Traços que se desenvolvem sobre uma superfície, geralmente com o objetivo de representar algo ou se constituir como uma imagem, são considerados desenhos artísticos. Essa criação de figura representativa ou abstrata é usada como uma forma de expressão gráfica, possuindo um conceito que cada artista desenvolve em momentos de inspiração.
Amor por ensinar
O ilustrador e professor de desenho, Douglas Dias, 40 anos, se considera a criança que jamais parou de desenhar. Desde a fase do rabisco em que sua família lhe entregou lápis e caneta, jamais cogitou soltar esse instrumento, primeiramente como ludicidade e consequentemente como profissão. “Meus desenhos passaram por todas as fases da infância até a adulta. Hoje já não tenho mais desenhos de quando era pequeno, perdi todos em mudanças”, afirma.
A principal inspiração do artista sempre foi seu irmão, que o ensinou a desenhar e tinha um grande poder de síntese e observação. “Aqui em Bento, o amigo e artista Micael Biasin é uma grande inspiração também, um ser humano fantástico. Falando somente ao que tange às questões artísticas, gosto de trabalhos mais expressivos e de técnica mista como do Bill Sienkiewicz, Jason Shawn Alex, entre outros artistas que possuem domínio de uma série de qualidades importantes, como anatomia, perspectiva, composição, claro e escuro. Mas também amo os cartuns e sua forma sutil e minimalista de resolver questões estéticas, como do Skottie Young, Sean Galloway e Negreiros”, menciona.
No cotidiano, ele revela que depois de um tempo de profissão, muitos artistas passam a viver mais de hábitos do que de inspiração. “Mas os quadrinhos ainda são, para mim, uma grande catapulta ‘energética’. Cresci lendo e colecionando. Sou apaixonado por essa forma de narrativa e até hoje elas compõem boa parte da minha biblioteca”, conta.
Os materiais que Dias usa em suas produções variam desde a mesa digital e Photoshop à de desenho, lápis grafite, canetas nanquim, aquarela, carvão, entre outros. “Gosto de experimentar traços diferentes. Cada história ou ilustração, comunica melhor para um público, assim, exigindo uma variabilidade técnica melhor para alcançar êxito e precisão”, salienta.
Atualmente, o ilustrador dá aulas de três formas estéticas diferentes, sendo elas: desenho cartum, mangá e figura humana. “No entanto, minhas predileções são a anatomia e o poder de síntese do cartum. Finalizo muito com hachuras e um aspecto mais rabiscado, veloz, expondo parte do processo do desenho, do esboço. Porém, cada projeto nos exige uma demanda específica”, ressalta.
Sua trajetória
Além da veia artística, o ensino também passou a estar presente em sua vida. Iniciou como professor logo após se mudar para Bento Gonçalves, por volta de 2009, onde atuou na Fundação Casa das Artes e no extinto CIAC (Centro Integrado de Artes Cênicas) do artista Moacir Corrêa. “Ao passar essas experiências, parei de ensinar e fui me dedicando ao trabalho de ilustração. Durante esse período, aconteciam oficinas esporádicas em ONGs, escolas, faculdades até por volta de 2017, onde voltei a dar aulas na Fundação Casa das Artes, Praça CEU e na Escola de Arte Micael Biasin. Recentemente, passei a atuar na Mix de Garibaldi”, sublinha.
Ele revela que gosta de ensinar por sua paciência e timidez, características de quase todo artista visual, que podem facilitar no exercício da didática. “Na minha humilde criação, não podia pagar por um ensino artístico técnico. Aprendi grande parte da jornada por tentativa e erro, isso leva o dobro de tempo. Fazer a ponte de saberes hoje é gratificante. Uma forma respeitosa e lúdica de mostrar ao aluno que ele é amplamente capaz de aprender a desenhar se tiver interesse, constância e calma”, valoriza.
De acordo com Dias, o futuro do desenho através dos artistas que estão surgindo é inspirador. “Hoje em dia, há muito mais acesso a canais de comunicação, informação e conhecimento. Com toda essa facilidade, aliada a novas tecnologias disponíveis, o pessoal vem demonstrando um domínio estupendo. Tendo mais artistas, haverá mais arte e quanto mais arte melhor para a sociedade. Dos gregos, passando pela renascença até os dias atuais, nós podemos compreender que as sociedades mais notáveis eram, também, as que melhor suportavam uma grande profusão artística”, informa.
Mediante as características tipicamente culturais, ele explica que Bento Gonçalves sempre se manteve mais tímida referente ao desenho. “No entanto, vem crescendo muito devido às políticas de investimento artístico-culturais como os ocorridos na Casa das Artes e a grande imigração de outras culturas e visões de mundo que se colidem e renovam elevando o construto social”, pondera. Mesmo assim, ele destaca que há espaço para mais reconhecimento. “Gostaria de ver as livrarias da cidade mais envolvidas em ações artísticas e intelectuais, novos ambientes e mais medidas de políticas públicas e privadas que valorizem o pensamento e expressão artística”, completa.
O professor ressalta sobre a importância de pais e responsáveis ficarem mais atentos e permissivos aos espaços de afazer artístico dos filhos, especialmente em um mundo excessivamente rodeado de telas luminosas. “O ser humano necessita estimular o pensamento e suas percepções, a arte é um ótimo meio para tal. Além disso, ela afina nossa imaginação, estimula o pensamento abstrato, as linguagens, nos ajuda com os processos psíquicos, estressantes, como maneira comunicante de mundo”, finaliza.
Mãos talentosas
O pequeno Augusto Milani, 10 anos, é um exemplo de amor pelo desenho artístico que, desde os três, começou a rabiscar na pré-escola. “Todo mundo falava que eu desenhava bem, então fui me animando. Me sinto feliz quando crio algo, é um universo bem diferente para mim. A sensação é de que posso desenhar qualquer coisa quando estou com a caneta na mão”, declara.
O estilo que ele mais gosta é o cartum, desenho humorístico que tem como característica a crítica, de maneira breve, dos momentos que abrangem o dia a dia de uma sociedade. “É bem simples, com formas geométricas. Eu sonho em ser um cartunista muito famoso. Pesquiso e leio sobre todos os artistas que conheço, como Maurício de Sousa, Bill Watterson, Charles M. Schulz e Quino”, diz.
Na escola, o menino conta que todos dizem que ele é o melhor desenhista da classe, e isso o deixa animado por conta dos elogios e da popularidade. “Na hora de fazer os trabalhos, por exemplo, não preciso nem levar as imagens, desenho tudo na hora. Apenas um detalhe: não curto muito colorir meus desenhos”, frisa. Em casa, Milani acaba tendo mais disciplina, concentração, e autocrítica, o que também o deixa muito mais rigoroso à respeito de suas artes.
Além disso, o pequeno artista gosta muito de ler e possui vários livros de quadrinhos, que servem de inspiração para suas criações. As aulas de desenho com o professor Douglas Dias, também o incentivam a continuar e a sempre aprender novos traços e estilos de ilustração. “Sempre comento com meus colegas e amigos como é bom ler e os convido a fazer aulas, pois eu amo ler e desenhar. Esse é o meu universo”, conclui.
Fotos: Cláudia Debona