Edivan Woithoski e Cláudia Marchioro dos Santos contam um pouco sobre suas profissões
Além da responsabilidade de compartilhar o conhecimento e cultivar em cada aluno a semente transformadora da educação, professores e toda rede educacional também fazem parte da formação ética, cidadã e profissional das pessoas. Ou seja, todo conhecimento compartilhado pode dar outros rumos ao futuro da sociedade.
O docente do Senac Bento Gonçalves, Edivan Woithoski, 35 anos, trabalha com turmas de técnicas de culinária profissional, mas já passou pelas turmas de cozinheiro, confeiteiro e padeiro. Graduado em Gastronomia, tem uma pós graduação em gestão de custos aplicadas a gastronomia.
Seu interesse pela gastronomia surgiu aos 15 anos, quando frequentava uma instituição de ensino de apoio às pessoas com deficiência visual, a ADV-BG, que tinha como premissa dar autonomia para que os participantes alcançassem sucesso nas atividades diárias, como passar roupa, cozinhar, entre outras. “Essa entidade fazia com que conseguíssemos realizar essas tarefas. Aí comecei a desenvolver o gosto pela gastronomia, querer descobrir e fazer mais pratos, além do macarrão com salsicha, que foi um dos primeiros que aprendi a fazer lá”, conta.
Woithoski vem de uma família segundo ele, humilde. Seus pais nunca tiveram condições de lhe pagar um curso fora da cidade. Em 2004, quando completou 16 anos, já tinha idade permitida para participar o primeiro curso de gastronomia do Senac, onde conseguiu êxito na busca por novos ingredientes e receitas. “Depois fiz confeitaria, panificação e não parei mais”, revela.
Aos 19, foi convidado pelo Senac para compor o time de docentes. “É algo que me deixou muito feliz e lisonjeado, desde então, venho atuando na área junto a instituição”, menciona.
O ramo da hotelaria surgiu em sua vida pouco depois, sendo chef de cozinha e se superando cada vez mais com auxílio de sua graduação e pós. “Com o conhecimento em gestão de custos aplicadas à gastronomia, consigo prestar assessoria à restaurantes e hotéis, fazendo com que tenha mais resultados financeiros, além de estar ajudando outras empresas a sobreviver atualmente em nosso município, com todos os desafios que a pandemia também trouxe”, afirma.
Foto: Arquivo Pessoal
Ser professor é desafiador, por que cabe a ele passar conhecimento, amor, paixão e dedicação. Segundo Woithoski, a ideia não é só que o aluno aprenda. “Hoje o conhecimento é muito difundido, ele está nas redes socias, nas plataformas digitais, você compra o conhecimento com uma facilidade, em casa. Claro que quando comecei, há 16 anos, não era tão fácil assim. O grande desafio de ser professor é conquistar o aluno e passar para ele o mesmo amor que você tem pelo que você ensina. Hoje na nossa área, um dos grandes desafios é mostrar para o aluno que está iniciando sua vida e formação, que a profissão não é todo esse glamour que a mídia divulga, pois ela acaba passando uma informação muito distorcida da gastronomia, que é muito bonita, estrelada, mas é muito trabalho e horas exaustivas”, realça.
De acordo com o cozinheiro, a profissão tem tomado um rumo diferente, está muito midiática e instagramável. “Os alunos chegam, às vezes, com essa percepção de que vai ser tudo limpinho, lindo e maravilhoso. Temos que mostrar que é algo desafiador e cada dia nos proporciona muitos aprendizados”, explica.
Na vida pessoal, seu maior desafio foi mostrar para as pessoas que, mesmo com sua limitação visual, conseguia fazer um bom trabalho. Além de outros aspectos de uma época que ainda não existia o curso de gastronomia. “Há quase 20 anos, os homens que queriam ser cozinheiros não eram vistos com bons olhos pela comunidade de Bento, pois era considerado um hobbie e cozinhar ainda se entendia como uma profissão muito feminina. As graduações surgiram há pouco tempo, então tive que barrar esse preconceito para garantir a aceitação dos empresários locais para me daram oportunidade de mostrar meu trabalho”, lembra.
