O líder executivo realça a importância de trazer inovações que aumentem a capacidade e qualidade do hospital, destacando o trabalho que vem sendo feito com o Tacchimed
Natural de Porto Alegre e com mais de 30 anos de atuação na área da saúde, Hilton Roese Mancio trabalhou no Hospital Mãe de Deus por 11 anos, e também em uma clínica de diagnóstico na capital gaúcha. Em 2010, assumiu a posição de Superintendente Executivo do Hospital Tacchini, em Bento Gonçalves, onde tem se dedicado nos últimos 11 anos. Em entrevista, ele fala sobre as dificuldades, expectativas e projetos em andamento no hospital.
Hospital Tacchini
Localizado no coração de Bento Gonçalves, o Hospital Tacchini não é apenas uma instituição de saúde, mas um pilar fundamental da comunidade local. Fundado há quase um século, em setembro de 1924, pelo médico italiano Bartholomeu Tacchini, o hospital nasceu de uma missão humanitária: proporcionar cuidados médicos onde antes não havia acesso.
Movido pelo desejo de ajudar seus conterrâneos em dificuldades e diante da ausência de assistência médica na cidade, o Dr. Tacchini mobilizou recursos e ergueu o primeiro hospital local, um marco na história da saúde da região. Seu legado é lembrado até os dias de hoje, com sua sepultura posicionada em frente ao prédio histórico do hospital, um símbolo de sua dedicação.
Atualmente, o hospital atende toda a população de Bento Gonçalves e região, além de casos específicos de cidades do Estado inteiro. Com uma capacidade atual de 263 leitos, é possível ter acesso aos serviços de diversas formas: através do Sistema Único de Saúde (SUS), convênios médicos como o Tacchimed e o Ipe, além dos convênios parceiros e também por meio de atendimentos particulares.
Segundo o superintendente, uma parcela muito pequena da população brasileira compra serviços de forma particular. “Uma das formas de acesso é por meio de serviços particulares, que representam aproximadamente 3% do total de atendimentos nos hospitais brasileiros”, relata. A maior parte dos atendimentos em Bento Gonçalves é realizada através do SUS e dos convênios, onde o hospital desempenha um papel crucial como prestador de serviços.
Tacchimed
Mancio explica que ao adquirir o Tacchimed, é oferecido uma rede de prestadores de serviços, como o Tacchini, em Bento Gonçalves, o São Roque de Carlos Barbosa, o São Pedro de Garibaldi, entre outros. “Esses hospitais formam o conjunto onde os beneficiários do Tacchimed podem ser atendidos conforme o contrato estabelecido. Além deles, há outros serviços disponíveis para atender todas as necessidades de saúde dos clientes dentro dos termos do contrato. Em casos de necessidade, como ocorreu durante a pandemia, o Tacchimed garante que todos os seus beneficiários tenham acesso à assistência necessária. Em casos de lotação do Tacchini, se um beneficiário do Tacchimed precisar de internação, o plano de saúde se responsabiliza por encontrar um local adequado, podendo ser em hospitais de outras cidades como Caxias do Sul ou Porto Alegre. Durante a pandemia, todos os beneficiários do plano receberam 100% da assistência necessária, cumprindo com o compromisso da operadora de garantir o acesso à saúde para todos os seus clientes”, esclarece.
Em 2014, o mercado de saúde suplementar atingiu quase 51 milhões de vidas. Nos anos seguintes, até a pandemia houve uma redução que chegou a 47 milhões de vidas em 2019. Neste período, o Tacchimed não encolheu e manteve uma estabilidade, retomando o crescimento na sequencia, principalmente agora em 2024. “No Rio Grande do Sul aproximadamente 34% da população é coberta por algum tipo de plano de saúde”, conta.
Hoje, o Tacchimed voltou a ter um crescimento de forma constante, com o novo Medical Center que vai ampliar o leque de atendimentos voltados para o Tacchimediano. A intenção é fazer o plano crescer ainda mais. “É muito importante compreender que toda vez que o Tacchimed cresce, acelera o crescimento do Hospital Tacchini e ele consegue ser melhor para todos”, diz.
