Reverendo Auderli Sidnei Schroeder foi ordenado em celebração no domingo, 15
A Paróquia Anglicana da Virgem Maria, em Caxias do Sul, terá o primeiro presbítero gay desde sua fundação, em 1950. O reverendo Auderli Sidnei Schroeder foi ordenado na celebração eucarística no domingo, 15. Natural de Novo Hamburgo, Schroeder tem 52 anos e atua na paróquia desde 2022, onde desenvolve um trabalho de inclusão de pessoas LGBTs à comunidade cristã. “Estar na Igreja Episcopal Anglicana do Brasil e ser ordenado por ela é ser aceito numa Igreja inclusiva, onde se vê o rosto amoroso de Deus na compaixão, acolhida e solidariedade. Uma Igreja que mostra que Jesus Cristo está para todos e todas sem distinção de raça, orientação sexual e gênero”, afirma o reverendo.
Schroeder conta como foi seu começo na religião. “Deixo claro que fui da Igreja Católica Apostólica Romana (Icar) – até 2009. Então já tinha feito uma longa caminhada religiosa como Católico Romano, mas sempre sendo tolhido, recebendo muitos ‘nãos’, por conta da minha sexualidade e pelas causas que eu defendia em prol das minorias. Afastei-me da Icar de 2005 até 2009, quando então me aproximei da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), já sabendo que era inclusiva, que recebia as pessoas, que não questionava a sexualidade humana. Essa questão é para muitos dos nossos teólogos, uma questão de opressão. Deus é Pai, Criador e não um Deus opressor. Depois de um período de catecumenato fui recebido em dezembro de 2009”, revela.

Ele conta do seu começo na Igreja Anglicana, em Canela. “Posso afirmar que desde a minha entrada na Missão São Pedro de Canela, o acolhimento foi pleno em todos os aspectos. Algo que nunca tinha sentido na Icar. Uma acolhida de braços abertos, sem se importar com o que sou na intimidade do meu lar. Ao contrário, eles questionavam sobre o que estava sentindo e como a Igreja Anglicana poderia melhorar ainda mais na acolhida fraterna. Esse é o jeito Anglicano e só você participando para sentir e perceber esse carisma messiânico que a IEAB possui”, relembra.
Matrimônio
O presbítero revela que todos os reverendos ou reverendas podem se casar. “Não busquei a Igreja Anglicana por ser LGBT, mas sim busquei um espaço onde poderia e posso viver plenamente minha vocação. Era isto que buscava e encontrei no Anglicanismo. A sexualidade foi algo que foi acompanhando este processo de acolhida e formação religiosa, mas sem estigmas, sem feridas e o principal: sem julgamentos, dentro de um discernimento vocacional e claro, somos a Igreja Anglicana. Não temos problemas em ter clérigos e clérigas casadas, somos uma Igreja segura”, destaca.
A Igreja
Presente no Brasil há 134 anos, a Igreja Episcopal Anglicana é pioneira na pauta da diversidade na religião. Desde 1984, a igreja permite a ordenação de mulheres, que podem exercer os ministérios como diaconisas, presbíteras e bispas. A primeira mulher ordenada no país foi a reverenda Carmen Etel Alves Gomes, em maio de 1985.
Além da igualdade de gênero, a Diocese Meridional, com sede em Porto Alegre e da qual faz parte a Paróquia da Virgem Maria, de Caxias do Sul, também permite a ordenação de pessoas da comunidade LGBTQIA+. O sacramento do matrimônio, por exemplo, também é permitido a casais do mesmo sexo. “A Igreja Anglicana vem dialogando e buscando um acolhimento com as pessoas LGBTQIA+ desde a década de 1990 e anos após, as atividades foram se intensificando até que em 2018 foi aprovado no sínodo da 19° Provincial da IEAB o casamento igualitário e nossa Diocese Meridional foi a 1° do Brasil também assumir esta causa”, pontua Schroeder.
A Paróquia Anglicana da Virgem Maria está localizada na Rua Alfredo Chaves, nº 915, no Centro de Caxias do Sul.
Uma causa maior
O presbítero deixa claro que sua ordenação não é para levantar apenas uma bandeira, mas sim diversas pautas importantes. “É lutar pelo negro, pelos imigrantes, jovens, idosos, PCD´s e todos os excluídos e marginalizados. Este será o meu trabalho, acolher a todos e a todas, sem distinção”, afirma.
Por fim, ele ressalta sobre o projeto Anglicanxs, que acontece em Porto Alegre, Araranguá e Caxias do Sul. “É um espaço onde as pessoas LGBTQIA+ podem vir e encontrar um momento de espiritualidade, trocar ideias, conversar sobre a luz do Evangelho e da Bíblia como um todo. Através desta pastoral apoiamos várias entidades que trabalham com a exclusão”, finaliza.