Reportagem especial: Elisa Kemmer e Fábio Becker

Na segunda parte da reportagem “Relatos da Periferia” trazemos mais situação percebidas e relatadas pelas pessoas que moram nos bairros visitados. Fica claro o preconceito sofrido por muitos somente pela estigmatização do local onde residem. Mesmo assim, elas encontram espaço para sonhar. Afirmando ter presença do tráfico nos locais, elas não se sentem inseguras. Outro fator que fica claro é a formação dos bairros por pessoas vindas de outras cidades do estado em busca de oportunidades.

Confira abaixo os principais pontos observados:

PRECONCEITO

Imagine a cena: você está procurando emprego. Conquista uma vaga. Na hora de preencher a documentação, descobrem que é morador de determinado bairro e somente por isso perde a oportunidade. Esse é um entre tantos outros relatos que ouvimos sobre o preconceito que ronda as pessoas que vivem em locais periféricos.

Perda de emprego, lojas que se recusam a abrir crediário, motoristas de Uber e táxi que não vão até a casa das pessoas. São fatos que acontecem cotidianamente na cidade. De acordo com as conversas, o problema é a estigmatização que se tem desses locais. Isso acaba atingindo todos os moradores, principalmente os mais jovens, em busca da primeira oportunidade.

O fato se reflete na fala da moradora do Municipal Silvia Costa dos Santos. “Às vezes os jovens vão lá procurar serviço, tá tudo certo. É só falar que moram no Municipal que perdem a vaga”, afirma. Ela também ressalta que motoristas, muitas vezes, se negam a entrar no bairro e dispara: “eu moro há anos aqui e nunca ouvi dizer que assaltaram ninguém”.

VIOLÊNCIA

Bento é uma cidade que está em crescimento, como pode ser observado nos novos loteamentos que surgem. Junto com isso, os índices de violência também cresceram. O Atlas da Violência de 2019 aponta a capital do vinho como o município mais violento da Serra Gaúcha. Conforme o delegado Álvaro Becker, o problema é causado pela disputa de território entre facções, que estão presente, principalmente, em bairros periféricos, onde aliciam menores vulneráveis.

As pessoas afirmam que há a presença do tráfico, sim, mas que os moradores não se sentem inseguros. Segundo relatos, as mortes que ocorrem são “entre eles”, entendendo-se por traficantes, e disputa de poder. Tereza de Góis Nunes, moradora do Eucaliptos, por exemplo, diz que se sente segura ao andar pelo local até mesmo durante a madrugada. Outro ponto salientado por residentes dessas comunidades é a ausência de assaltos dentro dos bairros. Muitos questionam em qual bairro de Bento que não há violência atualmente.

MIGRAÇÃO

Outro fator observado foi a composição dos bairros visitados por pessoas vindas de diversas partes do estado, sempre em busca de oportunidades.
“A questão do fluxo migratório acontece porque as pessoas acabam buscando emprego, melhores condições e serviços públicos em cidades mais ricas. Isso não tem uma lógica matemática”, aponta o sociólogo Gregório Grisa.

Mas em tempos de crise econômica como a que ainda tinge o país, grande parte dessas pessoas acabam perdendo emprego, principalmente as que dependem de trabalhos informais. Isso é algo bem visível e presente nas conversas com moradores. No entanto, para muitas, voltar para a cidade natal não é uma opção, pois a situação nas regiões mais pobres é ainda pior. Por aqui, elas ainda encontram esperança para sonhar.

Fotos: Fábio Becker