Inseridos em um mercado bilionário, os nutracêuticos, mais conhecidos como suplementos alimentares, apresentam uma estimativa de crescimento de 7,5% até 2025, segundo estudo realizado pela Future Market Insights (FMI), e o mercado global deve ultrapassar a marca de US$ 252 bilhões (cerca de R$1,4 trilhão de reais). No Brasil, de acordo com a segunda edição da pesquisa “Hábitos de Consumo de Suplementos Alimentares no Brasil”, feita pela Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais (Abiad), houve um aumento de 48% no consumo de suplementos devido à quarentena.

Especializada na fabricação de encapsulados, suplementos solúveis e líquidos, a empresa iCapsulas é a única do segmento em Bento Gonçalves. Com quase um ano de funcionamento, a startup iniciou suas atividades em novembro de 2023, com o apoio do município e o trabalho dos sócios Gustavo Rossetto, Elisiane Fátima de Moraes, Marcelo e Leonardo Reche.

A ideia de iniciar um negócio dentro do mercado de suplementos surgiu da vontade de trazer mais saúde e qualidade de vida, que, segundo Rossetto e Leonardo Reche, é uma necessidade crescente desde o período da pandemia de Covid. Além disso, com os anos vendendo produtos da área, eles perceberam a necessidade de uma indústria que seguisse os padrões estipulados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O investimento foi alto, e os cuidados para se encaixar nas normas foram essenciais para a criação da indústria, que passa pela fiscalização regularmente.

O trabalho que a empresa desenvolve é focado na terceirização, em que é desenvolvido desde o produto, até os logotipos de clientes que querem criar suas próprias marcas, que geralmente são pequenos e médios empresários. Rossetto explica mais sobre. “Pegamos desde o registro da marca, até a autorização da Anvisa, para deixar os produtos nos conformes, desenvolvemos o design e também auxiliamos os clientes no posicionamento das vendas on-line e presenciais. Também vendemos fórmulas prontas que o cliente pode colocar sua marca em cima”, conta. Além dos serviços de terceirização, a empresa possui marca própria, a Vital Z, que já está presente em academias do município, através de parcerias, lojas, farmácias e outras distribuidoras.

Hoje, sua produção média mensal chega a mais de 200 mil unidades, alcançando estados como Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraná e o principal comprador, São Paulo. A expectativa é passar de um milhão mensal até o fim de 2025. Reche conta que há vários tipos de clientes que a empresa consegue alcançar. “Temos desde farmácias, lojas de suplementos, produtores digitais que vendem e-commerce, Mercado Livre, Shopee, Amazon e também existe uma plataforma de afiliados que está em alta no Brasil, que são os produtores digitais. Eles têm as suas marcas de suplementos e tem os afiliados que vendem para eles na internet através do Google Ads, esse é o segmento que mais temos clientes, além do pessoal que vende para as grandes farmácias, que competem com marcas maiores ainda”, comenta.

Ainda há muitos desafios para quem ingressa e para quem já está dentro da produção de nutracêuticos. A recente alteração na regulamentação da Anvisa determina novas regras para a comercialização de suplementos alimentares, com o propósito de garantir transparência nas informações dos produtos e melhorar o controle sanitário.

Os sócios falam sobre a importância de seguir os protocolos corretos para conseguirem entregar qualidade e relevância. “Estamos aqui para fazer o melhor, até porque a cidade já é referência nacional como Capital do Vinho e reconhecida pelo turismo. Prezamos pela qualidade, realizando um controle rigoroso junto com a responsável técnica e seguindo a legislação, para no fim, entregar o melhor produto para os clientes que irão consumir”, finalizam Rossetto e Reche.

O que são os suplementos alimentares

São produtos que têm o objetivo de complementar a dieta normal e que contêm nutrientes como vitaminas, minerais, aminoácidos, ácidos graxos ou fibras, entre outras substâncias.
De acordo com a pesquisa da Abiad, em 59% dos lares brasileiros há pelo menos uma pessoa que consome esses complementos alimentares. A pesquisa também aponta que 28% dos entrevistados afirmam que os suplementos aumentam a disposição física.

A nutricionista especializada em emagrecimento definitivo, Julia Severgnini, ressalta que o uso de nutracêuticos não é apenas para quem pratica esporte, mas também para questões de saúde. “Cerca de 90% dos meus clientes usam algum tipo de suplementação, seja para complementar a proteína diária, repor vitaminas ou melhorar outras deficiências nutricionais”, comenta. Apesar de suplementos como, por exemplo, o whey protein substituir a proteína de uma refeição, ela ressalta que é importante preservar na dieta o uso de alimentos in natura.

Lizandra Mazzoccato, de 50 anos, é uma das pacientes de Julia, e comenta sobre sua rotina. “Uso há 12 meses por indicação da nutricionista e já vejo os resultados. Sigo uma dieta específica para o meu biotipo, idade e rotina de atividades físicas, com o objetivo de ganhar massa magra. Os suplementos me ajudam a ter mais disposição para treinar e alcançar meus objetivos”, diz.

Julia também destaca que o uso de suplementos pode ser um aliado, desde que orientado por um profissional. “Os suplementos podem trazer diversos benefícios para a saúde, como a melhora do desempenho esportivo, correção de deficiências nutricionais, melhora da saúde e imunidade, mas sempre lembrando que devem ser indicados por um profissional, pois se utilizados de maneira incorreta, podem causar toxicidade, efeitos colaterais e reações adversas”, enfatiza. Um exemplo dos riscos que um suplemento pode causar quando utilizado de maneira incorreta, é a intoxicação pela vitamina D, que pode gerar pedras nos rins, elevação de cálcio sanguíneo que pode causar confusão mental, vômitos, fraqueza muscular e desmineralização óssea a longo prazo.

Novos hábitos alimentares

A pandemia foi um fator que alterou a rotina de milhares de brasileiros, que passaram a levar os cuidados com a saúde e alimentação mais a sério. Segundo a pesquisa feita pela Abiad, cerca de 72% dos entrevistados melhoraram seus hábitos alimentares.

A Dra. Francine Lopes Petry, especialista em medicina interna e nutrologia, fala sobre como a pandemia impulsionou a procura de suplementos. “Houve uma preocupação maior relacionada com estilo de vida, na tentativa de evitar os fatores que contribuíram para a mortalidade do Covid. Nesse sentido, suplementos que já vinham sendo de longa data atribuídos à melhora da imunidade começaram a ganhar força para serem utilizados. Com o isolamento social e a disseminação de informação nas redes sociais, iniciou-se uma cultura de desmistificação de diversos temas de saúde, dando voz a profissionais que orientam de forma geral os hábitos e suplementos mais indicados”, comenta.

Se por um lado a internet facilitou para que as pessoas pudessem procurar ajuda profissional sobre os suplementos, ela também fez com que muitas outras oferecessem soluções rápidas e ineficazes, desprovidas de embasamento científico e, por vezes, até perigosas, sem levar em consideração a importância de adaptar as recomendações às necessidades individuais, o que pode resultar no consumo indiscriminado de substâncias prejudiciais à saúde.

A médica finaliza. “Deve-se sempre buscar como primeira ação, a correção dos erros alimentares, na tentativa de melhorar o consumo. Porém, uma vez identificada a necessidade, através da manifestação de sintomas e da realização de exames laboratoriais, quando necessários, a suplementação passa a ser fundamental. Por isso, é essencial que qualquer uso de suplemento seja supervisionado por um profissional de saúde qualificado, para garantir segurança e eficácia”, conclui.