Nascida em 23 de outubro de 1921, Giusephina tem uma história de vida marcada por muita batalha e amor
Giusephina Bevilácqua Todeschini, carrega uma bela e longa trajetória de vida. No último sábado, 23, dona Pina, como carinhosamente é conhecida, completou nada menos do que 100 anos de existência. Saudável, lúcida, com opinião formada e muito vaidosa, ela é motivo de orgulho para os familiares e amigos.
Nascida em 23 de outubro de 1921, em Nova Bassano, a primeira filha de João Bevilácqua e Regina Andolfatto, dona Pina cresceu na roça, com os pais, ajudando a cuidar dos onze irmãos mais novos e dos afazeres de casa, incluindo a plantação e cuidado com os animais.
Quando atingiu a idade escolar, começou a frequentar uma escola da cidade, indo e voltando para casa todos os dias. Aos 15 anos, também ingressou em uma escola de pintura, pois o pai achava que ela deveria aproveitar o talento que tinha. Nesta época, também aprendeu sobre corte e costura, pois tinha o desejo de fazer roupas para as irmãs.
Contudo, não parou por aí, Giusephina se interessou pela culinária. Foi assim que aprendeu a fazer doces. O “mandolate” de mel e amendoim tornaram-se a especialidade dela. “Todos adoravam”, conta uma das filhas, Laci Todeschini. Com espírito empreendedor, acompanhada da mãe, levavam o famoso doce para vender nas saídas das missas, aos domingos, ajudando assim, na composição da renda familiar.
Aos 20 anos, ainda solteira, o que na época não era tão comum para a idade, já que as moças costumavam casar muito novas, conheceu Arthur José Todeschini, natural de Veranópolis, mas que estava trabalhando em Nova Bassano.
O jovem, de 27 anos, pediu ao futuro sogro para casar-se com Giusephina. No entanto, foi neste momento que a família soube que a filha desejava tornar-se freira. “A nona e o nono acharam melhor ela casar e constituir família. Assim, para não os enfrentar, em pouco tempo, eles se casaram, em uma cerimônia simples na igreja e no cartório”, conta a filha.
A vida em Bento Gonçalves
Não muito tempo depois do casamento, o marido foi contratado para trabalhar no Batalhão de Bento Gonçalves. Por esse motivo, o casal deu início a uma nova vida, na Capital Nacional do Vinho.
Em 1943, aos 22 anos, Giusephina engravidou da primeira filha. Ao final da gravidez, voltou para a cidade natal, para que a mãe, parteira, ajudasse naquele momento. Contudo, neste mesmo período, Arthur sofreu um acidente e ficou quarenta dias hospitalizado. Como a comunicação era difícil e demorada, a esposa não ficou sabendo, mas aguardava ansiosamente que ele fosse conhecer a filha recém nascida. “Ela não entendia porquê da demora. Quando ele apareceu e contou o ocorrido, desfez a mágoa extrema”, afirma Laci.
Casa Todeschini
Ao voltar para Bento, residiram temporariamente em uma casa alugada. Depois, uma cunhada, convidou o casal para morar no “Casarão”, conhecido hoje como Casa Todeschini. Neste local, Giusephina pode trabalhar com costura e cuidar da própria horta. Também foi nesta casa que nasceu o segundo filho. “Ali eles ficaram um tempo bem feliz da vida”, garante Laci.
A Casa Todeschini foi construída por imigrantes italianos em 1980. A propriedade pertence à família Todeschini desde a construção. Hoje, no local, aberto para visitação, é possível conhecer a história da Serra Gaúcha, a arte e poesia da região, além de realizar eventos.
Raízes em Nova Prata
Novamente, por oportunidades profissionais, o casal precisou mudar de cidade. Desta vez, foram morar em Nova Prata. Na nova cidade, começaram a nova vida residindo em uma casa alugada, mas não muito depois, compraram um terreno e construíram uma casa, onde Giusephina criou raízes e reside até os dias de hoje.
Mulher forte
A filha Laci descreve Pina como uma mulher guerreira, que trabalhava com muito empenho em tudo que se propunha a fazer. “Em Nova Prata, a mãe pediu para ajudar um alfaiate para aprender a fazer ternos e acabou trabalhando bastante tempo para ele”, afirma.
Ao longo dos anos, Giusephina teve mais três filhos. São quatro mulheres e um homem: Lourdes, Nelson, Liria, Gertrudes Todeschini e Laci Todeschini.
Entre cuidar da família, da casa e trabalhar, Pina também se dedicava a religiosidade e lazer. “Todo domingo ela ia na missa, também ia com a turma para algum passeio, com todos arrumados e limpos para visitar algum lugar”, conta.
Depois que todos os filhos se tornaram adultos e constituíram as próprias famílias, Pina sempre participou ativamente da vida de todos, visitando sempre que possível. Giusephina ficou viúva aos 55 anos. Hoje, aos 100, o saldo de uma vida com marcas de muito trabalho, mas muito amor é este: cinco filhos, cinco netos e cinco bisnetos.
Comemoração de dez décadas de vida
Giusephina, impressiona. Aos 100 anos, a filha Laci conta que ela ainda é lúcida e muito independente, dentro das possibilidades. “Tem aposentadoria e autonomia, cozinha, lava roupa, limpa a casa. Nestes últimos trinta dias tem admitido que aceita uma companhia parte do dia e até aceita que ajudem um pouco, pois até então, isso era inaceitável”, afirma.
Chegar nesta idade, desta forma é motivo de comemoração. Por isso, a família e amigos fizeram questão de realizar uma cerimônia intima para que a data não passasse em branco. O local escolhido foi a Casa Todeschini. “Por motivos de carinho e por ser um lugar de memórias deliciosas para reviver. Bento Gonçalves é a segunda terra natal de toda família”, garante.