O distrito, conhecido como o ‘paraíso’ pelos moradores, tem sido escolhido por muitos como local de moradia. Isso se dá pelo acolhimento e união dos residentes
Tuiuty fica há 15,7 quilômetros de Bento Gonçalves e conta com uma população em torno de cinco mil habitantes. Apesar de pequena, se mantém unida para que consiga os avanços necessários. O time de futebol é um exemplo disso. O Grêmio de Tuiuty existe há 69 anos, e se mantém até hoje pelos cuidados que recebe da comunidade.
Um amor duradouro
Luis Antonio e Ottilia Tomasi são casados há seis décadas. Atualmente, ambos estão na casa dos 89 anos, nasceram e vivem na localidade. Foi em Tuiuty que o casal teve os filhos, os netos e a primeira bisneta. A maior parte da família mora no terreno ao lado, ou no da frente, a união entre eles é muito forte.
E não só a vida e a família que o casal compartilha, mas antes mesmo de casarem, já tinham o mesmo o sobrenome. “Sou Tomasi e casei com uma Tomasi, o padre não queria nos casar por que éramos parentes. Tivemos que ir até Caxias pedir ao Bispo, falei que se não deixassem, eu iria roubar ela”, brinca o parceiro de vida de Ottilia que, solta uma risada que ecoa pelo ambiente.
Além do marido, a outra paixão na vida de Ottilia foi o canto, participa do grupo de música italiana RICORDARE E VIVERE e já gravaram CD. “Canto a vida inteira, desde criança, comecei na igreja. E participávamos de muitos eventos, já cantei diversas vezes na Fenavinho”, relata.
Tomasi, ao pensar no tempo, recorda-se da época em que muitas coisas eram diferentes. “Trabalhar era tudo a braço, hoje é tudo em cima do trator e do automóvel. Na minha época era enxada”, exclama.
O amor que hoje já tem 67 anos, se contar com os sete de namoro, aconteceu na década de 60. “Nos conhecemos na igreja, em um domingo que fomos rezar o terço. Mas fora de lá já tínhamos nos visto, as famílias se visitavam, era todo mundo conhecido”, lembra Tomasi.
E revelam qual o segredo para permanecer por tanto tempo. “Em primeiro lugar amar e segundo perdoar, então se vive junto. Porque se não souber perdoar, não se consegue viver com a pessoa”, declaram.
Cultura no distrito
Desde de maio deste ano, o distrito conta com oficinas no Centro Cultural, o casarão antigo também abriga a subprefeitura e o correio. O prédio que há algum tempo acabou desabando, foi reconstruído e hoje é pensado à comunidade, segundo a recepcionista do local, Ana Júlia Barea. “A ideia iniciou há alguns anos, após a reconstrução da estrutura. E por ser um prédio histórico, o reformaram”, explica.
Atualmente, ocorrem quatro oficinas na casa de cultura, pintura em tecidos e em tela, artesanato criativo em MDF, dança folclórica e cantoria italiana. Ana Júlia traz a importância deste tipo de lazer. “É uma forma de unir a comunidade, e também é uma oferta de cultura. Tem a cantoria e a dança que resgatam a tradição italiana da região. E neste ano, as oficinas foram focadas ao público idoso, o que é uma maneira de distração e de tirar estas pessoas, que muitas vezes ficam em casa, a sair e socializar”, expõe.
“Aqui é o paraíso”
Por onde se anda na localidade é capaz de ver construções de casas, obras e terrenos a venda. Isso se dá porque é cada vez maior o número de pessoas que se mudam para o distrito. Muitas acreditam ser pela tranquilidade que existe por lá e alguns até chamam Tuiuty de paraíso.
Roseli Pelizzari se mudou aos nove anos, o pai trabalhava como funcionário público em Tuiuty e decidiu morar perto do trabalho. “Amo o distrito, vivi aqui toda a vida, trabalhei como funcionária pública na subprefeitura, no posto de saúde. Aqui é o paraíso, e a melhor parte de viver no interior é que todo mundo se conhece”, conta.
Ela acredita que em algumas épocas a juventude não ficava no interior, mas, atualmente, ela nota que o número de jovens que escolhem ficar está crescendo. “É necessário apoio se quiser manter os jovens, mas temos uma diversidade de trabalhos por aqui, como empresas e vinícolas”, explica.
