Mais uma vez, o Senhor Imponderável dos Anjos faz uma visita ao nosso roçado político-institucional. Desta feita, para dar um susto no aclamado ministro da Justiça do Governo Bolsonaro, Sérgio Moro, e puxar o tapete onde desfila, impávido, um dos mais estridentes acusadores da Operação Lava Jato, o procurador do Ministério Público, Deltan Dallagnol. As duas midiáticas figuras tiveram conversas publicadas no site The Intercept Brasil, criado pelo jornalista investigativo norte-americano Glenn Greenwald, também conhecido por ter ajudado o ex-analista de sistemas Edward Snowden a revelar informações secretas da Agência de Segurança Nacional dos EUA.
Estrela mais brilhante da constelação Lava Jato, Moro ganhou aplausos da sociedade. Tornou-se ícone da Moral, a ponto de ser elevado ao patamar de presidenciável, posição que deve sustentar seja qual for o desfecho do caso do vazamento. Conseguirá o ex-juiz se livrar da enroscada em que foi jogado por hackers que teriam invadido a rede Telegram de membros do MP? Há grande expectativa sobre o resultado das investigações que começam a ser feitas pela PF (sob o comando de Moro). A depender de novas mensagens prometidas pelos “invasores”, o imbróglio tem potencial para ir longe.
A frente política faz barreiras contra o ex-juiz. Parlamentares tentam formar uma CPI para apurar ilicitude em sua conduta, mas os presidentes da Câmara e do Senado se opõem. Moro era uma pedra no sapato de políticos envolvidos em embaraços. Portanto, há interesse em fechar a torneira da Lava Jato.
O maior ganho será de Lula, cuja posição de vítima de perseguição por parte de Moro e dos procuradores será esbravejada pelo PT. Lula tende a reocupar o centro do oposicionismo, enquanto a galera das ruas fará eco à sua condição de injustiçado. Se continuar preso, terá reforçada a pressão por liberdade. Se não for condenado em 2ª instância no caso do sítio de Atibaia até setembro, adquire o direito de prisão em regime semiaberto ou domiciliar. O PT, glorioso, antecipa o discurso eleitoral de 2022.
Resumo: seja qual for a trajetória de Moro e Dallagnol, a Lava Jato levou um tiro.
GAUDÊNCIO TORQUATO
Jornalista e professor da UCS