Em entrevista ao Podcast Paradoxo, Zaparty destaca como transforma vidas através do seu ofício
Victor Zaparty, ou simplesmente Zaparty, é um dos maiores nomes de Bento Gonçalves no ramo da barbearia. Com 140 mil seguidores no Instagram, aos 21 anos, ele já acumula sete anos de experiência profissional, completos no último dia 17 de dezembro, marcando sua trajetória com dedicação e um propósito claro: ajudar o próximo. Barbeiro desde os 14 anos, Zaparty não apenas se destaca no ofício, mas também tem influenciado pessoas com sua visão sobre servir como um estilo de vida.
Começo da trajetória
Zaparty relembra com entusiasmo o momento em que decidiu seguir na barbearia. “Eu tinha 14 anos e fui cortar o cabelo com o Jean, que foi o pioneiro das barbearias em Bento Gonçalves. Ele trouxe aquele conceito de barbearia masculina, com sinuca, rock e um ambiente descontraído. Era diferente de tudo que eu já tinha visto, onde só existiam salões unissex”, explica.
Ele recorda a admiração sentida pelo profissional. “O Jean estava bem vestido, debaixo do ar-condicionado, ouvindo música, rindo com os amigos e ganhando dinheiro. Eu pensei: ‘Que vida incrível esse cara tem!’ Isso me marcou profundamente”, conta.
Incentivo familiar
O apoio de sua família também foi crucial para sua decisão. Durante um café da tarde, seu irmão mais velho fez uma sugestão que mudaria sua vida: “Por que você não faz um curso de barbeiro?”, perguntou. A sugestão ressoou com a experiência recente de Victor e, mesmo com apenas 14 anos, colocou em pauta essa possibilidade.
No sábado seguinte, ele viu uma placa anunciando um curso de barbeiro no centro da cidade. Convencido, levou sua mãe para conhecer o local. “Era um daqueles momentos de ‘vamos só dar uma olhadinha’. No final, minha mãe ficou impressionada com a proposta do curso e me deu a oportunidade de começar”, diz.
Uma decisão que foi o primeiro passo de uma trajetória que não só mudou a vida de Zaparty, mas também inspirou muitos outros a seguirem seus sonhos com determinação e propósito.

A volta por cima
Zaparty relata um momento de dúvida em sua carreira quando pensou em desistir. Com profunda fé, ele descreveu a noite em que dobrou os joelhos e pediu a Deus uma confirmação sobre seu futuro. “Eu só queria um sinal de que era para seguir nesse caminho”, relata. No dia seguinte, teve um dia marcante atendendo em casa, improvisando com cadeiras de plástico, ele faturou mais de mil reais em um único dia, das 8h às 23h, o que superou metade do salário mensal de sua mãe na época. Foi o suficiente para mudar a percepção de seus pais: “Tudo que um pai e uma mãe querem é ver o filho bem. Quando viram os resultados, perceberam que eu estava no caminho certo”, detalha.
Ele cita justamente o seu irmão como sua maior inspiração e ressalta que com o tempo, as incertezas foram sumindo. “Meu irmão mais velho é um cara que eu admiro muito. E ele foi o primeiro na família a ter um diploma, enquanto eu mal havia terminado o ensino médio. Então, houve uma certa pressão familiar quando eu estava começando como barbeiro por conta disso, mas no final, deu tudo certo”, diz.
Crescimento e reconhecimento
Com o tempo, Zaparty conquistou um público fiel. Ele começou em sua casa e logo atraiu clientes de várias cidades e classes sociais. “Era impressionante ver carros como Porsche e Mercedes estacionados na minha garagem. Isso mostrava que nosso atendimento ia além de cortar cabelo. Era sobre oferecer um ambiente acolhedor e respeito ao cliente”, afirma. Ele também enfatiza a importância da presença digital e do bom atendimento. “Quem está no digital é lembrado. Mantemos um ambiente respeitoso, sem música inapropriada, e nossos colaboradores são treinados para tratar todos com educação”, destaca.
