Segundo médico, trata-se de um sintoma que coexiste com condições psiquiátricas, neurológicas ou clínicas
Após o início da pandemia, com todas as restrições impostas e atipicidades do momento, pessoas de todo o mundo também começaram a ter reações adversas frente ao problema. A insônia é um dos sintomas que se agravou durante o período. Segundo pesquisa recente da empresa de tecnologia em saúde, Royal Philips, 74% dos brasileiros entrevistados afirmam ter adquirido um ou mais problemas de sono desde março de 2020, 50% relatam que a pandemia afetou sua capacidade de dormir bem e 47% dizem que passaram a acordar no meio da noite.
Ter insônia, entretanto, não é normal. Segundo a Associação Brasileira de Medicina do Sono (ABMS), o problema se caracteriza pela dificuldade em iniciar o sono ou em se manter dormindo, sendo que o principal prejuízo é o cansaço durante o dia pelas noites mal dormidas. A ABMS expõe, ainda, que pode ser um quadro passageiro relacionado a um fato que ocorreu na vida de uma pessoa e que geralmente melhora de forma espontânea. Porém, e o quadro persistir por mais de 30 dias e começar a interferir na qualidade de vida, a associação aconselha a busca de tratamento especializado por avaliação médica.
Segundo o neurologista do Tacchini Sistema de Saúde, Luis Henrique Fornari, insônia é uma das queixas mais comuns em consultório médico. Ele afirma, porém, que trata-se de um sintoma que coexiste com condições psiquiátricas, como ansiedade e depressão, neurológicas, como doenças neurodegenerativas e outros distúrbios do sono, ou clínicas, em casos de doenças cardíacas, pulmonares e tireoidianas. “É frequentemente encontrada concomitantemente ao estresse agudo, ao uso de medicações, aos maus hábitos de sono ou à mudança no ambiente. Insônia difere de privação do sono na medida em que ocorre, apesar de oportunidade e circunstâncias adequadas para o sono”, sublinha.
Quando o paciente relata a queixa aos médicos, Fornari explica que os neurologistas costumam diferenciar dois tipos de insônia: aguda e crônica. O médico salienta que o primeiro tem duração inferior a três meses e está associada a fatores estressores identificáveis, como divórcio, falecimento de um ente querido, problemas financeiros, medicações recentemente introduzidas, e usualmente se resolve quando elimina o fator estressor ou quando o indivíduo se adapta à condição subjacente.
Já a crônica é definida pela ocorrência dos sintomas em três ou mais dias da semana por período de três meses ou mais. “É importante lembrar que o diagnóstico inclui a presença de prejuízo subsequente nas atividades da vida diária: fadiga ou mal-estar, desatenção ou dano à concentração, prejuízo social ou educacional, alteração de humor ou irritabilidade, sonolência diurna excessiva, redução da motivação ou energia, aumento de erros ou de acidentes, alterações comportamentais como hiperatividade, impulsividade ou agressão e, por fim, preocupação constante e exagerada com o sono”, esclarece.
Quem é mais afetado pelo problema?
O médico aponta que ter dificuldades para dormir é mais comum em mulheres peri e pós-menopausa e nos idosos. “As mudanças hormonais típicas do climatério e do período pós-menopausa são os fatores predisponentes nesta população. Entre idosos, no entanto, fatores como as modificações do ritmo circadiano, a presença de sintomas disruptivos do sono, como alterações urinárias, dor e falta de ar, a polifarmácia e as mudanças psicossociais, após a aposentadoria, figuram entre as possíveis explicações”, pontua.
Quais os tratamentos ideais?
Para recuperar as noites tranquilas de sono, o primeiro passo é mapear quais condições médicas, neurológicas ou psiquiátricas coexistem para o tratamento adequado. “Hábitos de sono, medicações de uso corrente e fatores de estresse devem ser rigorosamente avaliados. Para alguns pacientes, o tratamento medicamentoso deve ser considerado, sempre entendendo as vantagens e desvantagens de cada fármaco e o perfil da pessoa”, recomenda.
Aspectos para a higiene do sono, segundo Fornari
1) uma rotina regular para o deitar-se e para o despertar deve ser estabelecida;
2) os cochilos durante o dia devem ser evitados (principalmente os com duração maior de 1 hora ou os cochilos ao fim do dia);
3) a cafeína deve ser limitada, evitando-se o consumo a partir do horário de almoço (permitindo, assim, a depuração da substância até o horário de dormir);
4) o álcool deve ser evitado à noite, pois embora inicialmente sedativo, tem efeito excitatório na medida em que é metabolizado;
5) o tabagismo deve ser interrompido (a nicotina tem efeito estimulante);
6) o exercício físico deve ser encorajado (entre as quatro a seis horas que antecedem o sono), mas não nas duas horas que precedem o adormecer;
7) o ambiente de sono deve ser silencioso e escuro (a penumbra, a não exposição à luz de celular ou à luz da televisão nas horas que antecedem o adormecer são medidas importantes);
8) o hábito de checar o horário durante a noite deve ser desaconselhado, pois favorece o despertar;
9) as refeições copiosas à noite são desaconselhadas (porém também não se deve ir à cama com fome).