Com aproximadamente cinco mil moradores, Tuiuty, localizado no interior de Bento Gonçalves, se destaca principalmente pelos empreendimentos turísticos: vinícolas, pousadas, gastronomia e agroindústrias familiares. Além disso, as paisagens naturais também estão entre os fortes atrativos da região.
Passando de geração para geração, a Casa Postal Vinícola e Bistrô é um desses locais. A vinícola familiar existe no distrito desde 1957. “Surgiu com meu avô, Ernesto Postal, que produzia uvas e decidiu dar um destino diferente, que é a produção do vinho”, recorda o neto, Élison Postal, que agora é o responsável por dar continuidade ao trabalho iniciado há 63 anos.
Pensando também em inovação, a família começou a trabalhar com enogastronomia, com o chamado bistrô, a atividade mais recente que desenvolvem. “Foram vários anos produzindo vinhos e uvas comuns, mas começamos a mudar o perfil da empresa. Por volta de 2000 decidimos produzir vinhos finos e mais recentemente, há cinco anos, estamos com as atividades turísticas e de gastronomia”, explica Postal.
Anualmente, o empreendimento recebe cerca de quatro mil pessoas. Isso, em um período que não existia a pandemia do coronavírus. Com o isolamento social, a redução foi de aproximadamente 80%, segundo Postal. “Dependemos muito dos turistas de outros Estados, que são a maioria. O que está acontecendo é que as pessoas que viajam de avião não estão viajando. Quem está vindo são os poucos corajosos que vem de carro, de locais próximos. É uma nova realidade. Esperamos que para o próximo ano volte ao normal”, afirma.
Postal destaca que com a obtenção do selo “ambiente limpo e seguro”, criado pelo Comitê Pró-Turismo Bento, para empresas do setor que atendam aos 27 itens presentes no protocolo, para garantir a segurança dos visitantes e colaboradores, aumentou o número de visitantes. “Houve uma melhora, ainda não é o que vinha tendo, mas já está melhor do que mês passado, por exemplo”, frisa.
Assim como os avós e os pais, Postal nasceu e vive até hoje em Tuiuty, por isso, conhece bem a localidade. Sobre o futuro do turismo na região, ele acredita que ainda vai se desenvolver mais. “Já cresceu bastante nos últimos seis anos. Agora, nesse novo momento é o setor mais impactado, é um ano bem atípico, mas temos dados de que veio crescendo entre 15% a 20% ao ano. Tem várias empresas consolidadas aqui”, afirma.
“Vejo Tuiuty com várias possibilidades de crescimento e apostamos nisso, queremos isso, mas ao mesmo tempo queremos um crescimento sustentável e organizado” – Postal
Para se conectar com a natureza
Um dos moradores que enxergou no local uma oportunidade de empreender com foco no turismo é Michel Contini, 34 anos. Há quase três anos, viajando a trabalho pelo Brasil, percebeu o quanto as pessoas valorizam o contato com a natureza. A partir daí decidiu abrir o Haras Recanto do Gaúcho. “Eu ia bastante para São Paulo, Rio de Janeiro, Nordeste e via que o pessoal gostava de ir para o haras, para a hípica, então surgiu a ideia de trazer para cá também. As pessoas gostam e procuram experiências com a natureza, cavalo, comida”, analisa.
Embora o plano de abrir o local tenha surgido em outras regiões do país, a maior parte do público visitante é daqui, segundo Contini. “Recebemos turistas, claro, mas os visitantes locais são o nosso forte. Vêm pessoas de Caxias do Sul, Porto Alegre, Farroupilha, de Garibaldi vem bastante, de Guaporé também. Temos uma grande demanda das cidades vizinhas”, relata.
Aberto aos finais de semanas e feriados, o local, que oferece espaço ao livre para piqueniques, churrasco, mateadas e passeios a cavalo, antes da pandemia chegava a servir até 200 cafés por domingos. Agora, de acordo com Contini, reduziu para metade. “Até um pouco menos disso, baixou violentamente”, afirma.
Como consequência da redução do número de visitantes, também foi necessário reduzir colaboradores, embora a maioria dos que trabalhem lá sejam da própria família. “Os meus tios, meu pai e minha namorada também trabalham aqui. Tenho cerca de quatro ou cinco funcionários na parte da cozinha, na parte campeira é com nós mesmos, mas precisamos diminuir funcionários sim, a gente vai se adequando ao momento”, relata.
Quando questionado se acredita que a pandemia vai mudar o turismo, Contini afirma que sim. “Com certeza. Acho que as pessoas vão cuidar mais aonde vão ir e vão estar mais focadas, mais centradas no local que querem ir”, diz.
Tuiuty na visão dos moradores
Nem só de turismo o distrito é feito. O casal Luiz Menonssin, 85 anos e a esposa Mônica Menonssin, 82 anos, residem em Tuiuty e trabalharam a vida inteira com agricultura. Hoje, ambos estão aposentados, mas ainda seguem com algumas plantações.
Ao serem questionados sobre o que ainda falta na comunidade, Mônica afirma que uma farmácia e um banco fazem falta. “Ultimamente, com essa doença, não deixam nem os idosos irem receber a aposentadoria. Temos que ir até Bento quando precisamos de farmácia”, afirma Mônica.
Outro morador, Elenato Alves Silveira, 28 anos, mora com a esposa e a filha há dois anos no distrito. Embora afirme que é bom morar no local, sente falta de atendimento pediátrico para a filha, de cinco meses, no posto de saúde. “Ali não tem atendimento para neném, só em Bento. Não tem nem vacinas. Faz falta”, afirma.