Maior motivação na barbearia
Ao ser questionado sobre o que mais o fascina em seu trabalho, ele foi direto: “As pessoas.” Sua paixão pela interação humana e o impacto que pode causar no outro transparecem sua fala.
Ele explica como a gestão emocional, um tema que estuda profundamente, é essencial para lidar com clientes e desafios do dia a dia. “Minha geração é a geração da depressão e da ansiedade,” afirma Zaparty, mencionando como a influência das redes sociais contribuiu para isso. Ele destaca o impacto dopaminérgico de plataformas como Instagram e TikTok, que muitas vezes desconectam as pessoas da realidade. Zaparty reflete. “É muito fácil se iludir com vidas que não existem de verdade lá dentro das redes sociais”, frisa.
O barbeiro revela que a gestão emocional se tornou um diferencial em sua vida e no trabalho. “Quem entender de gestão emocional vai se dar bem”, diz. Ele relaciona isso ao impacto que um barbeiro pode ter na vida de alguém, enfatizando que tocar na cabeça de uma pessoa vai além do aspecto físico, afetando diretamente o emocional.
Responsabilidade emocional no atendimento
Zaparty conta como o conselho de seu pai mudou sua visão sobre o impacto do trabalho. “Meu pai falava que eu tinha que ter muito cuidado com o que eu falo e faço ao atender um cliente”, conta. Segundo ele, as palavras e o toque podem influenciar o subconsciente e, até mesmo, mudar a vida de alguém.
Ele compartilha uma história marcante de um cliente que pretendia comprar um tênis de mil reais, mas foi incentivado por Zaparty a investir o dinheiro em um curso profissionalizante. O resultado foi transformador. “Três meses depois, ele voltou e disse: ‘Muito obrigado, Zaparty. Fiz o curso, comecei a trabalhar na Tramontina, e agora consigo comprar os tênis que quero”, relata.
Um trabalho que transcende o óbvio
Zaparty enxerga a barbearia como uma plataforma de serviço ao próximo. “Eu elevo a autoestima, mas também posso tocar no emocional das pessoas e transformar suas vidas”, afirma. Ele acredita que ajudar os outros é uma forma de prosperar, afirmando: “Quanto mais pessoas tu ajudar, mais Deus te dá semente para continuar plantando”, conta.
Para ele, o verdadeiro significado do sucesso está em servir. “A vida que vale a pena ser vivida é a vida pelos outros,” diz, citando Jesus como uma inspiração para essa filosofia.

“A roda da prosperidade” e a paixão pelo ofício
Victor Zaparty não mede palavras para descrever o impacto que sua trajetória como barbeiro teve em sua vida. Ele começou de forma modesta, cobrando apenas R$ 4 por um corte, e hoje sua agenda está lotada, com clientes pagando R$ 70 por atendimento. Porém, para ele, o verdadeiro valor está além do financeiro: é sobre construir conexões e transformar vidas. “Depois que a roda da prosperidade começa a girar, é difícil de parar. Hoje eu atendo pessoas de alto nível, viajo pelo Brasil para dar treinamentos e conheço gente melhor que eu. O mais louco é que Deus te dá mais semente para continuar ensinando, e isso vira uma bola de neve positiva”, afirma.
Rotina e excelência no atendimento
Ele atende de terça a sábado, reservando as quartas-feiras para resolver pendências fora da barbearia. Cada dia é preenchido com demandas de clientes que confiam no trabalho do barbeiro não só pela técnica, mas pela atenção que recebem. “Eu vejo cortar cabelo como uma ação rasa. O que realmente me move é entender o cliente, saber o que ele está passando, se ele é casado, qual a profissão dele. É sobre fazer ele se olhar no espelho e dizer: ‘Caramba, nunca tive o cabelo cortado assim antes’, debate.