Hoje, é necessário pagar uma taxa de R$70 a cada consulta com o plano, o superintendente explica o motivo. “Desconheço operadora de plano de saúde que não tenha coparticipação na consulta médica ou nos exames na internação. E essa coparticipação existe porque é uma forma de tornar o plano de saúde acessível, se não existisse, possivelmente os planos custariam bem mais caros do que são oferecidos hoje no mercado, é uma realidade nacional”, argumenta.
Relação com o SUS e IPE Saúde
Assim como o Tacchimed possui essa rede para atender seus clientes, o mesmo ocorre com o SUS, que contrata o Tacchini para integrar sua rede nacional de prestadores de serviços. Mancio explica que o contrato estabelecido com o SUS oferece um número X de leitos e exames por mês, dentro da capacidade operacional do hospital. “Quando a capacidade chega em 100% e a UPA não consegue mandar mais pacientes para o Tacchini, que está com a estrutura do SUS totalmente ocupada, na mesma relação que o Tacchimed tem com seus beneficiários, o gestor público precisa achar a solução para o problema do SUS, porque esse agente da rede (o hospital), já utilizou toda a estrutura que podia oferecer, então é preciso achar outro lugar”, explica. Essa demanda nem sempre é contínua e igual em todos os meses, pois esses pacientes não se apresentam uma vez por dia, como explicado pelo superintendente, às vezes existem demandas que ocupam 100% da capacidade do hospital, então é necessário que a central de regulação do Estado encaminhe esses pacientes para o local mais próximo disponível.
Quando acontece a lotação máxima do hospital, o município de Bento Gonçalves tem a responsabilidade de usar essa estrutura da central de regulação para realocar esse paciente em outro lugar. O superintendente comenta que é importante destacar isso, porque muitas vezes, a população acha que o Tacchini não quer receber mais pacientes, quando na verdade, não é o caso, já que o hospital vem operando acima de sua capacidade nos últimos 60 dias. “Nós temos operado com 140% da capacidade instalada para o SUS. E como isso ocorre? O paciente que entra no pronto socorro fica esperando um leito, ou o paciente que faz uma cirurgia, precisa esperar na sala de recuperação até ter um leito disponível. Então em vez de ter 100% acabamos tendo um quantitativo maior porque continuamos tentando resolver o problema”, explica Mancio.
A relação com o IPE Saúde se encontra em uma situação mais delicada, segundo ele, a imposição das novas tabelas do plano, sem ouvir as partes envolvidas, fizeram com que o hospital perdesse um importante pilar de sustentabilidade econômica.“Anteriormente, havia um benefício histórico com relação aos medicamentos, que compensava os custos não cobertos pelas diárias de internação, custos como compras dos remédios, recebimento, armazenamento e dispensação. Por exemplo, uma diária custa 700 reais, mas os hospitais recebiam apenas 150 reais e essa diferença era coberta em parte pela margem de 38% sobre o preço de fábrica aplicada na tabela Brasíndice, que serve como um guia para estabelecer o valor a ser pago pelos planos de saúde aos prestadores de serviços”, explica. Com a mudança, as compensações cruzadas passaram a ser proibidas, desconsiderando todos os aspectos que Mancio menciona, o que pode fazer com que muitos hospitais deixem de atender o IPE Saúde.
Ampliação e inovação
Apesar dos desafios financeiros e das pressões operacionais, Mancio destaca o trabalho do conselho em ajudar no compromisso de proporcionar um crescimento sustentável para o hospital. “O nosso conselho de administração é formado por 29 empresários voluntários de Bento Gonçalves, que trabalham junto com a gente em diversas comissões, doando o seu tempo para ajudar o hospital a encontrar soluções e caminhos para continuar fazendo esse trabalho. Buscamos sempre o crescimento com muita responsabilidade, coerência e cuidado em tudo que fazemos”, relata.
