Após anos de negociações e projetos, asfaltamento do trecho que liga Santa Tereza à Muçum deve sair do papel ainda este ano
Agora é esperar. Pelo menos é o sentimento da maior parte dos moradores de Santa Tereza e entorno que aguardam ansiosamente pela pavimentação asfáltica da estrada que liga o município até Muçum. O projeto, que deu os primeiros passos em 2012, passou por reformulações, debates, porém, nunca saiu do papel. Agora, a promessa é do governador do Estado, Eduardo Leite, que autorizou a destinação de recursos para o início das obras. Muito mais que devolver a autoestima dos moradores da estrada de chão, a rodovia será elo entre as cidades da Serra e do Vale do Taquari. Não apenas para o turismo, carro chefe do projeto, mas, também, para o escoamento da produção entre uma região e outra. Enquanto a obra não sai do papel, lideranças políticas, empresários e comunidade projetam um futuro, considerado por eles, promissor.
É o caso de Claudia Gelatti, moradora de Santa Tereza, que vê, diariamente, a movimentação de carros e caminhões pelo trecho. Por dia, ela estima que passem cerca de 100 veículos. Já nos finais de semana, o movimento dobra. Segundo ela, a pavimentação em frente à sua propriedade não vai apenas embelezar e reduzir a poeira que atinge a residência, principalmente nos dias de tempo seco. Para ela, a obra deve garantir valorização da casa e também prospectar novos investimentos. “Com o asfaltamento, vou poder abrir uma janela e deixar arejando a casa. Hoje não consigo fazer isto, somente em dias de chuva. Também vou poder ver minha casa limpa”, revela. “Não sei se novas moradias serão construídas, devido à margem do rio ser bem próxima da estrada, mas meu imóvel, tenho esperança que seja bem valorizado”, acredita.
Claudia ainda demonstra certa incredulidade quanto ao início da pavimentação. Isso porque, segundo a moradora, há quase 30 anos a situação vem se enrolando, sem uma definição concreta, o que acaba frustrando quem reside por ali. “Foram tantas promessas que fico com um pé atrás. São 28 anos que estou à espera desse sonho”, pontua.
Apesar da incredulidade quanto à efetivação do projeto, o governo estadual já deu sinal verde para o andamento da proposta. Neste primeiro momento, deverão ser investidos recursos de aproximadamente R$ 10 milhões. Conforme o prefeito de Roca Sales, Amilton Fontana (MDB), o projeto está na fase final, aguardando a data para assinatura do convênio entre os municípios de Santa Tereza, Roca Sales e Muçum. “Além do recurso por parte do Estado, cada município deverá apresentar contrapartida de 10%, de acordo com seu trecho contemplado”, explica. A expectativa é de que a assinatura do acordo ocorra ainda este mês.
Com o asfaltamento, vou poder abrir uma janela e deixar arejando a casa. Hoje não consigo fazer isto, somente em dias de chuva. Também vou poder ver minha casa limpa.
Claudia Gelatti – moradora de Santa Tereza
Com a obra saindo do papel, não somente os moradores poderão comemorar. O setor público também projeta um novo tempo para as duas regiões. É o caso de Muçum que espera alavancar o setor de turismo e, ao mesmo tempo, fomentar a economia. Conforme o prefeito, Mateus Giovanoni Trojan (MDB), a pavimentação da rota é um marco histórico e um divisor de águas. “Através do projeto, visualizamos um impulsionamento econômico da região do Vale do Taquari, tendo Muçum como a cidade que é porta de entrada, incrementando significativamente no nosso turismo, e permitindo a ligação com o Vale dos Vinhedos, uma das regiões turísticas mais procuradas do Brasil. Há também um facilitador no escoamento da produção, que deve se tornar perceptível com o passar dos anos. Toda a região tem muito a ganhar com isso, mas eu diria que Muçum talvez seja a cidade com maior potencial de agregar na circulação de pessoas, e, consequentemente, no comércio e prestação de serviços”, acredita.
Santa Tereza também trabalha na elaboração de propostas sustentáveis com a chegada do asfalto. Entre os principais setores beneficiados está o escoamento da produção, uma vez que tudo é feito via estrada de chão ou por outras rotas que acabam encarecendo os custos. Conforme a prefeita Gisele Caumo (PTB), há expectativa da ampliação de negócios entre produtores e novos mercados. “Junto com a modernização e facilitação do escoamento pela rota, tem-se a expectativa de surgimento de novos negócios no trecho, para atender os trabalhadores do gênero, fomentando a economia municipal”, aponta.
