Amo estes bichinhos fofos que muita gente chama de filhos e que são tratados como bebês. Mas acho uma judiaria vestir os gatos, a fim de exibi-los nas redes sociais. Deve ser desconfortável para os peludos ficarem presos em roupas extravagantes que lhes tiram a liberdade de se movimentar e de se lamber. Exageros à parte, penso que dá para vislumbrar a alma do dono, hoje promovido a tutor, através dos seus pets.
Mas vamos ao Samuel. Eu o conheci num grupo específico e fiquei de imediato intrigada com o enunciado. Como podia um bichano tranquilo e aparentemente muito querido ser posto à venda?! Rolei o mouse até os comentários, alguns engraçados (daqueles que haviam entendido a brincadeira) e outros indignados. Ora, vender um ente familiar! Um crime!
Ainda com a pulga atrás da orelha, reli a frase até o fim. Por duas vezes, e eis que finalmente uma luzinha clareou minhas ideias. Estava diante de uma polissemia, ou seja, de um termo com mais de um significado que só poderia ser entendido através do contexto. O problema é que a frase fora tão bem arquitetada que só refletindo a gente percebia a ambiguidade. Vou transcrevê-la na íntegra: “Vendo este gato lindo, adulto, castrado, bem carinhoso, como vocês também podem ver”. Ou seja, era uma pegadinha, em que o sujeito estava vendo (do verbo ver), não vendendo (do verbo vender) – e isso acabou mexendo com alguns, que se arvoraram diante de suposta crueldade.
Imagino que seja assim que nascem as Fakes News da era digital. Antigamente, o processo boca-a-boca ganhava novo verniz a cada nova intervenção. Me lembro de uma brincadeira que a gente fazia na sala de aula para mostrar os “ruídos” que podem interferir na comunicação, causando mal-entendidos e problemas de toda ordem. A gente pedia para que alguns alunos aguardassem fora da sala, enquanto lá dentro, se combinava uma frase, tipo “o galo do vizinho foi pra panela” que era sussurrada no ouvido do primeiro a ser chamado de volta. Não havia repetição. Depois vinha o segundo, que recebia a mensagem captada pelo primeiro. E assim sucessivamente até todos entrarem, cabendo ao último revelar para a turma como ficara a mensagem final – quase sempre irreconhecível.
Qual a moral da história? Se houver alguma, é que interpretações equivocadas levam a julgamentos precipitados. E depois do ato falho cometido, fica difícil a reparação.
Ah! O gato Samuel tem um mano, o Simão, tão boa vida quanto o primeiro.