O Rio Grande do Sul registrou, nesta semana, o primeiro óbito do ano pela doença no estado. Governo alerta sobre a importância da prevenção e proliferação do mosquito, já que a vacina não será disponibilizada em todo território nacional
A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou, no final do ano passado, os números de casos de dengue registrados no Brasil em 2023. Foram cerca de 2,9 milhões de casos confirmados, mais da metade dos 5 milhões registrados mundialmente. Os dados, referentes ao período de 1º de janeiro e 11 de dezembro de 2023, apontam que 80% dos casos foram notificados no continente americano. O Brasil aparece em primeiro lugar no ranking das Américas e também no mundial, seguido por Peru e México.
Especialistas consideram que a crise climática pela qual o planeta está passando, apresentando temperaturas extremas, pode ser um fator que possibilita a sobrevivência do mosquito transmissor da dengue, Aedes aegypti, em locais onde isso antes não ocorria.
No Rio Grande do Sul, no ano passado, foram notificados 73.514 casos de dengue, sendo confirmados 38.458, grande parte autóctones, ou seja, a pessoa foi contaminada no próprio estado. Desse total, 54 mortes pela doença foram confirmadas, distribuídas em 26 municípios, sendo uma em Bento Gonçalves. O maior número de óbitos no estado corresponde a pessoas com 80 anos ou mais.
Em Bento Gonçalves, das 387 notificações de dengue, 190 se confirmaram, com 182 casos autóctones. Os municípios de Farroupilha, Garibaldi, Monte Belo do Sul e Pinto Bandeira também registraram notificações e casos confirmados de dengue em 2023.
Situação preocupante
Conforme o painel da dengue, disponibilizado pela Secretaria Estadual da Saúde, até o fechamento desta edição, cerca de 5.163 possíveis casos foram notificados. Destes, 2.534 estão confirmados e 1.590 estão em investigação. Até o momento, 31 dos 497 municípios do Rio Grande do Sul apresentam status de “não infectado”.
O primeiro óbito por dengue de 2024, no Rio Grande do Sul, foi confirmado pelo Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), na segunda-feira, 5 de fevereiro. De acordo com as informações, a idosa de 71 anos residia em Tenente Portela, apresentava comorbidades e faleceu no dia 31 de janeiro.
Pelo menos 18 bairros da Capital Nacional do Vinho seguem com a presença de larvas do mosquito Aedes aegypti. O levantamento, feito pela Secretaria de Saúde do município, visa identificar possíveis pontos de proliferação do inseto na cidade. Para evitar a infestação de mosquitos, o Ministério da Saúde orienta que é necessário eliminar os criadouros, evitando disponibilizar locais que possam acumular água como vasos de plantas, pneus, lixo, caixas d’água, entre outros.
É importante manter esses locais limpos e livres de água acumulada, utilizando telas, capas ou tampas. Outras medidas de proteção contra picadas também devem ser adotadas, especialmente nas áreas de transmissão e durante o dia, já que essa espécie de mosquito costuma atacar nesse período. Em Bento Gonçalves, denúncias referentes a terrenos baldios ou sujos ou depósitos de lixo em vias públicas devem ser feitas pelo telefone 3055-7142.
A dengue é a infecção viral mais comum transmitida a humanos picados por mosquitos infectados. A doença ocorre principalmente em áreas urbanas, em locais com clima tropical e subtropical. Os principais sintomas são febre alta, dores no corpo, articulações e atrás dos olhos, mal estar, falta de apetite, dor de cabeça e manchas vermelhas no corpo.
É interessante também que a população esteja alerta em relação às diferenças entre o mosquito comum e o Aedes aegypti. O mosquito comum, conhecido também como pernilongo, tem a cor marrom, hábitos noturnos, seu voo é mais lento e barulhento e suas picadas deixam a pele irritada, com coceira e vermelhidão. Já o mosquito da dengue possui o corpo preto com listras brancas, é ágil e silencioso e sua picada não causa tanta coceira.
Para evitar o agravamento dos casos, a população deve buscar o serviço de saúde mais próximo ao apresentar os sintomas, já que cerca de 12 mil profissionais de saúde foram capacitados no último ano para manejo clínico, vigilância e controle da dengue.
Região não receberá vacina por enquanto
Devido aos altos números de pessoas infectadas todos os anos, além das mortes, o Ministério da Saúde incorporou a vacina contra a dengue ao Sistema Único de Saúde (SUS). O Brasil é o primeiro país a oferecer o imunizante no sistema público.
Batizada de Qdenga, inicialmente, a vacina não será disponibilizada em larga escala, pois o foco de distribuição serão as regiões e públicos prioritários, ou seja, locais com maior incidência da doença. Na próxima semana, as doses começarão a ser distribuídas aos 521 municípios selecionados pelo Ministério da Saúde, que compõem 37 regiões consideradas endêmicas. A organização das campanhas de vacinação ficará sob responsabilidade dos governos estaduais e municipais.
Para aqueles que estão fora do público prioritário, existe a possibilidade da aplicação das duas doses da vacina na rede particular e em farmácias, com o preço de aproximadamente R$ 400 cada dose.
Neste caso, é preciso ficar atento, já que há dois imunizantes distintos no mercado: a Qdenga e a Dengvaxia. A segunda opção, entretanto, é indicada somente para pessoas que já foram previamente infectadas pela dengue.
Segundo a ministra da Saúde, Nísia Trindade, a vacina contra a dengue é importante, porém, não é uma resposta imediata para o atual cenário da epidemia da doença no país, já que o intervalo entre as doses é de três meses.
O Instituto Butantan, maior produtor de vacinas e soros da América Latina, está na fase final de desenvolvimento de uma vacina contra a dengue. Assim como a Qdenga, o imunizante brasileiro também protege contra os quatro subtipos do vírus, porém, deverá ser administrado em apenas uma dose.
A previsão para que o Instituto entre com pedido de registro junto a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é para este ano ainda.