Estava eu em um curso de Liderança no CIC na última semana e eis que o professor, para findar a aula, coloca o vídeo de Tony Melendez, um rapaz que nascera sem os braços. Contava que ele pedia a Deus para que tivesse uma vida normal, se casasse e pudesse fazer as mesmas coisas que as pessoas comuns fazem. Resumindo: ele toca violão com os pés e canta, faz shows mundo afora e, em uma ocasião, nos Estados Unidos, se apresentou ao Papa João Paulo II, que beijou sua testa e lhe prestou uma homenagem. No final, Tony deixou uma mensagem muito sábia a todos: “Você aí que tem as duas mãos, nunca pense que não pode. Você pode tudo!”. Essa frase mexeu comigo. Emocionei-me, primeiro porque reclamamos em vez de agradecer por podermos ter tudo e segundo porque subestimamos nossa capacidade de sermos melhores, sermos tudo o que desejarmos. Para ele, o milagre estava em “poder levantar as duas mãos e agradecer”.

Em um mundo de normatividade, o desafio maior é de quem não se encaixa. É uma luta diária. É como se a gente fosse uma ovelha negra em meio ao rebanho, como se fôssemos à contramão de todos que optam por um mesmo caminho. As pessoas cresceram ouvindo que não seriam capazes e precisaram provar que são, dia após dia. Embora haja leis de inclusão, a sociedade não está pronta para receber pessoas que fogem de um padrão. Garantir acessibilidade, garantir a aprendizagem a pessoas que aprendem de modo mais lento, dar suporte aos cegos, trabalhar com deficientes auditivos, tudo isso mostra que, para pessoas com deficiência, por menor que seja, a corrida virou mais longa.

É preciso coragem para não seguir certos padrões. É preciso apoio da família, primeiramente, para mostrar que somos capazes.

Ligando isso às paralimpíadas, o Brasil é uma máquina de fazer medalhas no esporte. Enquanto nas Olimpíadas, o ganho foi de em torno de 20; aqui, a estimativa é conquistar mais de 80 e estar no pódio entre os melhores países do mundo.

Poder ser quem somos e ser aceitos por isso é libertador. Não entendo o porquê esses jogos não têm a visibilidade das outras competições. Na TV aberta, por exemplo, nem sequer esportes brasileiros passam na mídia. Isso ainda está no topo de ser uma conquista. Assim como outras coisas que a lei até prevê, mas que não acontecem.

Mas, mesmo com a coragem de ser diferente, continua sendo desafiador viver em uma sociedade que aceita apenas o normal e não dá bola a quem não entra na forma.

Só quem já teve uma pessoa de cadeira de rodas na família ou uma criança que precisou de adaptação curricular na escola, sabe a importância da representatividade e o valor de cobrar para que se façam valer os seus direitos.

Aqui, vale lembrar que nem todos nascem com deficiência; alguns sem tornam ao longo da vida, como o caso de Maria da Penha e Fernando Fernandes, ex-BBB e atleta.

Embora nem sempre estamos falando de capacitismo, a lei da inclusão é a que mais precisamos colocar em prática, seja em casa, na escola, no trabalho ou mundo afora. Precisa haver espaço para todos, independente de suas limitações. Enquanto cidadãos, devemos buscar sermos pessoas melhores e cobrar do poder público. Enquanto famílias, conscientizar que devemos respeitar todos e servir a quem precisa. Enquanto professores, ensinar de modos diferentes para que todos, em seu tempo, possam estar disponíveis a aprender. Enquanto políticos, pensar em ações que garantam a acessibilidade – e não só isso – aos que necessitam. E enquanto outro ser humano, aprender com aqueles que achávamos que podiam menos que nós, mas que nos mostram o quanto podemos e nem tentamos. Enfim, as paralimpíadas são escolas que ensinam respeito e admiração pela vida. Querer é poder!