Ela recebe ataque de todos os lados. Os golpes são os mais baixos possíveis e, muitas vezes, de quem menos se imagina, aliás, de quem, inclusive, teria até mesmo um poder supremo para defendê-la. É ela a família, a idosa senhora heroína e mãe da sociedade, a qual, diante de tantos nocautes, ainda resiste, embora em trapos.

Um de seus maiores algozes, senão o maior, é o vício, velho “senhor” conhecido e maquiavélico, mestre na arte de camuflar-se; do antigo ópio, se desfaz em fumaça, vira pó, se embriaga na sede, joga em todas as mesas, campos e telas, vende-se como moda para todos os corpos e medidas, embora se alimente de cérebros – não sem antes escravizá-los.

Uma escravidão “moderna”, sem preconceito, uma escravidão sem racismo, uma escravidão sem classe social definida, ironicamente – me perdoem – democrática, aberta à toda sociedade, a qual parece não enxergar que está a se corroer por dentro, cujos Poderes do Estado e instituições se desautorizam mutuamente, o que não significa, em tais casos exercer, a independência de suas respectivas atribuições, mas uma sobreposição de poderes, que leva à perda de sinergia e foco na solução de um problema que se arrasta na saúde pública, batendo a porta dos hospitais, clínicas psiquiátricas, bem como desafia diariamente as forças de segurança pública na necessária pronta resposta, diga-se, diante da difícil interpretação legal da resposta à equação da progressiva e proporcional força a ser empregada sob o zumbido da morte em ação. Na mesma medida, se acumula em inquéritos nas delegacias de polícia, processos nos tribunais, falta de vagas em presídios e, acima de tudo, aleija ou mata inocentes e culpados, cujas lápides não lhes faz justiça, pois não lhes distinguem.

E o futuro? Uma aposta?

Apostas engordando ainda mais o velho “senhor” vício sairão da penumbra do branco dos bloquinhos e porões malcheirosos sem ventilação, pois a possível abertura de cassinos, bingos etc. trará nas mangas a dúvida da existência de cartas marcadas, “lavanderias”, num primeiro momento com o beneplácito desconhecido da parte que cabe ao rei Estado; se descoberto… já não sei… afinal, ultimamente, tudo virou uma grande aposta.

De tudo isso e sem lavar as mãos na bacia de Pilatos, permito-me unicamente dizer que tal escravidão, da qual somos conscientes no presente, não haverá de ser merecedora de qualquer reparação histórica no futuro, pois vítimas ou culpados, o passado sempre nos condenará, seja por omissões, ações e, em especial, escolhas cujo egoísmo do prazer momentâneo dolosamente contribui de grama em grama com uma sociedade que balança.

E enquanto o futuro não vem, dadas as últimas notícias de peso, cujo fiel da balança parece viciado, historicamente, o então Duque de Lauenburg, o Príncipe Otto von Bismarck-Schönhausen, então primeiro-ministro do reino da Prússia (1862-1890), acredita-se, tomado pela insônia, assim alertava o mundo: “Os cidadãos não poderiam dormir tranquilos se soubessem como são feitas as salsichas e as leis”. Mal sabia ele que isso poderia virar jurisprudência.

Vamos em frente!