indutores de sono temos duas classes de medicamentos, os Benzodiazepínicos e a classe Z ou Zdrugs, como são conhecidos nos Estados Unidos, e englobam o Zolpidem, a Zopiclona e a Eszopiclona. Esses medicamentos agem no centro do cérebro e provocam o sono de imediato, por isso o paciente já deve estar deitado ao fazer uso da medicação.
Um dos medicamentos mais conhecido, e mais comentado é o Zolpidem, que tem uma ação muito curta, de cerca de 2h30min. “O que acontece, a pessoa toma o Zolpidem querendo dormir a noite toda, mas isso não acontece. Aí acaba tomando outro na madrugada, e mais um posteriormente, e então mais um… Nesse caso a pessoa acaba aumentando a dose, o que acaba acarretando em uma tolerância a essa medicação. Assim, os receptores não respondem da mesma forma e isso acaba gerando uma dependência grande com aumento da dosagem,” explica pressi, que alerta que a prescrição médica deve ser seguida risca.

O impacto de uma noite mal dormida é enorme


“Os medicamentos do sono têm vários efeitos colaterais, o mais grave é a chamada amnésia retrógrada, que a pessoa não sabe o que fez, mesmo 30 minutos antes de ter ingerido o zolpidem, então é uma droga muito complicada, que já foi utilizada em situações muito graves. O controle rigoroso dessa medicação é fundamental, tanto para evitar a dependência quanto o abuso de drogas”, salienta Pressi.
Outros efeitos colaterais podem ser a “ressaca do dia seguinte”, que é aquela sonolência excessiva de manhã, boca seca, tonturas, náuseas e arritmia cardíaca, dependendo do medicamento.
“Hoje temos uma gama muito grande de medicamentos que agem tirando o estímulo da vigília e provocando esse sono, então cada tratamento precisa ser personalizado. Se é um paciente que tem ansiedade, eu vou buscar um medicamento que tenha ação tanto para ansiedade quanto para a insônia. Se é uma mulher que tem fibromialgia precisa agir tanto para induzir o sono quanto para retirar a dor”, explica Pressi. Outro fator que aumenta a insônia entre as mulheres é a menopausa, que deve ter acompanhamento ginecológico e também do sono.
Pressi explica que há várias situações que deveria ter acompanhamento de um profissional do sono, pois são doenças que ou geram insônia ou pode ser agravada pelas noites mal dormidas, entre elas o médico cita o sobrepeso, devido a apneia do sono, hipertensos não controlados, pessoas com síndrome metabólica, hiperglicemia, gordura no fígado ou esteatose hepática, distúrbios de ansiedade generalizada e depressão. “A gente tem que cuidar muito aquela criança hiperativa durante o dia, que não consegue sentar na classe, não consegue se concentrar, mesmo estudando não vai bem nas provas, não consegue fazer as atividades… E que geralmente são taxadas como síndrome de déficit de atenção e hiperatividade de forma inadequada. Muitas vezes essas crianças não estão dormindo bem, porque tem adenoides grandes, tem umas amídalas grandes, então não ventilam direito durante a noite, tem apneia e não sabem. Nesse caso o tratamento deve ser para o sono e não da hiperatividade. Pois a criança manifesta um sono inadequado na forma de hiperatividade durante o dia”, finaliza o médico.