Apontar erros gramaticais dos outros parece ser divertido. Lê-los de uma forma condensada, mais ainda. Mas, em nome dos que já “atentaram contra a Língua” e em meu próprio nome, embora ainda não esteja nas manchetes da tal página do face que “malha” a imprensa da região, vou justificar a ocorrência das escorregadelas:
Nosso amado e odiado Português possui um vasto vocabulário – um verdadeiro exército, com mais ou menos 600 mil vocábulos prontos para entrar em guerra mesmo que seja em defesa da paz. A cada dia, novos soldados vão se incorporando às forças armadas – li que, nos Estados Unidos, surge um neologismo a cada 98 minutos. Aqui no Brasil, não sei de pesquisa que tenha calculado o ritmo dessas incorporações, mas suspeito que clonagens ganham voz e vez diuturnamente, seja através de métodos ortodoxos – um prefixo ali, um sufixo acolá, uma união, aglutinação, redução… – seja pelas crias das ruas, como as gírias e onomatopeias.
Além disso, temos os estrangeirismos, que infernizam nosso cotidiano. São uma espécie de mercenários que engrossam os batalhões sem passarem por regras de seleção. Não importa o tamanho, se exibem tatuagens, se são extremistas, libidinosos, assexuados… todos entram em nosso território sem fronteiras e sem preconceitos, passando a ganhar status.
Há coisas do arco da velha, como, por exemplo, este ogro de 46 letras, pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconitico (doença pulmonar causada pela inspiração de cinzas vulcânicas), que bota no chinelo o proclamado “inconstitucionalissimamente”. Há coisas recicladas que, de tempos em tempos, ganham novos significados. São palavras que azulam das prisões semânticas para curtir a liberdade de expressão. Há coisas inusitadas que nos derrubam ao primeiro ataque, ou melhor, nos deletam com um simples approach, seja através do mouse ou de um hit musical. E então? Existe winchester humano capaz de guardar tanta informação?
Eu sei, eu sei! A gente só faz uso de pouco mais de uma dezena de vocábulos no dia a dia, mas os exércitos estão aí, de prontidão. É só um maluco qualquer dar o sinal que as palavras disparam… E como disparam! Elas carregam armas mortíferas, capazes de dizimar a dignidade, o respeito, a autoestima (My God! Com hífen ou sem hífen?). Elas podem ser terríveis! Mas – é claro – também podem ser sensíveis… Há legiões de boa vontade que fazem parte dos dicionários, acolhendo, abraçando, acarinhando, amando…
Por tudo isso, diria que nossa Língua é mãe e madrasta, com quem temos uma relação de amor e ódio. E para que a comunicação flua sem mortos e ferido, é melhor a gente respeitar suas idiossincrasias. Até porque os críticos de plantão, que mostraram a coragem – ainda não, a cara – estão na espreita…