“Tem coisa mais boa” (clip RBS) do que uma fumegante sopa de agnoline dessas feitas aqui, na serra gaúcha? Ou uma bela polenta, onde “se mangia così”, acompanhada de salame, fortaia, radicci com panceta e, de sobremesa, sagu com creme?

É óbvio que não! Mas há gente de paladar refinado que troca a gastronomia italiana por peixe cru com arroz. E mergulha na culinária nipônica como se fosse o manjar dos deuses. De repente é, mas a maioria de nós ainda acredita que não há, no mundo, outra comida de dar água na boca como a nossa. E ninguém que passa por aqui será o mesmo.

Pois é! Mas o casal descolado da história de hoje deixou-se conquistar pelos sabores exóticos, estando os sashimis e sushis no topo de sua preferência.

Há algum tempo, os dois deram um pulinho a São Paulo e, à noite, saíram para jantar a pé. Como não pretendiam se afastar muito do hotel onde estavam hospedados, resolveram entrar num restaurantezinho japonês, simpático, de ambiente acolhedor, sem extravagâncias e exageros. Já integrados à atmosfera romântica, foram pedindo um vinho, que a noite prometia.

As toalhinhas quentes enroladinhas não demoraram a chegar, com as quais o casal limpou os dedos e o dorso das mãos, como manda a etiqueta. Pedido feito. Atendimento rápido. E o barco de sushis foi delicadamente depositado sobre a mesa. “Uau!”, sussurrou a moça. “Uau!”, imitou o moço. Um “uau” de decepção, pois cada rolinho não era maior que uma azeitona.

A fome era grande. O gengibre ralado só fazia acentuar o apetite. Na verdade, eles não precisavam limpar o paladar, careciam é de comida, que a pança roncava depois de um dia de trabalho sem uma refeição decente. Então pediram mais rolinhos, que não fizeram nem cócegas. Resolveram arrematar com alguns temakis, que são, em tese, cones maiores, capazes de promover a saciedade.

Quando o prato chegou, eles levaram um susto. Miraram aqueles nano conezinhos com desânimo, principalmente por saberem o preço de cada um. Ajeitaram os pauzinhos, prenderam os petisquinhos e “nhac”. Uma mastigada e já eram. Depois, recolheram sua dignidade e foram acertar a conta, que quase chegou aos quatro dígitos.
Saíram rapidamente diante do “assalto” e entraram de imediato num boteco próximo que recendia a sabores da serra. Sem mais nenhum comedimento, pediram uma cesta de pastéis crocantes e uma loira geladíssima, que foram servidas em seguida. Depois de uma bocada, ela comentou:

-Em que fria entramos. Nem que os hashis fossem de ouro…
Ele sorveu um gole de cerveja e completou:
-Tive vontade de enfiar aqueles palitinhos no shoyu deles.
Ao fim e ao cabo, tudo deu certo. E uma modorra gostosa aquietou seus corações.