Depois do massacre em um dos episódios da quinta temporada de “El Señor de los Cielos”, série que começamos a assistir no início da pandemia, um cansaço existencial muito grande me derrubou. Abrindo um parêntese, recomendo a novela para quem gosta de cenas violentas, de sexo obsessivo, de tráfico e traição, tudo misturado e temperado com boas performances mexicanas. Ah, e com mulheres que acordam lindas e maravilhosas, com o hálito rescendendo a baunilha. Dá uma puta inveja!

Enfim, o tiroteio me derrubou. Fui pra cama mais morta do que viva, decidida a apagar por, pelo menos, oito horas seguidas. Dormir era o único antídoto para toda aquela insanidade, baseada em fatos reais. Relaxar o corpo e acalmar a mente… Transcender… Voar…

Falei “voar”?  Pois é! Aí é que começou novo problema: uma  nanocriatura de asas fazendo looping  ao meu redor. Um vilão milimétrico me infernizando. Na verdade, uma vilã. Percorrendo todas as rotas aéreas, ela analisava o alvo – eu – procurando áreas descobertas para o ataque. De repente ela deu um rasante na minha bochecha, com certeza orientada pelo CO2 da respiração.  O tabefe só doeu em mim, porque a maquiavélica já havia arremetido e ganho altitude. Depois, sedenta de sangue, tentou nova aterrissagem pelo flanco direito. Puxei o edredom.     

O calor era sufocante. Liguei o ventilador de teto. O ruído contínuo não costumava me incomodar, pelo contrário, me enchia de sonhos que me transportavam até um assento reclinável de um avião da Emirates, com destino a Dubai. Sem Covid. Mas não naquela noite infame, com uma alada cheia de fome me perseguindo.

Então desliguei o aparelho. O bom senso me recomendava para que caçasse a encrenqueira ou então que usasse o “Flit”, ou ainda pusesse o aparelhinho na tomada com uma pastilha azul. Ou verde. Mas quem liga pra bom senso numa hora dessas?  

Foi aí que a orgia começou. A danada deve ter convocado suas amigas vampiras para a bebedeira e contratado uma dupla sertaneja para a serenata ao pé do ouvido, porque, de repente, o número de sanguessugas se multiplicara. 

Acendi a luz. Minhas pernocas pareciam o aeroporto Salgado Filho, com aeronaves decolando e aterrissando. Foi aí que percebi a fresta na janela, por onde o cortejo passava.

Que zica! – gritei. E magicamente meu bom humor voltou junto à lembrança da musiquinha ( uma sátira presidencial) sobre o tema Dengue e Zika, com o seguinte refrão:  “É a mosquita que pica”/ “É a mosquita que pica”/   “É a mosquita que pi pi pi pi pica”.