Em entrevista exclusiva ao JS, Moacir Camerini esclarece sua situação e afirma que poderá concorrer ao cargo que almejar nas eleições 2020

Após longa e tensa sessão na tarde de 20 de dezembro, o então vereador Moacir Camerini (PDT), teve seu mandato cassado por 12 votos favoráveis, três contrários, um voto nulo e uma ausência. Diferentemente do que foi publicado na edição do JS de 21 de dezembro, Camerini não perde seus direitos políticos. Em entrevista exclusiva, ele esclarece sua situação e conta o que deverá fazer a partir de agora

Moacir Camerini (Foto: Fábio Becker)

JS: Camerini, nos explique qual sua situação na Câmara de Vereadores desde a votação de 20 de dezembro.

Moacir Camerini: Temos que pontuar algumas questões. A votação teve uma série de irregularidades. Vamos estar discutindo isso judicialmente, até porque não se pode prejudicar as pessoas. Por exemplo, uma questão bem grave: o primeiro suplente do PDT é o meu primeiro suplente. Obviamente votou para me cassar com a intenção de assumir o cargo. Isso ficou muito claro. Esse é um dos motivos pelos quais deveria ter dado como impedido de votar. Fizemos esta solicitação, a qual não foi acatada. O segundo ponto é que uma série de preliminares, de pedidos da defesa, não foram atendidos. Várias questões do rito processual da Comissão Processante não foram seguidas, como pareceres e outras situações que não foram cumpridas. E agora, o mais grave: o relator, em nenhum momento fala em cassação. Porém, coloca ser favorável ao prosseguimento da denúncia, e não da acusação. Ele quis se referir que eles acataram a denúncia, mas entendiam que não havia penalidade de cassação. Houve uma série de desdobramentos nos quais o Presidente da Casa, com sua Assessoria Jurídica, entenderam que a cassação deveria ser votada assim mesmo. O relator também leu em plenário mais um parecer complementando o relatório final da Comissão, para que ficasse bem claro, onde no encerramento, dizia que seria demasiada a penalidade de cassação, sendo drástica demais a perda de mandato de um vereador a partir do exposto, parecendo ser mais coerente uma medida de suspensão. Ele mesmo assumiu que nunca pediu cassação. E isso que foi votado, contrariando o relatório da comissão processante. Deixo bem claro que não houve nenhum pedido de improbidade administrativa, perda dos direitos políticos, nem sequer a cassação, e mesmo assim ela foi votada. Isso nós vamos discutir no Judiciário, bem como já temos uma ação anulatória da CPI das Fake News. A Câmara já está cancelando meus e-mails, já colocou o suplente assumir na sessão da segunda-feira, 23, sem sequer eu ter sido notificado. Estou somente acompanhando.

JS: Então foste afastado sem nenhum documento, sem notificação?
Moacir Camerini:
Fui declarado na sessão, por maioria de votos, cassado. O voto do meu suplente foi decisivo, assim como outros votos que podem ter sido ilegais ou irregulares. A Câmara está, de novo, atropelando tudo, mas estou aguardando a decisão da Justiça.

JS: Quais são os próximos trâmites, os passos que deverão ser tomados diante deste cenário?
Moacir Camerini:
Os próximos passos são cuidar da minha vida, sem o cargo de vereador. Mas se me perguntarem quais foram os objetivos que este grupo do Governo Municipal atingiu até o momento, respondo que somente tirar o meu salário, porque o meu trabalho para a comunidade não vai parar. E eu vou mostrar para esses vereadores que me cassaram que dá para trabalhar, inclusive, sem salário. Saio de cabeça erguida, de alma lavada, porque me dediquei ao máximo, fiz jus ao meu salário de nove mil reais por mês, descontados impostos. A minha pré-candidatura a Prefeito, a população cada vez pede mais. Está muito claro, meu nome permanece à disposição.

JS: Existe um prazo previsto para reverter essa situação?
Moacir Camerini:
Estamos ingressando com um mandado de segurança, pedindo o retorno ao cargo pelas irregularidades que sofri. Dependemos do Judiciário, que está entrando em recesso, mas creio que nos primeiros dias de janeiro teremos isso protocolado e, até o retorno do recesso do Legislativo, eu já esteja de volta no meu posto.

JS: Para finalizar, como o senhor vê a política atualmente?
Moacir Camerini:
Isso tudo que vem acontecendo desanima muito. O caso do Prefeito de Caxias, por exemplo. Motivos fúteis levaram vereadores a cassar seu mandato. Eu fui cassado sem provas, sem sequer meus computadores e meu celular funcional serem examinados pelos denunciantes. Nunca vieram conferir se o que foi falado aqui, pela acusação, foi realmente feito. Muitas montagens, muitas adulterações de documentos. Questões aqui são tratadas de forma totalmente ilegal. Isso tem que mudar. Gostaria que os políticos se preocupassem mais em trabalhar para o povo, independentemente de quem for o Prefeito ou de quem forem os vereadores. Eu nem acredito que um Prefeito, seja quem for, possa ocupar seu tempo para mandar fazer essas sacanagens. O trabalho dos vereadores, como o meu trabalho, tem que servir para ajudar o Prefeito a ficar alerta, mostrar quem está fazendo coisas erradas dentro de uma administração sem que ele saiba. Eu sempre primei pelas denúncias e pela cobrança da coisa certa, e não em prejudicar por prejudicar, que é o que fizeram comigo. Mas eu confio em Deus. Se eu tenho que ficar fora por algum tempo, talvez seja para mostrar a falta que este vereador faz. Não dá mais para continuar assim. E mais: político tem que aparecer nos bairros. As pessoas querem ser ouvidas, visitadas. Essa é minha filosofia de trabalho e vai continuar sendo. Perco o salário, mas não perco a honra, nem a dignidade. Não me arrependo nada do que fiz, porque só lutei pelo povo.

Fotos: Arquivo e Câmara de Vereadores/Divulgação