Eterno apaixonado pela docência e pela gastronomia, Woithoski revela ser privilegiado por ter sido escolhido para passar o conhecimento. “Ser professor não é só uma escolha, é um dom, tem que ter um preparo e se sentir convidado. Adoro os meus alunos, me sinto muito feliz em poder contribuir um pouco na formação de cada um deles, poder compartilhar todo o conhecimento e bagagem que eu venho adquirindo ao longo da minha vida profissional”, finaliza.
O ato de ensinar música
A professora de musicalização infantil e regente, Cláudia Marchioro dos Santos, 28 anos, descobriu seu amor pela música quando era criança, após iniciar aulas de coral. Ao longo dos anos permaneceu no meio artístico, foi ganhando mais conhecimento e interesse em compartilhar tudo o que sabia. Em 2014, essa paixão pode ir para outro nível, com a aprovação no curso de Música da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
Desde 2015, atua em escolas infantis da cidade, após uma grande procura das instituições por professores de música focados em aulas para crianças. “Não haviam profissionais nesta área e ainda não se vê muitos, pois é algo muito desafiador. Requer bastante estudo fora da sala de aula, estar sempre se aperfeiçoando e buscando recursos pedagógicos, pois a cada ano há novas tecnologias e instrumentos musicais que auxiliam no desenvolvimento das crianças”, conta.
Seu trabalho com bebês, a partir de oito meses, favorece o desenvolvimento da sensibilidade e da razão, colabora com a comunicação, a expressão corporal e socialização, estimula a concentração e a memória, além de ser uma ótima forma para os alunos brincarem e se divertirem. Para Cláudia, os anos iniciais são os mais importantes para aprender música. “Tendo a musicalização desde bebê, a fala, a parte motora e neurológica serão mais bem evoluídas, além de a criança crescer com maiores chances de aprendizagem, leitura e escrita”, frisa.
Em suas aulas de musicalização infantil, Cláudia procura resgatar as músicas do folclore brasileiro, como ‘Borboletinha’, ‘Alecrim Dourado’, ‘Dona Aranha’, entre outras. “Parece que os pais esqueceram que elas existem, então canto com as crianças. Além de trabalhar com ritmos e parâmetros do som”, diz.
A turma de adolescentes e crianças da Associação de Deficientes Físicos de Bento Gonçalves (ADEF), deixa Cláudia orgulhosa. A professora teve a oportunidade de trabalhar com eles por seis anos e, em 2020, as aulas foram suspensas por causa da pandemia. “A musicalização é como um complemento para ajudar os alunos que estão na instituição fazendo reabilitação, que quando iniciei, eram muito tímidos e retraídos. Eles vêm de uma sociedade que tem muito preconceito com pessoas com deficiência, então tinham na cabeça que não conseguiriam fazer nada sem seus pais por perto”, recorda.
Com as aulas, Cláudia conseguiu dar mais independência e comunicação a eles, mantendo os responsáveis participando do clube de mães na sala ao lado. “Com isso, meus alunos se desenvolveram mais socialmente e aprenderam a tocar instrumentos musicais”, sublinha.
Com o passar do tempo, a educadora viu que eles precisavam de algo a mais. “Coloquei um repertório, e, para minha surpresa, conseguimos fazer uma apresentação com cinco músicas. Eles deram um show nas pessoas sem necessidade especial e mostraram que são capazes de muita coisa”, realça.
De acordo com Cláudia, o maior desafio é não desistir. “Existe muito preconceito com as pessoas que trabalham na área da música, apesar de eu ser formada, o que é uma grande conquista profissional, ainda me perguntam: “Tu trabalha? Mas trabalha com o que além da música?”, lamenta.
Seu maior orgulho durante os tantos anos como professora, foi o aluno da ADEF, Felipe, que iniciou as aulas sem falar e a música o ajudou a se desenvolver. “Desde a última vez que o vi, ele conversa e interage com as pessoas, além de estar procurando um emprego”, finaliza.
Foto: Cláudia Debona