Pioneiro no cultivo de pitaya na região, Dorvalino Rizzardo possui 5 mil cactos e uma produção que chega a 4 toneladas
No setor de hortifruti, entre laranjas, limões e bananas, uma fruta bastante distinta atrai os olhares curiosos de quem passa pelo corredor. Um casal para e observa. A mulher pergunta “O que é isso?”. O homem analisa a plaquinha, admite não conhecer. “Vamos provar um”, diz, enquanto ensaca uma delas. Conhecida nos países de língua inglesa como “fruta dragão” devido a sua casca colorida e escamosa, aqui, a chamativa fruta leva o nome de pitaya, ou ainda pitaia – que significa escama em língua indígena.
Embora a bibliografia sobre o tema seja escassa, e ainda não existam estimativas consistentes sobre o número de produtores e nem acerca do consumo per capita do brasileiro, a crescente presença do fruto como ingrediente em vinhos, chás, iogurtes, entre outros, ademais de sua facilidade de manejo e adaptação, fazem com que o cultivo da pitaya comece a se tornar uma alternativa lucrativa para agricultores de diferentes partes do Brasil, sendo mais comum na região Nordeste. Na Serra Gaúcha, embora a planta ainda seja novidade, há pelo menos um produtor em Caxias do Sul, um em São Francisco de Paula, um em Santa Tereza e outro em Nova Prata. Em Bento Gonçalves, o pioneiro é Dorvalino Rizzardo, 67, que há três anos resolveu apostar na produção dessa exótica variedade de cacto.
Frutos da curiosidade
Como que espantado e apaixonado pelo resultado de seu próprio trabalho, Rizzardo caminha entre as fileiras de cactos apontando a beleza dos frutos que começaram a florescer na última semana. Olhando, primeiro, para o horizonte ao norte, até onde se erguem as últimas plantas de pitaya no ponto mais elevado do terreno, e depois, ao sul, onde a plantação desce até encontrar às margens do Rio das Antas, pergunta, retórica e emotivamente, mais de uma vez: “Tem como imaginar que eu plantei tudo isso sozinho?”.
Localizado em meio às estradas de chão da Linha Demari, no distrito de Tuiuty, a plantação de pitayas de Rizzardo ocupa, junto há outras variedades de frutas, um terreno de 5 hectares. Plantar, segundo ele, é um hobbie, uma diversão com a qual pôde retomar suas raízes de homem do campo. “Morei até os 28 anos no Burati, lá a gente tinha parreiras. Depois que vim para a cidade, me dediquei 35 anos ao mercado, mas me cansei e deixei com meu filho. Queria voltar para a terra. Comprei esse terreno aqui, plantei fruta do conde e todo tipo de fruta, por passatempo mesmo. Amo a colônia!”, exclama.
Misto dessa paixão pela terra e da dedicação diária, a expansão do cultivo de pitaya se deu quase que naturalmente. O que inicialmente eram apenas sete mudas de uma planta até então desconhecida se multiplicou, tornando-se, em pouco tempo, um cultivo de 5 mil cactos. O começo, no entanto, foi mero acaso, como conta Rizzardo. “Desci até o Vale do Caí para comprar mudas de fruta do conde, aí vi os cactos lá e me chamou a atenção, achei bonito. Paguei R$9 por cada uma das as sete mudas que eles tinham lá e levei todas para casa. Eu nem tinha ideia que fruta que dava”, comenta.
Ao ver as plantas trazidas pelo pai, Rudinei Rizzardo, também ficou curioso, e então resolveu buscar mais informações sobre as mudas. Foi então que, junto à Dorvalino, rumaram à Santa Catarina, onde descobriram que havia um número maior de produtores. “Meu filho me perguntou como é que eu plantava algo sem saber o que é”, lembra humorado, Dorvalino. “Então a gente foi buscar informação em Santa Catarina. Visitamos cinco produtores lá, um com mais de 40 mil mudas. Os colonos catarinenses nos ensinaram tudo sobre a pitaya, como fecundar, como plantar”, explica.
Foi então que Rizzardo resolveu apostar alto. Deu fim às parreiras que ocupavam o terreno que havia comprado há dez anos, e trouxe dois caminhões carregados de Santa Catarina, com um carregamento de 4 mil mudas de pitaya. Em 12 de fevereiro de 2016, data que guarda na memória, plantou as primeiras mudas. Em dezembro do mesmo ano veio a primeira colheita.
Sobre a produção
Apesar de quatro partes de sua produção seja de pitaya branca, Rizzardo começa a apostar também em novas variedades: amarela, cor vinho, e a vermelha, que já conta com 1 mil plantas. Essa última, como explica, dá frutos menores, porém mais doces. A ideia em plantá-las, no entanto, não é tanto pelas pitayas que produz, mas sim, por ser uma variedade que gera o pólen necessário para fecundar as outras plantas, acelerando toda a cadeia produtiva.
Embora os cactos dessa espécie se adaptem facilmente em diferentes regiões e as plantas cresçam e produzam sem grandes interferências, o manejo é cuidadoso e feito diariamente. É preciso, entre outras coisas, manter os ramos para baixo, para que os frutos cresçam. Ademais desse processo, a polinização também é feita de maneira manual à noite, quando a flor da pitaya se abre. Depois de polinizada, em 40 dias se dá a primeira colheita.
Segundo Rizzardo, é possível fazer até quatro colheitas por ano. Atualmente, cada colheita gera até 4 toneladas. Ademais dos frutos que vende em seu próprio supermercado e para grandes depósitos da região, também vende mudas para novos produtores. A evolução, comenta, não para por aqui. “Fui até a Embrapa, em Turvo, Santa Catarina, e comprei 20 mudas de uma nova variedade que eles fizeram lá. Essa dá até 15 colheitas por ano. Ainda não brotou, mas espero que dê uma fruta bem bonita”, projeta.