Obra instalada na Praça Achyles Mincarone simboliza a força coletiva que atuou na reconstrução da cidade e estradas após a tragédia climática
Na tarde da terça-feira, 8 de julho, a Praça Achyles Mincarone, em Bento Gonçalves, foi palco da inauguração de um monumento que eterniza a união e a solidariedade de uma comunidade diante da catástrofe climática vivida em maio de 2024. A obra, idealizada e executada pela artista visual Karen Poletto Jacobs, é um marco físico do movimento Unidos por Bento, que congrega quase 20 entidades lideradas pelo Centro da Indústria, Comércio e Serviços (CIC-BG). A iniciativa homenageia todos os que atuaram de forma voluntária e organizada na reconstrução da cidade após as enchentes. “A obra representa aquele rasgo deixado nas montanhas, aquela força que vai cair como uma cicatriz eterna.
Representa as mãos que reconstruíram tudo o que foi perdido, com muita garra e união”, declara a artista Karen Poletto Jacobs, ao agradecer a confiança para eternizar o momento por meio da escultura.
O movimento Unidos por Bento foi reativado em maio de 2024, após convocação do prefeito Diogo Segabinazzi Siqueira, mas teve origem ainda em 2020, quando foi criado para construir os 40 leitos da UTI do hospital municipal durante a pandemia da Covid-19. A força dessa retomada envolveu entidades como AGAS, Aprovale, Ascon Vinhedos, Bento Convention, CDL-BG, Fundaparque, Movergs, OAB, SEGH, Sidmóveis, SIMMME, Simplavi, Sindibento, Sindilojas, Tacchini, Uvibra e Sicredi Serrana, que, inclusive, dobrou os valores arrecadados em ações de solidariedade.

Durante a cerimônia, o presidente do CIC-BG, Carlos Lazzari, relembrou como o grupo foi formado e destacou a importância da agilidade nas decisões, graças à criação do chamado “grupo alfa”, um núcleo estratégico com quatro entidades. “Criamos um grupo de entidades para tomar decisões rápidas, porque não era viável reunir todas as demais o tempo todo. E conseguimos aplicar os recursos com responsabilidade”, explica.
Lazzari também reforçou o valor simbólico do monumento como um registro histórico da tragédia vivida e da resposta coletiva da cidade. “Essa obra eterniza a união de uma comunidade que, mesmo diante da dor, se organizou para reconstruir. Estamos vendo eventos parecidos em outras partes do mundo, como no Texas, onde dezenas de pessoas morreram por enchentes. Esse é o novo normal, e precisamos estar preparados”, alerta.
A ideia dos três monumentos, um em Faria Lemos, outro em Tuiuty e o inaugurado na Avenida Planalto, partiu de Euclides Longhi, também integrante do grupo. “Esse monumento simboliza a dor e a tristeza, mas também a união. Cada pessoa que passar por aqui vai lembrar da força de um povo que se uniu para reconstruir”, afirma.

A fala do presidente da Sicredi Serrana, Marcos Balbinot, trouxe uma reflexão sobre a importância dos símbolos como parte da construção da memória coletiva. “O ser humano carece de símbolos, de rituais. Esse monumento fala de uma comunidade, mas especialmente de pessoas. Líderes que, muitas vezes no anonimato, se doaram. Hoje, somos testemunhas do nascimento de um marco que, daqui 50 ou 100 anos, continuará contando a história da solidariedade desse povo”, declara.
Setor público reconhece força da comunidade na reconstrução
O prefeito de Bento Gonçalves, Diogo Segabinazzi Siqueira, exaltou a mobilização das entidades e voluntários, e também reforçou a importância da participação ativa da sociedade civil. “Grandes lideranças foram escolhidas. Cada entidade fez a sua parte, cada um na sua especialidade. E as instituições de segurança foram incansáveis, com o pé no barro e o corpo molhado. Estavam lá, sempre juntos”, recordou emocionado.
O prefeito também fez um paralelo entre a lentidão da máquina pública e a agilidade da iniciativa privada. “A iniciativa privada capta o recurso, faz o projeto e toca a obra. O setor público ainda está encaminhando documentos, esperando análise e tentando receber promessas um ano depois. É por isso que essa união com a comunidade foi essencial”, defendeu.

Siqueira ressaltou ainda que não houve vaidade no processo. “Aqui ninguém queria aparecer mais do que o outro. Todo mundo queria ajudar. Bento deu uma aula ao Brasil. E, se um dia precisarmos reativar o movimento, sei que será com a mesma força e eficácia.”
“As mãos solidárias fazem a vontade de Deus”
Encerrando o evento, o padre Pedro Carissimi expressou em poucas palavras o que o monumento representa: “Os rasgos são grandes, mas sobressaem as mãos solidárias que transformam. As mãos que fazem a vontade de Deus, as mãos que louvam o Deus da vida”, disse.
A cerimônia foi acompanhada por autoridades, representantes das entidades, voluntários e membros da comunidade. O movimento Unidos por Bento segue como um exemplo de resposta eficiente às adversidades, um reflexo da força, empatia e capacidade de mobilização de uma cidade que escolheu, mais uma vez, caminhar junta.