Com investimentos recentes em infraestrutura, cerca de R$2.4 milhões foram aplicados em equipamentos instrumentais e uma série de recursos para os centros cirúrgicos, que era uma área com uma demanda maior. Além de outros investimentos que irão acontecer ao longo do ano em áreas como a de diagnóstico, UTI e uma série de outras funções.
O superintendente conta que o grande projeto, para o qual se prepararam ao longo de cinco anos, é a implementação do Medical Center, que iniciará suas operações em 2 de abril de 2025. “Um hospital-dia fará procedimentos que não requerem internação prolongada; o paciente pode realizar cirurgias ambulatoriais, se recuperar e retornar para casa no mesmo dia, com permanência máxima de 12 horas. Estamos montando essa estrutura no Medical Center, onde o centro diagnóstico incluirá recursos como ressonância magnética, tomografia, ecografia, mamografia, entre outros exames diagnósticos complexos”, explica.
O empreendimento é projetado para atender especificamente os beneficiários do Tacchimed e particulares, estratégia que abrirá espaço para a ampliação dos atendimentos do Tacchini. “Ao realocar uma parte dos atendimentos que normalmente ocorrem dentro do hospital, abrimos espaço para ampliar o atendimento a todos os outros convênios, melhorando assim nossa capacidade de atendimento para toda a população”, conta.
Além disso, o hospital já realiza coletas em laboratórios especificamente para beneficiários do Tacchimed e para pacientes particulares, o resultado deste trabalho ajuda a cobrir um déficit anual deixado pelo financiamento do SUS, segundo Mancio. “O financiamento deixa um déficit operacional anual, como vimos em 2023, quando recebemos 60 milhões e precisamos gastar 90, e esse déficit foi coberto por planos de saúde privados que atendemos”, afirma.
Uma série de serviços são compartilhados dentro do hospital, beneficiando não somente aqueles que têm convênios, mas também aqueles que são atendidos pelo SUS, o que não seria viável se o investimento viesse apenas dele. A estrutura que o hospital tem, em UTI Adultos com 30 leitos, no total, está entre os melhores do Brasil. “Hoje tem um quarto individual em cada um dos 13 leitos adultos destinados aos pacientes SUS, sem diferenciação, seguindo um modelo de assistência ao paciente que é o mais atualizado em termos tecnológicos hoje no país”, relata.
Projeções para o futuro
Olhando para o que está por vir, o Hospital Tacchini está comprometido em elevar ainda mais o padrão de cuidados médicos oferecidos. Em uma parceria com a Universidade do Vale do Taquari – Univates, a implantação de um curso de medicina em Bento Gonçalves já é realidade. Com todas as etapas de validação técnica concluídas, a universidade aguarda a aprovação do Ministro da Educação para dar início ao curso. Foram investidos aproximadamente 30 milhões no município para estabelecer uma infraestrutura educacional de ponta, segundo o superintendente. O projeto teve colaboração com a prefeitura, que também necessita de médicos para atender nas áreas públicas, como as UBSs, UPAs e especialidades médicas. Com o tempo, a expectativa é de que parte dos profissionais que se formarem poderão ser absorvidos por esses locais, melhorando o funcionamento da cidade.
A Univates não poupou esforços para estar em Bento Gonçalves, a estrutura de primeira qualidade inova ao trazer um laboratório de simulação realista com um robô, que será usado para formação dos alunos, em que tudo é filmado para fins educacionais, promovendo discussões de casos, debates e orientações estratégicas, o que enriquece a formação dos futuros médicos.
Hilton Mancio finaliza reforçando a parceria com a Univates. “Esta iniciativa visa não apenas desenvolver e reter conhecimento em um ambiente de alta especialização, mas também expandir nosso programa de residência médica e a implementação da residência multiprofissional. Estamos em um processo contínuo de expansão e crescimento, buscando soluções e ansiosos para o início imediato das atividades acadêmicas”, conclui.