Na tarde de quarta-feira, 28 de setembro, o Dall’Onder Vittoria Hotel foi o local de um evento do Instituto Tacchini de Pesquisa em Saúde (ITPS) para apresentação dos resultados do projeto de estudos “Fatores de risco para câncer na região”. Na oportunidade, os destaques gerais foram mostrados em vídeo, por meio de fala de Juliana Giacomazzi, do ITPS e da Pesquisa em Saúde e Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
O estudo, que aguarda apreciação técnica para publicação em jornal científico internacional e foi fomentado por doações e participação de diversas empresas da região, contou com 15 profissionais de pesquisa em saúde do Tacchini, da UFRGS e do Centro de Pesquisas do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Conforme Juliana, esse é um dos cinco projetos de responsabilidade social do ITPS. “São voltados à nossa comunidade local e focados, principalmente, na prevenção primária ou secundária de doenças frequentes na nossa região, como o câncer”, explica.
A pesquisadora esclarece que estudo da Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC) da Organização Mundial de Saúde (OMS) expõe que até 2040 haverá um aumento de 76,5% na incidência de câncer, e de 91,2% nas mortes devido à doença. “Grandes estudos têm reforçado a tese de que fatores de risco metabólicos e hábitos e costumes, que são modificáveis, têm impacto direto nesses números. Então o manejo e a diminuição da exposição a eles impactarão diretamente na redução das taxas”, sintetiza.
O projeto em questão trata de dados da região da Serra Gaúcha, que conforme a biomédica, tem apresentado uma curva ascendente no diagnóstico de câncer nos últimos 15 anos. “Temos visto isso pelo nosso registro hospitalar desde 2005, esse crescimento acompanha o nível nacional. Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) de 2020 apontam que o Rio Grande do Sul é o segundo estado com maior incidência da doença entre homens e o terceiro entre mulheres”, menciona.
Além disso, a profissional do Tacchini ressalta que 50% das mortes por câncer poderiam ser evitadas pelo manejo de algumas condições que agravam a possibilidade de desenvolvimento do problema, por isso, o primeiro objetivo do projeto foi analisar frequência de fatores de risco consolidados para a doença. “Como consumo excessivo de álcool, tabagismo, utilização de pesticidas, agrotóxicos, colas e solventes, sobrepeso e obesidade, uso de reposição hormonal, uso de contraceptivo, menarca precoce, menopausa tardia, ausência de prática de atividade física e história familiar de câncer em primeiro ou segundo grau”, exemplifica.
O segundo objetivo, de acordo com Juliana, foi avaliar a importância e o peso da genética na incidência do câncer na região. “Para isso, foi analisado um painel de 26 genes importantes que estão associados à predisposição hereditária, de uma gama de tumores em pessoas diagnosticadas com câncer de mama e de intestino com menos de 50 anos”, resume.
Para ela, segundo os resultados do estudo, o manejo de fatores de risco para câncer é a chave de tudo. “Isso deve estar associado à prevenção, que é realizar exames preventivos de rotina, e atentar para casos de câncer na família, principalmente quando ocorrerem em idade jovem e sinalizar a equipe médica e de enfermagem para orientações e encaminhamento para consulta de aconselhamento genético. Se cada um de nós nos conscientizarmos, estaremos no caminho certo e unindo forças, modificaremos os índices alarmantes na nossa região”, conclui.
Além de Juliana, outros especialistas em saúde participaram de uma discussão sobre os resultados dos estudos em uma mesa redonda, como Roberta Pozza, do ITPS e da Universidade do Vale do Taquari (Univates); por videoconferência, Patrícia Zieglemann, do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia e Departamento de Estatística da UFRGS; Fernando Obst, do Instituto do Câncer do Hospital Tacchini, Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e Oncoclínicas; André Reiriz, do ITPS e Hospital Geral da Fundação Universidade de Caxias do Sul; por videoconferência, Fábio Franke, do ITPS, ONCOSITE e Hospital Moinhos de Vento; também online, Patrícia Prolla, diretora de Pesquisa do HCPA, Departamento de Genética e Programas de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular e Medicina da UFRGS; virtualmente, José Roberto Goldim, da Gestão do Serviço de Bioética do HCPA, Programa de Pós-Graduação em Medicina da UFRGS e Faculdade de Medicina da PUCRS, além do mediador do evento, Stephen Stefens, da International Society of Pharmacoeconomics and Outcome Research.
Resultados do projeto, segundo Juliana Giacomazzi
De 2.014 pessoas, 1.007 casos e 1.007 controles foram pareados por sexo e faixa etária para as análises estatísticas que foram realizadas em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia e o Departamento de Pós-Graduação Estatística da URGS.
Conforme a pesquisadora, tanto os casos quanto os controles foram provenientes de municípios da região atendida pelo Hospital Tacchini. Dentre eles, 906 eram homens e 1.108 eram mulheres de diferentes faixas etárias.
Entre os casos, os tumores mais comumente diagnosticados e que representam os mais frequentes na Serra Gaúcha foram: 311 de câncer de mama, 147 de colorretal (intestino), 132 de próstata, 89 de pulmão e 328 de outros tipos.
Foto: Thamires Bispo