Doença, que causou a morte de uma criança em Bento Gonçalves e entristeceu a comunidade, possui vacinas disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que devem ser tomadas ainda na infância

Na madrugada da última terça-feira, 11 de junho, uma criança de dois anos e 10 meses faleceu com suspeita de meningite. A prefeitura trata o caso como suspeita, pois ainda são aguardados os resultados dos exames enviados ao Laboratório Central (Lacen), em Porto Alegre. Ainda não há um prazo definido para a divulgação dos resultados.

Chocando a comunidade bento-gonçalvense, o incidente ocorreu na Escola Municipal Infantil Arco-Íris da Alegria, no bairro Vila Nova, conforme informações da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) do município. Após ser notificado pelo Hospital Tacchini, para onde a criança foi encaminhada para atendimento, a SMS afirmou, através de nota, ter adotado todas as medidas recomendadas pelo Ministério da Saúde para prevenir novos casos da doença.


O Hospital Tacchini, por meio de sua assessoria de imprensa, declarou que, devido à natureza do caso como um assunto de saúde pública, toda comunicação está sendo coordenada pela Secretaria de Saúde. A secretaria, por sua vez, afirmou que todas as atualizações serão feitas exclusivamente através de comunicados oficiais.

No comunicado, a pasta reitera que os antibióticos preventivos devem ser tomados exclusivamente pelos alunos da mesma sala de aula da criança que morreu com suspeita de meningite, não sendo necessários para outras escolas de Bento Gonçalves. Ainda conforme a Secretaria de Saúde, não haverá a interrupção das aulas no município.

Segundo o Centro Estadual de Vigilância em Saúde do RS (CEVS), a chamada quimioprofilaxia, que envolve o uso do antibiótico rifampicina, embora não garanta uma proteção absoluta e de longo prazo, tem sido adotada como uma medida eficaz na prevenção de casos secundários de meningite. Geralmente, os casos secundários são raros e tendem a surgir nas primeiras 48 horas após o primeiro caso, sendo recomendada para os contatos próximos de indivíduos suspeitos de doença meningocócica.
Os contatos próximos incluem os residentes no mesmo domicílio, aqueles que compartilham o mesmo espaço de dormir, os profissionais de creches e escolas, bem como qualquer pessoa diretamente exposta às secreções do paciente.

Em Bento Gonçalves, no ano de 2022, houve um caso da doença, em uma pessoa de 36 anos. No ano seguinte, foram registradas duas ocorrências, em uma criança de menos de um ano e em um adulto de 32 anos. De acordo com dados divulgados pela Prefeitura Municipal, a cobertura vacinal contra meningite, em 2023, atingiu os 83%. Também são feitas campanhas de vacinação em adolescentes entre 11 e 14 anos, com parcerias com escolas.

O que é a meningite

A meningite é uma doença que afeta as meninges, membranas que envolvem o cérebro, e pode ser provocada por vírus, bactérias ou fungos. O mais comum, no entanto, é que os casos mais graves e com potencial de deixar sequelas sejam causados por alguns tipos de bactérias. Para impedir que isso ocorra, a vacina contra a meningite é fundamental.

A infecção pode ser causada por fungos, vírus ou bactérias. As formas mais graves da doença são provocadas pela bactéria Neisseria meningitidis, também conhecida como meningococo. Nestes casos, se não for tratada rapidamente, a doença pode levar à morte em menos de 24 horas ou ainda causar sequelas graves, como amputação de membros, perda de visão, audição, comprometimento da capacidade motora, epilepsia, paralisia cerebral, entre outras.

O meningococo possui 12 sorogrupos. No Brasil, o sorogrupo mais prevalente é o tipo C. A meningite também pode ser causada por outras bactérias, como a S. pneumoniae, também chamada de pneumococo, o Haemophilus influenzae tipo B, também responsável por casos de pneumonia e o Mycobacterium tuberculosis, bactéria que provoca a tuberculose.

A meningite provocada por vírus tende a ser mais branda e ter uma evolução benigna na grande parte dos casos. Ao contrário, a meningite bacteriana é considerada uma doença bastante grave, especialmente em bebês e crianças menores de cinco anos. Se o paciente não receber assistência médica adequada, a doença tem potencial para levar à morte em poucas horas. Além disso, quanto mais grave for a infecção, maior o risco de desenvolver complicações igualmente sérias.

Sintomas

A meningite bacteriana é geralmente mais grave e os sintomas incluem febre, dor de cabeça e rigidez de nuca. Muitas vezes há outros sintomas, como: mal-estar, náusea, vômito, fotofobia (aumento da sensibilidade à luz), status mental alterado (confusão). Com o passar do tempo, alguns sintomas mais graves de meningite bacteriana podem aparecer, como: convulsões, delírio, tremores e coma.
Em recém-nascidos e bebês, alguns dos sintomas descritos acima podem estar ausentes ou difíceis de serem percebidos. O bebê pode ficar irritado, vomitar, alimentar-se mal ou parecer letárgico ou irresponsivo a estímulos. Também podem apresentar a fontanela (moleira) protuberante ou reflexos anormais.

Na septicemia meningocócica, também conhecida como meningococcemia, além dos sintomas descritos acima, podem aparecer outros como: fadiga, mãos e pés frios, calafrios, dores severas ou dores nos músculos, articulações, peito ou abdômen, rigidez na nuca, respiração rápida, diarreia e manchas vermelhas pelo corpo. As meningites viral, parasitária e fúngica apresentam sintomas semelhantes, por isso é imprescindível a avaliação de um médico nestes casos.

Esquema vacinal

Na rede pública de saúde, são oferecidos cinco tipos de vacinas. Já na rede privada, podem ser encontrados outros três tipos, com valores que variam de R$ 350 a R$ 900.

Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS), não oferece as vacinas contra meningite tipo B. O Projeto de Lei 1286/23 inclui a vacina contra doenças causadas pela bactéria meningocócica do tipo B no Programa Nacional de Imunizações (PNI), cabendo ao Ministério da Saúde definir o público-alvo, as estratégias para vacinação e os investimentos necessários. O texto está em análise na Câmara dos Deputados. O projeto tramita em caráter conclusivo e será analisado pelas comissões de Saúde; de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

De acordo com o autor da proposta, o deputado Dagoberto Nogueira, essa variante é considerada uma das mais letais. “A meningite tipo B é uma doença grave e representa até 40% das meningites diagnosticadas no Brasil. Sobreviventes poderão depender de benefícios previdenciários ou assistenciais por toda vida”, expõe.

Ainda de acordo com o deputado, 70% dos brasileiros ganham até dois salários mínimos, o que dificulta a adesão à vacina contra a meningite tipo B. “Pela alta taxa de mortalidade, pelos severos danos físicos e neurológicos nos sobreviventes e pelo impacto econômico da meningite tipo B na saúde pública, faz-se necessário e urgente inserir no PNI a vacina, com objetivo de erradicar a doença, como ocorreu com a varíola e a poliomielite”, defende Nogueira.

Medidas de prevenção e controle

A principal medida de controle a ser desencadeada nas doenças meningocócicas para reduzir o contágio e, consequentemente, o número de casos, é a notificação e investigação oportuna da suspeita para a pronta administração da quimioprofilaxia aos contatos próximos do caso suspeito.
Em situações específicas de surto de meningite, pode ser considerada a vacinação, desde que o sorogrupo que está causando o surto seja conhecido e se tenha a vacina disponível. A decisão de vacinação em um surto é acordada entre as três esferas de governo. Outras medidas importantes são a higiene das mãos e alimentos, bem como a ventilação do ambiente.