Fluminense radicada em Garibaldi, a cantora compartilha suas vivências na área da música e as lutas para continuar no ramo

Tati Freitas, uma fluminense de Barra Mansa, interior do Rio de Janeiro, encontrou sua verdadeira identidade musical na Serra Gaúcha, onde vive atualmente, na cidade de Garibaldi. A história de Tati é repleta de paixão pela música e, principalmente, pela capacidade de reinvenção. Conhecida por sua trajetória com a banda Marauê, onde transitava pelo reggae e rodou o Brasil, Tati agora comanda seu próprio projeto, o contagiante “Balada da Tati”, que é sucesso na região.

Ela conta sobre seu primeiro contato com a música. “Fui da Igreja evangélica dos 12 até os 19 anos, onde montei minha primeira banda. A música gospel foi um berço para mim, onde aprendi muito”, lembra Tati.

Após esse início, ela se juntou à banda Marauê e, ao lado de seu ex-marido, viajou pelo Brasil, apresentando-se em grandes palcos, chegando até a participar de programas de TV como o “Caldeirão do Huck”. “No entanto, com a ascensão do sertanejo em 2009, a música alternativa enfrentou desafios, o que levou a banda a levar novos rumos. Quando o pai do meu marido ficou doente, a gente veio de mudança para o Rio Grande do Sul”, conta.

Tati partilha suas conquistas em entrevista ao Podcast Paradoxo

Foi nessa mudança que a vida de Tati passou por uma virada. Ao se separar, ela escolheu ficar na Serra Gaúcha, fascinada pela qualidade de vida que encontrou na região. “Aqui eu consigo dar para minha filha o que eu não teria no Rio de Janeiro. A segurança, a educação, a tranquilidade. Não tem comparação”, conta.

Garibaldi tornou-se seu lar, e foi onde ela trilhou sua carreira musical solo. “Comecei do zero, fui construindo meu trabalho aos pouquinhos em busca de quem eu era”, frisa.

Carreira solo

O projeto “Balada da Tati” nasceu dessa conexão pessoal. “Eu queria um show que tivesse um pouco de tudo, que não se limitasse a um único estilo”, explica Tati, que faz o público dançar do início ao fim, mesclando sertanejo, axé, funk, rock e até piseiro. “Eu tenho um carinho por esse projeto, que é muito acolhido por aqui”, ressalta.

Ela destaca como o povo da região é mais reservado e criterioso em relação a novas amizades e oportunidades, contrastando com a abertura e espontaneidade do carioca. “Para vocês se abrirem você precisa conhecer, depois é avaliado se pode ou não dar credibilidade. Para mim foi complicado, foi um processo longo de conquistar espaço no cenário musical local, começando com apresentações mais simples, voz e violão, até montar uma banda”, comenta.

No entanto, a jornada de Tati foi ainda mais desafiadora quando a pandemia chegou. Ela relata como foi difícil sustentar sua família apenas com o trabalho na música, que foi drasticamente afetado pelas restrições. “Tive que dar uns passinhos para trás. Os bares só aceitavam 50% do público e tínhamos que usar máscara”, relata.

Mesmo durante esse período, a música continuou sendo sua verdadeira paixão, ela voltou aos palcos assim que as restrições começaram a diminuir, mas para complementar a renda lançou o “Delícias da Tati”. “Minha mãe disse para eu começar a fazer bolos e doces para vender durante esse período. Fiz 15, saí para vender e em uma hora já tinha vendido tudo. Esse período todo fazendo os doces em plena pandemia foi o que me fez não passar necessidade”, conta emocionada.

Representatividade e cenário musical da região

Tati também reflete sobre o cenário musical para as mulheres, mencionando que, apesar de desafios ainda existirem, a presença feminina tem ganhado espaço e respeito, especialmente após figuras como Roberta Miranda, Marília Mendonça e outras artistas femininas que abriram caminho para novas vozes. “Estamos conseguindo ter cada vez mais espaço”, reforça.

Tati Freitas, artista que tem conquistado cada vez mais espaço com seu talento, não esconde o medo que sente em relação à longevidade de sua carreira. Ela compartilha sua preocupação, que ecoa entre muitas mulheres no mundo artístico: o medo de ser deixada de lado à medida que envelhece. “Eu fico pensando, com 50 e poucos anos, será que eles vão querer me ver cantando ainda? Eu tenho medo disso”, confessa.

Tati reconhece que, embora o cenário tenha mudado um pouco, ainda há um padrão que privilegia corpos jovens e esteticamente perfeitos. “A Ivete Sangalo, com seus 50 e poucos anos, está divina, mas isso não apaga o fato de que para as mulheres, o envelhecer ainda é visto de forma diferente. Para o homem, não”, comenta.

Apesar dessas preocupações, Tati vê uma evolução no que se refere à quebra de paradigmas de beleza e idade. Ela menciona como artistas como Maiara e Maraisa conseguiram romper barreiras, trazendo à tona que o talento e a conexão com o público são mais importantes que o físico. Ainda assim, a cantora reflete sobre seu medo. “Eu amo tanto o que eu faço que quero cantar até morrer. Então, a gente fica pensando, como vai ser lá na frente”, diz.

Créditos: Pricila Piccini

Além do etarismo, Tati aborda questões de autoestima e respeito, valores que leva para seus shows e para sua vida pessoal. Ela é uma defensora incansável de que todos, independente de aparência ou habilidade, devem se sentir livres para serem quem são. “No meu show, o que me deixa triste é ver gente rindo de outras pessoas que estão dançando. Isso me revolta, porque cada um deve ser livre para se expressar do seu jeito, sejam pessoas mais velhas ou acima do peso”, afirma com firmeza.

Essa postura reflete seu compromisso com o público, especialmente com as mulheres, que ela incentiva a se valorizarem. “Eu sempre falo: se ame! Não importa o que os outros pensem. Eu me olho no espelho e me amo assim como sou. E quero que as pessoas no meu show façam o mesmo: se olhem, se aceitem, dancem sem se preocupar com quem está olhando”, reitera.

Vida pessoal

Tati também compartilha sua visão sobre o amor e a autenticidade nas relações, revelando que atualmente vive uma relação amorosa com sua noiva, Rafa. Ela descreve o encontro como inesperado e transformador. Após 16 anos de casamento com um homem, Tati se permitiu viver um novo amor, mesmo enfrentando barreiras e preconceitos. “Minha história é minha, e eu vou vivê-la. A opção de amar quem eu amo não diminui ninguém. O amor, acredito, nunca será julgado por Deus”, destaca.

A artista, que preza pelo respeito e igualdade, encerra refletindo sobre a importância de viver uma vida autêntica. “Permita-se ser feliz. Se não está bem em uma relação, se permita mudar. A vida é uma passagem, e a gente deve vivê-la sendo verdadeiro consigo mesmo”, evidencia.

Confira a entrevista na íntegra: