Ingerindo os nutrientes necessários para a saúde, deixar de comer carne não é um problema. A prática tem se tornado cada vez mais comum entre os admiradores dos animais
Mesmo no Rio Grande do Sul, local culturalmente conhecido pelo consumo de carne, já se começa a falar sobre vegetarianismo. Para os admiradores de animais, a ética para com eles é um dos pilares que fazem com que uma pessoa deixe de consumir carne de bois e vacas, porcos, galinhas e peixes. Segundo a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), eles são seres sencientes, ou seja, capazes de sofrer e experimentar contentamento e, por isso, merecem respeito e consideração moral.
Para mudar tão radicalmente o estilo de vida, entretanto, é necessário ter cuidados com a saúde, além de optar por uma das diferentes formas de vegetarianismo que pode ser estrito, lactovegetariano, ovovegetariano, ovolactovegetariano ou vegano.
De acordo com a nutricionista Caroline Dalcin, tanto vegetarianos como veganos devem conhecer os grupos de alimentos e aprender a combiná-los para a melhor obtenção de nutrientes. “Na dieta equilibrada deve haver consumo diário de todos os grupos, sendo opcional o de oleaginosas e amiláceos. No cardápio do vegetariano estrito e vegano, é bom priorizar alimentos ricos em cálcio”, aconselha.
A profissional destaca também que ninguém se sustenta apenas com salada, apesar de ela ser uma parte importante no cardápio. “Não passe fome: use cereais integrais e feijões como base da alimentação e varie os alimentos escolhidos dentro de cada grupo alimentar (cereais, leguminosas, amiláceos, oleaginosas, frutas, verduras e legumes). Para quem consome ovos, enriquecer as refeições e receitas com esse ingrediente é muito nutritivo”, orienta.
Para suprir os nutrientes necessários, por vezes, pode ser preciso que se faça o consumo de suplementação. “Estudos demonstram que apenas a vitamina B12 pode estar em quantidade inadequada numa dieta vegetariana e vegana, mesmo quando bem planejada, e, nesse caso, é necessário complementá-la. Todos os outros nutrientes podem ser adequadamente supridos com uma alimentação bem equilibrada”, sublinha.
Caroline destaca que o cardápio deve incluir alimentos ricos em zinco, ferro, cálcio, vitamina B12 e gorduras do tipo ômega-3. “Se a exposição solar não for adequada (para vegetarianos ou não), deve haver complementação de vitamina D. Apesar de muito comentada, a proteína é facilmente substituída”, realça.
Como fazer a transição?
A nutricionista afirma que nessa mudança radical de alimentação, a pessoa precisa se preparar e ter consciência do cuidado com a própria saúde. “Hoje vejo, no consultório, um estilo de vida muito corrido. As pessoas pouco têm tempo para se cuidar, muito menos para prepararem as refeições saudáveis, então acabam caindo muito no consumo excessivo de refinados, farinhas brancas, açúcares, gorduras e industrializados, o que também não é legal. Esse cuidado que exige mais uma alimentação das ‘comidinhas da terra’, elas precisam ser planejadas e executadas para o corpo equilibrar nutricionalmente todas as necessidades. Se não, esse impacto pode ocasionar um desequilíbrio orgânico e depois tentar fazer o reparo pode custar caro”, esclarece.
Caroline recomenda uma transição para a eliminação de carnes de maneira gradual. “Comece a reduzir os alimentos que são mais confortáveis para eliminar. Depois, gradualmente, vá diminuindo os demais. Em paralelo é importante ter consciência que esse estilo de vida exige mais dedicação, preparo e trabalho. Busque ajuda de um profissional para te auxiliar nesse processo, pois os nutrientes precisam estar bem balanceados, para o corpo não sofrer com desequilíbrios”, recomenda.
Risco à saúde?
Tirar a carne do dia a dia e comer mais alimentos naturais não prejudica a saúde. A especialista em alimentação humana diz que, pelo contrário, a dieta vegetariana e repleta de alimentos coloridos pode ajudar na prevenção e controle de doenças crônicas. “Os alimentos de origem vegetal nos fornecem carboidratos, proteínas, gorduras, vitaminas, minerais e fitoquímicos em quantidades excelentes, podendo suprir todas as nossas necessidades. É claro que nossas escolhas podem nos levar a mais ou menos equilíbrio. Encontramos pessoas com hábitos alimentares impecáveis e outras que adoram junk food. Essa característica não se restringe ao tipo de dieta adotada, mas tem a ver com os hábitos e costumes que cada um de nós trouxe da infância e tudo o que aprendemos com o passar dos anos”, pondera.
A nutricionista também explica que o teor de cada nutriente nos alimentos vegetais é diferente dos encontrados nos de origem animal, mas o equilíbrio obtido com a sua utilização é adequado para a saúde humana, trazendo grandes benefícios. “No laboratório que é a cozinha, podemos facilmente reunir tudo o que nosso organismo necessita e transformar em pratos cheios de cor e sabor”, conclui.