Todos nascemos seres criativos. A criatividade é como uma semente, em alguns mais viçosa, em outros mais mirrada. Ela precisa ser cuidada e regada. Ser um “criativo pela vida toda”, como escolhi ser, não é uma tarefa fácil. Não é só fazer uma graduação e achar que dando uma espremidinha tudo sai facilmente.

É preciso comer livros, séries, cursos, internet. É preciso ser sensível às mudanças do mundo, às atitudes das pessoas, ao comportamento.

Um processo de criação envolve briefing, metodologias, brainstorms, crises de existencialismo, deitar no chão, assistir Chaves, comer, olhar o Instagram, já falei comer? O negócio não sai, simplesmente, da cabeça para o papel. Nossa mente é como uma gaveta, um arquivo inteiro na nuvem. Precisa ter muito arquivo lá e nunca está cheio o bastante. Já imaginou como é se achar nesse lugar? É uma sala vazia, mas cheia, e é uma bagunça! Nada está catalogado e quando você revira tudo descobre que o que precisa nem está lá, ou então ao contrário! Muitas vezes não conseguimos acessar tudo.

É preciso ser criativo, atender à uma necessidade, entender se a necessidade é real e rezar para explicar quando não é. E a gente erra, porque as pessoas mudam, o consumo muda, a economia, a política. Às vezes é preciso testar, refazer, bater a cabeça, caçar cão com gato. Quer ‘mumu’ vai trabalhar no marketing da Coca-Cola, onde o único problema vai ser dividir os bilhões em publicidade entre os meios de comunicação. Óbvio que estou falando besteira, mas estou no processo de criação desse texto, e besteira faz parte.

Não demoramos dez minutos para criar uma arte e quando demoramos é porque estudamos para isso. Mas tudo é tão instável! Tão vivo e desafiador. Me assusta e me conforta, porque no final das contas sou uma raiz querendo sair caminhando por aí.

Acham chiquérrimo os rafes em lápis 6B, mas não querem esperar trinta dias para o logotipo ficar pronto. Sigam as grandes marcas do mundo da moda e verão lindos desenhos feitos à mão, depois liguem para o seu designer e peçam a mesma excelência em tempo recorde.

É claro que o mundo no qual vivemos não é o mundo da Versace. Mas só não é porque não queremos. Não temos paciência para esperar, conta-se nos dedos quem está disposto a passar pelas crises e continuar. J. K. Rowling era mãe solteira e estava desempregada quando começou a escrever sobre Harry Potter, e apresentou o primeiro livro da sequência a oito editoras diferentes, antes de conseguir publicá-lo. E se ela tivesse desistido?

O design está na estampa da toalha de mesa, no corte do vestido, na sinalização dos shoppings, nas placas das ruas, nas capas dos livros, nos jornais, no planejamento de vendas, na embalagem de pão. Sabe quando você chama um iogurte de Danone? Sabão em pó de Omo? Isso também é design.

Pode ser um pouco difícil entender o que se faz e como se faz. O importante é que tenhamos respeito por essa profissão, que não tira coelhos da cartola, não faz cirurgias plásticas e para um milagre, nos dê mais 5 minutinhos.