Com apoio da família, Luiza, de 12 anos, conta como enfrentou por dois anos um Sarcoma de Young na coluna
Um câncer na coluna acometeu a jovem Luiza Cerezzoli, então com 10 anos de idade. A partir disso, iniciou uma dura luta em busca da recuperação, que contou sempre com o apoio da família. Dois anos depois, a menina, que sonha em ser modelo, está recuperada e, aos poucos, volta a realizar atividades que antes era impedida.
A luta de Luiza começou em 2016. A menina sofria com dores nas costas e pernas, que alcançaram níveis extremos, só solucionados mediante injeções. Após procurar médicos e realizar exames, veio o diagnóstico, como conta a mãe, Lorete Dresseno. “O médico nos informou que a Luiza tinha um Sarcoma de Young, um tumor agressivo, na região da coluna, que inclusive quebrou a vértebra T12, por isso as dores. Esse tumor abraçou a medula e, a partir disso, poderia estrangular, e a Luiza não iria conseguir mais andar. Isso seria em questão de 15 a 20 dias”, lembra.
A partir disso, começou a peregrinação da família e da menina, com sessões de quimioterapia em Caxias do Sul e posteriormente, radioterapia, em Porto Alegre. Além disso, internações, transfusões de sangue e plaquetas tornaram-se rotina. Para Luiza, uma situação de difícil entendimento. “No começo foi difícil pelas dores e eu não entendia o que era, tinha muito medo. E nas ‘quimios’ e radioterapias, tinha bastante enjoo, me preocupava, tinha muito choro, às vezes não queria ir, mas a mãe e o pai sempre falavam para não desistir”, conta.
A mãe complementa o sentimento da filha. “A Luiza chorou muito quando caiu o cabelo, ficou bem abalada. Tinha uma ‘quimio’ que atacava a boca, enchia de afta e outra que atingia o rim, além da rádio, indo e vindo por 25 dias. Era ruim, não podíamos deixar de fazer nada”, aponta.
O cenário, que já era complicado para a família, tornou-se ainda mais complexo em meio ao tratamento, de acordo com Lorete. “A médica nos disse que era preciso fazer uma cirurgia na Luiza. Ficamos no impasse entre realizar em Bento ou Caxias do Sul, mas acabamos em Passo Fundo. Lá, descobrimos que não adiantaria tirar apenas o tumor, mas sim todo o local por onde ele passou. Ela teria que cortar a medula e as chances de cura não eram 100%. Então, optamos por seguir o tratamento”, explica.
Apesar das dificuldades, a família mantinha a rotina de Luiza a mais normal possível dentro das condições. “Nunca deixamos ela como uma doente. Saíamos para o cinema e para passear. A única barreira foi a escola, pois ficou dois anos sem ir, porque se sentia muito fraca. Luiza sempre foi muito magra e chegou a pesar 27kg, desmaiava ao caminhar. Mesmo assim, nunca desistimos e sempre falamos que ela não veio por acaso, que iria vencer com fé”,destaca.
Além de contar com os cuidados da família, a menina lembra do apoio dos colegas e amigos, mesmo sem ir ao colégio. “Quando voltei do hospital fui visitar meus colegas na escola. Eu sofria bastante por não poder estar lá, brincar com eles. Conversávamos pelo celular da mãe por aplicativos. No ano seguinte, ganhei meu celular e pude falar com eles. Não era a mesma coisa de quando eu via eles, mas me sentia feliz”, conta.
A Liga de Combate ao Câncer também teve apoio fundamental na superação, como lembra a Lorete. “Se não tivesse a Liga, eu não sei como seria. Tivemos ajuda com remédios, psicóloga, grupos de apoio, auxílio para ir até Caxias e Porto Alegre, entre outros. Hoje, sou eu que quero contribuir”, destaca.
A presidente da entidade, Maria Lúcia Severa, ressalta o papel do grupo no suporte às famílias. “Nós procuramos dar carinho e apoio para a família acometida pelo câncer do início ao fim do tratamento. Abrimos os caminhos para que a criança tenha o tratamento e o direcionamento correto, além de tirar todas as dúvidas perante a nossa equipe de especialistas. É satisfatório e nos sentimos felizes quando tudo está no melhor caminho para todos” frisa.
“Meu sonho é viajar pelo mundo”
Passados dois anos da descoberta do tumor, e já em estado avançado de recuperação, Luiza retoma suas atividades. “Me sinto bem melhor. Não é aquela coisa de antes, não consigo ainda correr, mas estou indo aos poucos, principalmente brincar e ir para a escola” conta.
A mãe complementa. “Tínhamos medo no início pela fraqueza, visto que ela poderia cair e ter uma lesão, mas está tudo bem. Ela está tendo cuidado de um ortopedista, faz pilates devido a uma escoliose, mas segue uma vida normal”, enaltece.
Normalidade esta, que faz com que a menina alimente sonhos e mantenha o sorriso, marca registrada mesmo nos piores momentos, mais aberto. “Eu sonho em criar minha própria família, viajar pelo mundo, começar a trabalhar e ser bastante feliz. Estou tentando, com ajuda da minha família, a conseguir uma carreira de modelo”, revela.
Apesar de estar bem e feliz, Luiza ainda mantém cuidados referentes ao câncer. “A cada 40 dias faz raio-X e visita a a médica. Além disso, a cada seis meses uma ressonância para saber sua situação”, destaca.
A menina também mantém rotina de alimentação e voltou a poder comer o que tanto gosta. “Açúcar e farinha foram cortados. Agora, como de tudo, principalmente chocolate”, reconhece.
E quando perguntada o que diria para uma criança na mesma situação, Luiza foi enfática. “Para ter bastante força e acreditar em tudo que falam os médicos e os pais. Fazer o tratamento certo e ter bastante fé, pois uma hora ela vai conseguir superar”, pondera
Ajuda esta que Luiza se orgulha em já ter prestado durante o tratamento. “Fiz o mesmo com a Sara, uma menina que conheci durante o tratamento que tinha câncer de pulmão e agora na coluna. Falei para ela que mesmo em cadeira de rodas, não desistisse. Esse o conselho”, revela.