O turismo também deve passar a ser visto com outros olhos na pequena cidade. Com a ligação entre as duas regiões, a estimativa é de que o município entre no roteiro de quem visita o Vale do Taquari, principalmente, com a construção do monumento do Cristo Protetor, em Encantado, que deve aumentar o fluxo de pessoas nos próximos anos. A prefeita destaca a necessidade de construir um conjunto de ações entre Poder Público e iniciativa privada para o crescimento e aprimoramento do setor. “Apesar de venerar e acreditar na potencialidade turística de Santa Tereza, sou e estou consciente de que há muito trabalho pela frente para alcançarmos a evolução. O município está ‘engatinhando’, mas com técnica, união dos setores, perseverança e muito trabalho, certamente, em um futuro não muito distante, estaremos cultivando os resultados ansiados para a perpetuação do tão ambicionado setor turístico”, revela.
Junto com a modernização e facilitação do escoamento pela rota, tem-se a expectativa de surgimento de novos negócios no trecho, para atender os trabalhadores do gênero, fomentando a economia municipal.
Gisele Caumo – prefeita de Santa Tereza
Cachaçaria será o primeiro empreendimento beneficiado em Santa Tereza
Entre os empreendedores animados com a obra futura está Ivandro Remus, proprietário de uma cachaçaria instalada no trecho que receberá a pavimentação asfáltica, na área de Santa Tereza. Ele revela que o projeto é fruto da união dos municípios das duas regiões e que agora deve sair do papel, principalmente, pela vocação turística dos locais. Mesmo sem nenhuma definição até então, Remus já finalizou a construção de um novo espaço para a cachaçaria. “Sempre apostamos e acreditamos em nosso potencial. Neste ano, nós executamos e finalizamos a construção do prédio”, revela.
Remus acredita ainda que a obra vai beneficiar o município, principalmente no setor turístico. No entanto, ele ressalta que apenas a pavimentação asfáltica não será suficiente. É necessário o engajamento de lideranças na divulgação e elaboração de rotas para fomentar a vinda de visitante à Santa Tereza e cidades do entorno. “Nós precisamos ter uma estrutura pronta para receber os turistas que estão na região. Acreditamos que com mais sinalização turística no Vale, panfletagem em todos pontos turísticos, aos poucos os turistas chegarão em nossa cidade”, garante.
Sempre apostamos e acreditamos em nosso potencial. Neste ano, nós executamos e finalizamos a construção do prédio.
Ivandro Remus – empresário
Vale dos Vinhedos aposta no aumento de visitantes
Se para o Vale do Taquari a obra deve dar um novo momento para o turismo, em Bento Gonçalves, mais precisamente no Vale dos Vinhedos, a expectativa é de crescimento na visitação. Conforme a diretora de Enoturismo da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), Deborah Villas-Bôas Dadalt, o asfaltamento deverá encurtar a rota de quem está por aquela região e deseja vir para cá. “A Serra Gaúcha, aos olhos do restante do país, é um destino só, mas, infelizmente, os turistas são limitados pelas dificuldades de acesso a conhecer melhor sua diversidade. Esse projeto já é um pleito de 12 anos e merece total atenção do governo estadual, pois prevê asfaltamento de 60 quilômetros pela rota do Pão e do Vinho. Será fundamental para atrair maior fluxo turístico, além de facilitar o escoamento da produção na época de safra”, acredita.
Para o secretário de Turismo de Bento Gonçalves, Rodrigo Ferri Parisotto, o modal é importante para o município, principalmente no campo do turismo. De acordo com Parisotto, com articulação entre lideranças do setor público e privado, o projeto tende a fortalecer as ações desenhadas pelo setor turístico em Bento Gonçalves. “Percebemos que com a construção do Cristo Protetor de Encantado, estrategicamente Bento está ao centro no caminho que liga esta região com a das Hortênsias e isso proporcionará a oportunidade de viagens de maior permanência onde todas as cidades destes trechos serão beneficiadas”, pontua. “As cidades que estarão por esses caminhos aproveitarão o fluxo de conexão entre regiões e isso vai gerar demandas de hospedagem, visitação à atrativos, alimentação e tudo que é proporcionado pelo turismo. Ainda não conseguimos prever números relacionados a isso, mas certamente, independente disso, será uma oportunidade para todos que trabalharão fortemente políticas públicas relacionadas ao turismo”, acredita.
As cidades que estarão por esses caminhos aproveitarão o fluxo de conexão entre regiões e isso vai gerar demandas de hospedagem, visitação à atrativos, alimentação e tudo que é proporcionado pelo turismo.
Rodrigo Ferri Parisotto – Secretário de Turismo de Bento Gonçalves