Tratamento com psicólogo ou psiquiatra pode ser necessário em alguns casos. Muito tempo em frente às telas também pode causar problemas de visão
O século XXI é a marca de uma extrema evolução na tecnologia. Apesar de a Internet vir para o Brasil nos anos 1990, os aparelhos eletrônicos mais evoluídos foram surgindo por aqui a partir de 2000. Se outrora o celular servia apenas para realizar ligações e, no máximo, enviar mensagens via SMS, hoje é possível ter um minicomputador na palma das mãos. Acesso a sites, filmes, séries, possibilidade de resolver problemas de trabalho, enviar e-mails, mensagens instantâneas, redes sociais, entre outras coisas podem ser feitos via smartphone. Além disso, tablet, Smart TV, também são fruto das revoluções tecnológicas.
Tantas soluções e facilidades podem acarretar em novos problemas. Isto porque, pela facilidade, o uso contínuo da tecnologia pode viciar, causando dependência e distúrbios psicológicos. Esta possível compulsão pode ser chamada de vício digital.
Segundo a psicóloga Janice Mezacasa Cavalini o uso de aparelhos eletrônicos e internet pode se tornar um vício na medida em que a vida da pessoa gira em torno do celular ou tablet. “O uso exacerbado faz com que a pessoa ‘se desligue’ do seu dia a dia e a rotina seja em função dos aparelhos eletrônicos”, explica.
Uma pessoa viciada tem algumas formas de demonstrar sua dependência. “Fica ansiosa e irritada se não está com o celular ou conectada à internet de alguma forma, quando deixa de fazer atividades que antes eram prazerosas, ao ar livre, para ficar em frente ao computador, quando prefere relacionar-se com as pessoas virtualmente e não pessoalmente”, esclarece.
Como qualquer outro tipo de compulsão, este vício precisa de tratamento psicológico e, muitas vezes, psiquiátrico. “Para que a pessoa consiga aprender a lidar de uma forma diferente com os comportamentos e, com isso, ir descobrindo outras maneiras de desenvolver afetos e relacionamentos desligados do mundo digital”, pondera.
O isolamento social causado pela pandemia, segundo a profissional, pode agravar o problema. “Devido à falta da convivência com outras pessoas, principalmente as crianças e jovens estão usando por mais tempo a internet, os jogos eletrônicos e as redes sociais”, expõe.
Para evitar isso, é importante que os pais e responsáveis estabeleçam limites no tempo de uso. “Precisam reorganizar a rotina diária e estar mais presentes na vida deles para que possam perceber que existe vida fora do digital. A limitação de tempo de uso e a replanejamento do cotidiano são dicas importantes inclusive para os adultos que conseguem se dar conta que ficam muito tempo conectados”, aconselha.
Cuidado! Utilização de telas em excesso pode prejudicar a visão
Além de problemas psicológicos, passar muito tempo em frente a aparelhos digitais também pode causar problemas de visão, de acordo com o oftalmologista Marcelo Piletti, da Clínica de Olhos. “Por ser uma atividade que demanda concentração, o uso de dispositivos eletrônicos tende a reduzir até 10 vezes a frequência do piscar, resultando em menor troca lacrimal e consequente ressecamento ocular”, exemplifica.
O médico ressalta que estudos recentes também sugerem que o exagero em atividades para perto, no que se inclui o uso destes aparelhos, pode causar aumento do grau de miopia. “O que resultaria de um alongamento gradual do globo ocular visando uma melhor focalização dos objetos mais próximos. Além disso, a luz azul-violeta encontrada nestes dispositivos eletrônicos prejudica a produção de melatonina, hormônio fundamental para o sono. A longo prazo, também pode ser nociva a diversas estruturas no olho humano, como córnea, retina e cristalino”, salienta.
Para evitar problemas de visão mesmo em um mundo tecnológico, Piletti sugere algumas mudanças no cotidiano. “Há recomendações cada vez maiores de limitação do uso ou exposição diária para os diversos dispositivos eletrônicos. Outras orientações são manter maior distância das telas, de no mínimo 60 centímetros do rosto, e a realização de intervalos regulares durante a utilização dos mesmos, de 10 ou 15 minutos a cada uma ou uma hora e meia de atividade”, aconselha.
Alguns sinais podem indicar que o uso de tecnologias está sendo realizado em excesso. “Vermelhidão e ardência oculares, embaçamento visual, sensação recorrente de perda de foco, cefaleia e sensação de ‘peso’ sobre os olhos”, frisa o oftalmologista.
Problema a longo prazo
Segundo Piletti, cada vez mais estudos tem demonstrarem a relação entre o excesso do uso de telas e o desenvolvimento ou evolução da miopia, é necessário prestar atenção no tempo que as crianças ficam em frente às telas, pois é possível que surjam problemas no futuro. “A miopia traz prejuízos à qualidade de vida não apenas pelo fato de impor a necessidade do uso de óculos, mas principalmente por resultar, nos graus mais altos, em degenerações retinianas que limitam a acuidade visual mesmo ao uso de correção ótica e aumentam os riscos futuros de outros problemas oculares como, por exemplo, o descolamento de retina. Tratando-se de uma tecnologia relativamente nova, existe também o risco de que a longo prazo descubramos outras complicações decorrentes deste excesso, que ainda não tivemos tempo de presenciar”, conclui.