Em períodos como o que o Brasil vive atualmente, em que preços de alimentos, gasolina, gás de cozinha, aluguel, entre outras necessidades básicas estão com valores elevados, nota-se a necessidade de ter um dinheiro separado para evitar a inadimplência
Nesta sexta-feira, 8 de outubro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que a inflação calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerada a inflação oficial do país, acelerou de 0,87% em agosto para 1,16% em setembro. O órgão federal destacou que essa foi a maior taxa para meses de setembro desde 1994, início do Plano Real quando o índice foi de 1,53%.
Em períodos como o que o Brasil vive atualmente, em que preços de alimentos, gasolina, gás de cozinha, aluguel, entre outras necessidades básicas estão com valores elevados, nota-se a necessidade de ter um dinheiro separado para evitar a inadimplência. Para isso, criar uma reserva de emergência pode ser a opção ideal. Segundo o coordenador dos cursos superiores de Administração, Ciências Contábeis, Processos Gerencias e Gestão Financeira da Faculdade de Tecnologia (Ftec), Mauro Andreolla Dal Pizzol, o método consiste em um valor financeiro que cada pessoa deveria ter para as situações inesperadas, sejam elas: urgências médicas, uma demissão, um sinistro ou similar. “É importante destacar que esse recurso deve estar disponível a qualquer momento e que seja de fácil acesso”, afirma.
Dal Pizzol explica que a importância é muita, pelo fato da pessoa que reservou o valor poder usar um dinheiro que é dela e foi planejado para situações inesperadas. “É diferente de definir um valor para investir em algum tipo de aplicação. Quando não temos recursos e precisamos buscar um empréstimo bancário para situações inesperadas, estaremos pagando juros e fazendo mais uma dívida, ou seja, é a pior das soluções”, salienta.
Como começar?
Falar em reservar uma quantidade significativa de dinheiro pode parecer estar fora da realidade da maioria da população. Porém, há como começar. “O primeiro passo está em uma mudança de comportamento, pois somente se agirmos de forma diferente do que fizemos, iniciaremos a nossa reserva de emergência. Para isso, mesmo que existam orientações de quanto devemos ter ou um percentual de quanto devemos economizar dos nossos ganhos, acredito muito que não devemos definir um valor que não cabe no nosso orçamento, mas sim, criar o hábito de guardar. Pode ser pouco, mas que seja sempre”, recomenda.
Dal Pizzol explica, ainda, que existem diferentes locais para reservar o dinheiro. “O mais conhecido são as instituições financeiras bancárias, mas também existem as instituições não bancárias, como por exemplo, as empresas de aluguel. Além destas, pode-se falar do Tesouro Selic, onde quem emite os títulos do Tesouro é o governo federal, ou seja, o risco de o investidor não receber o dinheiro aplicado é o perigo de o país quebrar. Porém, o mais importante é conhecer o seu perfil e reservar o dinheiro em um local que lhe traga segurança, avaliar quanto de risco está disposto a correr, e tornar isso um hábito de vida”, sugere.
Para utilizar o dinheiro guardado, deve-se considerar uma real situação de emergência. “Utilizar a nossa reserva paga pagar uma conta que está prevista no orçamento não é o recomendado”, pontua.
O docente da Ftec pontua que estudos dizem que o valor deve ser o montante de seis meses de gastos que cada pessoa possui. “Se tenho R$ 1.000 de gastos mensais, o valor da minha reserva de emergência deveria ser de R$ 6.000. Falar isso acaba assustando um pouco as pessoas, afinal, não é fácil conseguir separar uma parte do que ganhamos se não estamos acostumados a fazer isso. Vou reforçar o que penso: devemos criar o hábito de guardar sempre, pode ser pouco, mas que seja sempre” frisa.
Custo de vida maior requer mais planejamento
O professor de Economia do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), Pedro Henrique Campetti, sugere que em tempos de escalonada nos preços, no curto prazo pode ocorrer um aumento no custo de vida, mas a renda continuar a mesma. “Ter uma reserva financeira contribui muito para evitarmos fazer dívida e pagar juros em razão de estarmos gastando mais que nossa renda”, exemplifica.
Quem já está com endividamento, porém, deve quitar as dívidas antes de começar a guardar dinheiro. “Normalmente o custo da dívida com juros é maior que o ganho financeiro que temos aplicando o dinheiro da reserva financeira. Apesar disso, alguns casos como financiamento imobiliário possuem outra perspectiva: se possível podemos ir pagando as prestações mensais ao mesmo tempo que buscamos criar essa reserva”, explica.
O professor do IFRS esclarece também que reserva de emergência é apenas um termo, pois o ideal é sempre ter algo guardado para eventualidades, problemas de saúde, dificuldades financeiras, entre outros contrariedades que podem surgir repentinamente. “Podemos nos organizar financeiramente de várias formas, conforme nossos objetivos. Sempre se sugere que façamos uma reserva de ao menos 10% da nossa renda mensal. Esse valor pode ser separado em parte para uma reserva de emergência. Nesse caso, normalmente deixamos em aplicações com alta liquidez, termo que significa que podemos sacar o dinheiro com rapidez, e outra parte podemos usar para outros fins e nominar como preferirmos: ‘realização de um sonho’, ‘abrir nosso próprio negócio’, ‘reserva aposentadoria’. O que muda é a estratégia de gerenciamento desses recursos em cada caso”, realça Campetti.
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