Quando se pensa em viajar, principalmente para longas distâncias, provavelmente a maioria das pessoas pensam no carro, ônibus ou avião como meio de transporte. Esse, não é o caso do empresário bento-gonçalvense, Eduardo Putton, de 51 anos, que quando planeja uma viagem, é sempre com o objetivo de estar sobre as duas rodas da bicicleta que já o apresentou para seis países diferentes desde que começou com essa prática em 2004.
Putton relembra que foi durante uma viagem de carro com a esposa, Simone Alberici Putton, 49 anos, e a filha Maria Eduarda Alberice Putton, 20 anos, pela Patagônia, que despertou sua vontade de começar a pedalar. “Europeu viaja muito de bike, vi muita gente viajando de bicicleta e me deu vontade. Voltei para casa, comprei uma bicicleta, comecei a pedalar, a pegar forma e migrei para viagem”, conta.
Quando faz uma viagem internacional, é sempre de avião. Porém, a partir do momento que pousa no destino escolhido, o único meio de locomoção utilizado já se torna a bicicleta. “Quando chego, monto a bike no aeroporto mesmo e a partir dali não uso outro tipo de transporte”, explica Putton.
O primeiro destino com a bicicleta foi até a Argentina. Local que ele conhece bem, já que teve a oportunidade de conhecer todos os Estados e todas as capitais do país. Os outros países que o ciclista conheceu pedalando foi o Uruguai, Chile, Bolívia, Colômbia e Itália. Essas jornadas são sempre acompanhadas por outros amigos ciclistas, que embarcam juntos nessas viagens. “Geralmente eu monto uma rota, mostro e vejo se tem adeptos ou não”, diz.

Putton relembra que cada local por onde pedalou deixou boas histórias. Na Bolívia, local que afirma ter sido o mais difícil de pedalar, por exemplo, o ciclista, que admite gostar de adrenalina, subiu a maior montanha habitável do mundo, a Chacaltaya, porém, ficou preso na montanha sob uma temperatura de 15° negativos. “Eram 5 mil e 500 metros de altitude, subi de bike, mas tive que abortar porque caiu uma nevasca em pleno fevereiro. Ficamos um dia presos na montanha, com risco de avalanche, fiquei muito exposto e perdi as bochechas por congelamento”, conta. Ainda na Bolívia, Putton também pedalou pela chamada Estrada da Morte. “São 90 km de descida em um penhasco de 1.500 metros de altitude”, acrescenta.
Embora defina a Bolívia como linda e sensacional, Putton também conheceu a outra realidade do local. “O país é pobre, a alimentação é mais precária, paguei muitos almoços para o pessoal de lá. As pessoas ainda fazem as casas de barro. Os hotéis mais simples na beira da estrada”, comenta.
Dentre tantos destinos, Putton revela que a Itália, local onde ficou cerca de 28 dias, está entre os que mais gostou. “Contornei toda Itália e fui até a Suíça e a Áustria que é encostada, é muito perto, então aproveitei e fui. Foi muito bom. É lindo. Tudo de asfaltado. É outra estrutura. Tem bica na beira da estrada para abastecer de água. Lá todo mundo usa bike e o povo respeita muito”, destaca.

Brasil
Dentro do território nacional, Putton também já fez longas viagens em cima da bicicleta. Em uma delas, foi de avião até Belo Horizonte, em Minas Gerais, de onde pedalou até São Paulo. O ciclista também já pedalou de Bento Gonçalves até Curitiba, no Paraná. Viagem que durou cerca de oito dias.
A última viagem dentro do Brasil foi até Florianópolis, ano passado. Todo trajeto levou cerca de seis dias. “Tenho um caminho que ninguém conhece, mapeei ele, tudo por estrada de chão. É lindo demais. Encontrei até uma aldeia indígena que é da tribo dos Tatanka da família do Touro Sentado, dos Estados Unidos, eles estão encostados no meio da montanha de Bom Jardim, eles não vivem lá, eles vão e ficam um mês vivendo igual aos ancestrais”, relata.
Putton relata que nas viagens brasileiras só pedala em estradas de chão devido ao perigo das rodovias. “Se torna bem mais cansativo. Faço cerca de 80 km por dia. Quando tem asfalto dá para fazer até 120 km por dia. Aqui ainda vamos demorar uma vida para que os ciclistas sejam respeitados”, observa.
Futuro
O ciclista afirma que está com um projeto de viajar para a França, Espanha, Portugal, Holanda, Alemanha, Áustria, Croácia, Itália. Uma viagem com duração de cerca de quatro meses. “Quero ir sem prazo. O tempo não se compra. Esse projeto estou louco para fazer. Penso em fazer logo. E esse pode ser até sozinho”, comenta.
Mas, quando fala em um futuro um pouco mais distante, Putton relata que tem a ideia ir morar na Itália, mas de um jeito um pouco diferente do convencional: dentro de um motorhome, uma espécie de trailer, para continuar fazendo uma das coisas que mais gosta, viajar. “Sou cidadão italiano, tenho projetos de vida para a Itália. Posso comprar o motorhome lá mesmo que é bem mais em conta do que aqui, deixo a bike amarrada atrás e paro em algum lugar. Tem muita gente que mora em motorhome, estaciona em uma montanha, faz um trajeto de pedal e dorme. Dia seguinte faz outro trajeto. É bem tranquilo”, explica.
Uma vida mais leve
Quando questionado sobre o significado que a bike ganhou, Putton afirma que se tornou uma conexão de vida. “A bicicleta muda muito a cabeça. Sou uma pessoa mais calma, tranquila. Com a bike não adianta ter pressa. Se tiver, não vai aguentar, então tem que dar tempo, ir no ritmo”, revela.

Putton revela que a maior lição que aprendeu desde que começou a pedalar, foi a simplicidade e que por meio desse transporte, já teve a chance de conhecer muitas pessoas. “Uma simples bicicleta te leva ao mundo. Fiz amigos na Itália que vieram para cá, pedalaram aqui. A bike traz muitas amizades sem interesses”, afirma.