Comercialização tímida motivou lojistas a antecipar promoções. Foto: Reprodução

As baixas temperaturas não duraram muito este ano. O clima mais ameno obrigou lojistas do setor de vestuário a se readaptarem para manter ou alavancar as vendas em tempos de crise. Comerciantes de Bento Gonçalves, com o intuito de permanecer com saldo positivo nas vendas de um ano para o outro realizam queimas de estoque nos últimos meses do ano. No entanto, o consumidor segue cauteloso e ainda mantém seu poder de compra reservado. O receio de uma nova crise na economia e a alta no custo de vida são fatores observados antes de investir em compras no setor de roupas e calçados.

Números de uma pesquisa divulgada em âmbito nacional pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que houve aumento de aproximadamente 22% nas vendas, em comparação ao ano passado. Porém, a realidade local é diferente. A gerente de uma loja no Centro, Silvana Nepomuceno, afirma que as vendas ficaram iguais ao mesmo período de 2016. Segundo ela, promoções e queima de estoque foram realizadas, proporcionando leve aumento nas vendas. “O consumidor está mais cauteloso. Ele compra conforme a sua necessidade. Infelizmente, não tivemos um inverno rigoroso e fomos obrigados a reavaliar preços e promoções. Ainda há certo receio de fazer novas dívidas, em virtude da crise”, avalia. Silvana pontua as principais mudanças no comportamento do cliente. “Hoje, as pessoas compram mais por necessidade, avaliam condições de pagamento e o custo benefício na aquisição do produto. Nós, lojistas, precisamos nos adaptar a essa nova realidade”, afirma.

Consumo moderado

Se antes a compra de uma peça estava mais vinculada à vontade de se sentir bonito, agora o que prevalece é a necessidade de substituir uma roupa antiga. Pelo menos é o que afirmam os consumidores entrevistados pelo Semanário. Todos justificam que em virtude da crise, as compras do setor de vestuário reduziram drasticamente, em comparação ao ano passado. É o caso da dona de casa Janeci de Souza, que se vira como pode para suprir as necessidades, principalmente de sua filha de 14 anos. “Vou utilizando o que temos até que a situação melhore. Até o ano passado eu era bem consumista, mas precisei readaptar tudo, reduzi muito meu poder de compra, em virtude da crise. Tenho medo de que venha a piorar”, ressalta.

A parcela das compras destinadas ao uso próprio, ou algum ente da família, diminuiu. Hoje, a motivação predominante para a aquisição de alguma peça está associada à substituição de um item de roupa antigo, velho ou desgastado, por exemplo. Para a assistente administrativa financeira, Silvana Beatriz Carini, desde o ano passado, houve redução nas compras. Ela argumenta que o aumento nas despesas de casa frearam novos investimentos, inclusive nas aquisições de novas roupas. “Como as receitas não aumentaram e as despesas cresceram consideravelmente, tivemos que readaptar nosso dia a dia. Hoje, só compramos o essencial e analisamos os preços”, afirma. Beatriz comenta que a preocupação com o futuro é bastante discutida no seu núcleo de amizades. “A queixa é geral. Grande parte dos meus amigos comenta sobre as mudanças que precisaram realizar para encarar essa nova realidade. Só se gasta com o que realmente é necessário. O resto tem que esperar”, afirma.

Ainda que a atual condição financeira esteja impactando diretamente o consumo, a maior parte da população demonstra manter a intenção de compra de vestuário, porém, com olhares voltados a peças boas, bonitas e de preço acessível. É o caso da aposentada Eloisa Camargo, que adquire somente o essencial e de maneira parcelada. Moradora do bairro Conceição, ela comenta que reduziu suas compras. “Hoje, adquiro somente o básico para mim e minha família. Claro, não compro no impulso somente por ter um preço barato. Acabo olhando a questão da qualidade do que compro, sem esquecer, é claro, do preço, que pesa bastante na hora de levar o produto”, explica.