De tempos em tempo, as meninas organizam eventos, alguns, simples, outros, pomposos, onde homens não entram, possivelmente porque elas precisam de uma folga deles, assim como eles buscam uma folga delas.

Faço parte de um grupo desses com, no máximo, doze pessoas, cujo objetivo é o prazer do encontro, da conversa fiada e do riso à toa. A gente sai mais leve, apesar das muitas calorias consumidas durante a reunião. Um pouco diferente das grandes confrarias de mulheres, cuja marca é o glamour.

Mas como não se desperdiça ingresso de valor salgado, obtido sem nenhum esforço, me obriguei a ir a um jantar glamoroso, em certa ocasião, com espumante a noite inteira, coisa e tal.

Já na hall de entrada, pensei: “Opa! Acho que estou na New York Fashion Week”. Muita luz, muita maquiagem, muito drama. As garotas se moviam que nem sereias, com seus bumbuns sinuosos mexendo pra cá e pra lá. Havia também formas exuberantes comprimidas em vestidos tubinhos que compartilhavam o espaço com silhuetas alongadas e cheias de brilho. Mas sem se excederem nos tamanhos.

“Caramba!”, pensei com meus velhos botões. “Será que sou a única plus aqui?” Um trio de anoréxicas que circulava sobre seus gambitos me ajudou a relaxar. Afinal nem tudo era perfeição.

Então foi anunciado o jantar. Primeiro, a salada tropical – sem o abacaxi e sem as nozes. Aquele punhadinho de folhas foi suficiente para provocar o maior estrago nos dentes. Eu sentia a coisa verde ou roxa grudada nos molares e, de repente, até estivesse entre os caninos, naquela frestinha que só o fio dental alcança. E havia uma fotógrafa por perto… Baita saia justa! Que nem daquela vez que, ainda criança, fui comungar, e a hóstia ficou amalgamada no palato. Só o dedo seria capaz de remover o pão consagrado, mas tocar nele era pecado mortal. Então passei o resto da missa com a língua orbitando pelo céu da boca.

Depois foi servido o prato principal, que me fez sentir saudades das festas do interior, e, por fim, veio a sobremesa: “perles au vin rouge” (“pérolas ao vinho tinto”, nosso popular sagu).

O encerramento, marcado por uma palestra que tinha como foco a autoestima, me fez rir muito. Por dentro e, apesar do esforço para me conter, até por fora. Se aquele povo aumentasse a autoestima, com certeza flutuaria…