Ele aplica uma abordagem única: antes de qualquer corte, faz questão de entender exatamente o que o cliente deseja — e, mais importante, o que ele quer evitar. “Sempre pergunto: ‘Qual é a única coisa que eu não posso fazer no seu cabelo?’ Às vezes, a resposta é simples, tipo não arrepiar a parte de trás. Mas essa pergunta faz toda a diferença porque mostra que eu me importo. É sobre evitar erros e criar uma experiência personalizada”, enfatiza.
A chave para o sucesso
Para Zaparty, ser barbeiro é muito mais do que manusear máquina e tesoura; é sobre lidar com pessoas e suas histórias. Ele acredita que sua profissão exige uma habilidade rara no mundo atual: saber ouvir. “Vivemos em uma geração em que as pessoas têm necessidade de atenção, mas poucos sabem ouvir de verdade. Um bom ouvinte, na minha opinião, é a melhor habilidade que alguém pode ter. Deus te deu uma boca e dois ouvidos, e isso não foi à toa”, reflete.
Zaparty acredita que o sucesso vem mais do esforço do que de um talento nato. “Tudo é treino. Não dá para esperar que o dom sozinho te leve longe. É preciso trabalhar duro”, diz. Ele conta que desde os primeiros cortes, mesmo com técnicas básicas, já demonstrava habilidade e determinação, o que o destacou entre seus colegas de curso.
Hoje, com uma barbearia consolidada e uma equipe em crescimento, Zaparty olha para trás com orgulho. “Transformamos o que era apenas um sonho em uma realidade que mudou a minha vida e a da minha família”, conta.
Além do corte
Ele vê sua barbearia como um espaço de conexão, onde cada detalhe é pensado para proporcionar uma experiência além de um simples corte de cabelo. Zaparty acredita que sua função é ajudar as pessoas a se sentirem melhores consigo mesmas, tanto esteticamente quanto emocionalmente. “É sobre entender o momento de vida do cliente, fazer perguntas certas, dar conselhos precisos e, no final, oferecer um resultado que vá além do esperado. Essa é a diferença entre atender e se conectar. O que me move são os seres humanos. A dor de hoje é essa: pessoas precisam de atenção, cuidado e conexão verdadeira. E é isso que eu amo fazer”, reforça.

Transformando vidas
Zaparty não é apenas um barbeiro; ele é, muitas vezes, um ouvinte atento e um mediador emocional para seus clientes. Ele compartilha uma história que, segundo ele, será implementada em suas palestras daqui em diante, devido ao impacto significativo que teve. “Recentemente, atendi um cliente jovem, com cerca de 20 anos, que lidava com problemas emocionais, como ansiedade. Durante a conversa, ele me contou sobre sua pior memória: um episódio no hospital, quando teve apendicite. Ele explicou que a dor física e emocional daquele período foi muito intensa. O médico havia inicialmente mandado ele para casa, mas, dias depois, o apêndice estourou, e ele precisou de uma cirurgia de emergência. A recuperação foi difícil, especialmente por ele ser magro e ter menos energia para enfrentar o processo”, conta.
Porém, o barbeiro viu uma oportunidade de reconfigurar essa lembrança para o cliente. “Perguntei qual foi a melhor visita que ele recebeu na UTI. Ele pensou e respondeu: ‘Foi da minha dinda. Ela levou um Lego que eu queria muito na época.’ Aí eu perguntei se ele já tinha assistido Divertidamente. Expliquei que as emoções no filme têm cores – o medo é azul, a felicidade é amarela – e sugeri que ele trocasse a cor da memória. Disse: ‘E se você parar de ver esse momento como a pior memória e começar a olhar como o momento em que recebeu o melhor presente da sua vida?’. Naquele instante, ele parou, pensou, e chorou na cadeira. Foi a primeira vez que vi um cliente chorar enquanto eu cortava o cabelo”, diz.
