Infectologista Viviane Raquel Buffon explica um pouco mais sobre a doença
A hepatite designa qualquer inflamação do fígado por causas diversas, sendo as mais frequentes as infecções pelos vírus tipo A, B e C e o abuso do consumo de álcool ou outras substâncias tóxicas (como alguns remédios). Na maioria dos casos, ela é causada por uma infecção viral e existem diferentes vírus reconhecidos como agentes causadores da doença.
No entanto, um tipo de hepatite aguda de origem desconhecida está atingindo crianças em diversos países. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), até o dia 26 de maio, haviam 650 casos prováveis de hepatite misteriosa em 33 nações. No entanto, nenhum caso ainda foi confirmado no mundo.
Em solo brasileiro, o Ministério da Saúde confirmou, no dia 28 de maio, o primeiro caso provável de hepatite aguda grave de etiologia desconhecida no município de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul. O adolescente de 16 anos apresentou febre, náuseas, mal-estar e pele com tonalidade amarelada, que são sintomas da doença.
Segundo a pasta pública, até terça-feira, 31 de maio, foram 95 notificações no Brasil. Além do caso provável, 27 foram descartados e 68 permanecem em investigação. Dentre os estados que mais possuem casos em análise estão São Paulo (16); Minas Gerais (9); Pernambuco (7) e Rio de Janeiro (7). No Rio Grande do Sul, são cinco suspeitos.
Para o diagnóstico da hepatite de causa desconhecida, o ministério adota protocolos que elencam três estágios para as notificações: no primeiro, o caso é colocado como “suspeito”; no estágio “provável”, o quadro clínico é compatível com a doença, porém não tem confirmação laboratorial; e “confirmado” quando exames laboratoriais atestam a doença.
O que seria a hepatite misteriosa?
Diante desse cenário, a reportagem do Jornal Semanário entrevistou a médica infectologista do Hospital Geral, Viviane Raquel Buffon, para esclarecer dúvidas do que se trata a doença.
Segundo ela, a síndrome clínica da hepatite aguda misteriosa se apresenta com enzimas hepáticas acentuadamente elevadas e pode apresentar sintomas gastrointestinais, como diarreia ou vômito, febre e dores musculares. “A principal característica é a icterícia – uma coloração amarelada da pele e dos olhos – além do aumento dos níveis de enzimas hepáticas – aspartato transaminase (AST) ou alanina aminotransaminase (ALT) acima de 500 UI/L”, explica. Conforme Viviane, a hepatite desconhecida pode evoluir de forma mais grave, necessitando de transplante hepático. As idades dos casos variam entre 1 mês e 16 anos.
Ainda de acordo com a profissional, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos estão investigando os casos e a principal hipótese é de infecção por Adenovírus, pois esse vírus foi encontrado em quase todos os pacientes investigados. “Os adenovírus são uma importante causa de doenças febris em crianças pequenas. Eles estão mais frequentemente associados a síndromes do trato respiratório superior, como faringite ou coriza, mas também podem causar pneumonia. Menos comumente, eles causam doenças gastrointestinais, oftalmológicas, geniturinárias, neurológicas e disseminadas. A maioria das doenças por adenovírus é autolimitada, embora infecções fatais possam ocorrer em hospedeiros imunocomprometidos e ocasionalmente em crianças e adultos saudáveis”, elucida.
Como ela se diferencia das demais hepatites?
Com relação a diferenciação das hepatites já conhecidas, Viviane relata que não há forma de identificação, por critérios clínicos. “A suspeita deve ser investigada por meio de exames laboratoriais, descartando as causas mais frequentes inicialmente”, aponta.
Viviane aponta ainda que as demais hepatites A e B, podem ser evitadas por meio de vacinação e cuidados gerais com alimentação, no que tange ao subtipo A. Em relação à hepatite C, a decorrência depende do histórico familiar para o planejamento e cuidados. Não há vacina disponível para prevenção.
Ao apresentar sintomas, a médica salienta a importância de buscar atendimento médico. “Para que os cuidados e investigação adequada sejam feitas”, enfatiza.