Ninguém entra, ninguém sai. O Decreto de Nº 6.738, de 19 de março, do Município de Farroupilha, estabeleceu situação de quarentena na comunidade de Vila Jansen, alterando de um momento para o outro a vida e a rotina de todas as famílias locais. Desde então, além do fechamento do comércio local, os moradores estão proibidos de sair do distrito e de suas casas por no mínimo 14 dias. A medida visa evitar a proliferação do Coronavírus, uma vez que o único caso confirmado no município, até o momento, está nessa localidade. Trata-se de um homem que veio de Londres, no Reino Unido, para visitar a família. Em 14 de março, três dias após chegar ao Brasil, passou mal e fez um exame em laboratório particular que atestou positivo para Covid-19.

“Era um lugar calmo, mas agora é um deserto”

A frase de Flávio Noal, 41 anos, extenua o estranhamento causado pela situação. O morador destaca que, mesmo para um bairro tranquilo do interior, como a Vila Jansen, o silêncio e a falta de movimento chamam a atenção. Há uma semana confinado em casa, assim como as centenas de demais habitantes da localidade, conta que as pessoas só saem de casa para ir no mercado ou no posto de gasolina local, os únicos dois estabelecimentos abertos, e mesmo assim voltam o mais rápido possível. “Estão indo, comprando tudo o que podem e voltando para casa. Estão, inclusive, evitando ir com frequência”, sublinha.

O mercado local é um dos únicos dois estabelecimentos abertos no bairro (Foto: Flávio Noal)


Empregado de uma instituição financeira, Noal vive com a esposa e com as duas filhas, uma com dois e a outra com seis anos. Segundo ele, a família ainda pena para se acostumar com o confinamento. Antes com uma vida corrida, agora sobra tempo e faltam atividades para preenchê-lo. “Muitas vezes nos pegamos sem saber o que fazer. Brincamos com as meninas, tomamos um chimarrão, vemos algum filme, mas é complicado, tínhamos uma rotina bem diferente antes”, resume. Destaca que outro desafio é manter as duas crianças ocupadas. Para isso, além das atividades pedagógicas, da televisão e da internet, a hora mais esperada é a noite, quando a família se junta para ouvir música. “As meninas dançam e incentivamos até para elas se movimentaram, já que só podem ir até o pátio. Além de que também acabamos nos descontraindo”, conta.


Apesar da inexistência de obrigações, Noal diz que o segredo para manter a saúde mental em isolamento é, dentro do possível, manter uma rotina. “Vemos o pessoal nas redes sociais dizendo que dorme o dia inteiro e que fica de pijama o dia todo, mas evitamos isso. Acordamos na hora de sempre, trocamos de roupa e respeitamos horário de almoço e janta. Acho que isso ajuda a não nos sentirmos tão mal”, destaca.


Mesmo que preocupado com a situação econômica, sobretudo da Vila Jansen, onde grande parte das famílias sobrevive da agricultura, Noal acredita que a ação da Prefeitura foi acertada. “Agora é hora de todos ficarmos em casa, para comemorar o fim dessa situação juntos. O primordial é nos cuidarmos. A parte financeira corremos atrás depois. Temos que saber que a vida segue e dará certo no final”, exclama.