Segundo Zaparty, a transformação foi evidente. “A partir daquele momento, a pior memória dele se tornou o melhor presente. Hoje, se você perguntar a ele, vai ouvir que o melhor presente da vida foi no hospital. Essa experiência me fez perceber o quanto temos poder sobre as pessoas quando nos conectamos verdadeiramente com elas”, relata.
O barbeiro compartilha outro caso, igualmente marcante, que aborda a importância de recontextualizar memórias. “Um cliente me contou que, no mesmo dia em que nasceu a filha dele, ele perdeu o pai. Desde então, nunca soube como se sentir nessa data: se ficava triste pela perda ou feliz pelo nascimento. Ele optava pela tristeza, porque o lado bom parecia mais difícil de enxergar. Eu disse: ‘E se você olhar para isso como o nascimento da sua filha honrando a memória do seu pai? Talvez ela tenha vindo ao mundo para celebrar a vida dele.’ Isso mudou a perspectiva dele. Ele passou a comemorar a data com alegria, vendo como algo bonito. Foi um clique emocional que transformou tudo para ele”, conta Zaparty.
Para o barbeiro, esses momentos mostram que sua profissão vai além da estética: ela toca em aspectos profundos do ser humano. “Quando o cliente senta na cadeira, ele nos entrega o bastão da autoridade. O que fazemos com isso, certo ou errado, impacta diretamente na vida dele. Entendi que temos o poder de ressignificar memórias e criar experiências transformadoras. Isso é algo que quero ensinar a outros barbeiros, porque, com as mãos e as palavras certas, podemos ajudar nossos clientes a ver a vida de forma diferente”, conclui.

Projeções futuras
Ele reflete sobre o futuro com confiança e ambição. Para Zaparty, os próximos cinco anos representam não apenas um intervalo de tempo, mas um espaço vasto para crescimento. Ele acredita que Bento Gonçalves, apesar de importante para sua trajetória, talvez não comporte seus planos. “Provavelmente vamos nos mudar para alguma capital, como São Paulo ou Porto Alegre. Mas sei que vou me tornar gigantesco, sem precedentes. Não apenas o melhor do Brasil, mas um dos melhores do mundo”, diz.
O barbeiro tem planos de expandir seu time e impacto, tanto no mercado físico quanto no digital. “Acredito que teremos uma equipe de mais de 100 pessoas, todas apaixonadas pelo que fazem. Tudo que eu colocar a mão vai prosperar, e qualquer pessoa que se conectar comigo vai crescer. É uma crença que carrego comigo”, conta. Ele projeta estar entre os maiores do Brasil e com relevância em escala global. “Hoje sou só um moleque de 21 anos falando isso. Daqui cinco anos, as coisas podem mudar drasticamente”, revela.
Zaparty também compartilha um sonho pessoal que reflete sua origem e determinação. “Eu quero ter um Porsche 911 preto. Parece bobo para alguns, mas para quem nasceu no bairro Ouro Verde, onde cresci, é quase impossível. Quero realizar isso para mostrar que é possível. É só trabalhar certo, ajudar as pessoas e plantar no lugar certo”, explica.
Para ele, o significado de sucesso transcende bens materiais. Em uma reflexão provocada por uma conversa familiar, ele explica o que considera uma vida que vale a pena ser vivida. “É aquela em que você faz o que acredita que deveria fazer. Meu irmão, meu pai e minha mãe já tiveram ideias que poderiam mudar a vida deles, mas não colocaram em prática. Eu vim para romper isso. Não quero chegar ao fim da vida e pensar: ‘E se eu tivesse feito?’”, diz.
Ele conclui com uma mensagem inspiradora, misturando fé e determinação. “Os planos de Deus nunca vão caber no seu bolso. Então, faz o que tu acredita que deve ser feito. A vida que vale a pena é aquela dedicada ao outro. Dedicar-se a educar, ajudar, ou, no meu caso, transformar a autoestima das pessoas, é o que faz tudo valer”, encerra.
Imagem da capa: Pricila Piccini