Também nota que conforme o tempo vai passando a localidade se desenvolve. “O poder público está olhando bastante o nosso distrito, claro que ainda faltam coisas para se tornar perfeito, mas ele está em um processo de evolução”, exalta.
Roseli percebe que a quantidade de novas construções pela localidade vem aumentando, diferente da época em que chegou. “Muitas pessoas vieram de outras cidades, acredito que mais de 50% dos moradores não são naturais daqui, chagaram em busca de emprego, novas oportunidades e foram acolhidos pela comunidade”, finaliza.
Trabalho rural
Adelino Tomasi tem 73 anos, toda a sua vida trabalhou como agricultor em Tuiuty e carrega consigo o carinho pelo distrito e o amor pela terra. “Sempre gostei de ser agricultor, porque não tínhamos muito estudo, e ficamos na terra seguindo os passos do pai. Claro que antigamente era mais difícil, era tudo no braço, hoje em dia ficou mais fácil”, relata.
A família toda viveu no local, os avós, os pais e quase todos seus irmãos. “Nós éramos em dez irmãos, um só que foi trabalhar em Bento Gonçalves. Ele também era agricultor, mas após duas perdas pelo granizo, perdeu toda a renda e resolveu trabalhar fora”, explica.
Há 73 anos, ele vive no distrito e sua vida é feliz por lá, apesar do trabalho mais pesado no campo, tudo lá lhe encanta. “Gosto muito de Tuiuty, nasci aqui, nossas raízes são daqui. A parte boa de ser agricultor é que podemos nos atrasar dez minutos, vivemos perto do nosso local de trabalho. Quando se funcionário em uma em empresa, esse tempo faz diferença no final do mês. Ambos têm suas dificuldades e diferenças”, finaliza.
De um outro estado
Marlene Weber veio há 30 anos do Paraná, seus amigos da cidade natal, vieram para Bento a trabalho e a convenceram de vir com o marido. Após algum tempo, se mudou para Tuiuty. “Na época era mais em conta um terreno aqui, hoje em dia eles estão com os preços bem mais elevados. E fora que meu marido trabalha no trânsito todo o dia, ele acaba preferindo o descanso da colônia”, revela.
Ela acredita que a vinda de mais moradores para o distrito e o aumento dos preços nos terrenos, tem a ver com as pessoas estarem cansada da agitação da cidade. “Aqui é tranquilo, sossegado, não tem fluxo de carros e dá para acordar ao som dos passarinhos. Não é perigoso, pode andar mais despreocupado na rua, isso é qualidade de vida. Fora que o povo aqui é muito acolhedor e unido”, constata.
Um time da comunidade
Em 1954 se iniciou o Grêmio Tuiuty, isso significa que são quase sete décadas de histórias, de união e amor pelo futebol. O presidente do time hoje em dia é Sandro Demari. Além de dele, muitos outros fazem parte do administrativo, como Rildo Tomasi, que já foi presidente e nutre um afeto muito grande pelo time.
A estrutura do local foi crescendo com o tempo, inicialmente só tinha o campo e de gestão em gestão, foi se transformando no que é hoje, segundo Rildo Tomasi. “Iniciou com um bar lá embaixo. Antigamente, utilizávamos o salão perto do cemitério que era onde almoçávamos e jantávamos. Mas, com o passar dos anos, foi se criando os vestiários e o salão aumentou”, enumera.
As mudanças só são possíveis com os sócios, aqueles que ajudam com os valores porque querem ver o time crescer. Atualmente, são 70 que estão sempre ajudando. A maioria é morador de Tuiuty, entretanto, há alguns que estão na cidade e fazem parte, pois tem um vínculo com a localidade. “Todos que jogam aqui são sócios, porque assim conseguem entender o que o campo necessita. Há sete anos colocamos os refletores e tem uma placa com o nome de todos que ajudaram. Fosse o valor que fosse, nestes momentos sempre conta”, declara Tomasi.
O time tem muitos prêmios mas, ultimamente não tem participado de tantos campeonatos, apenas do Colonial. Neste torneio, atuam diversos interiores como Eulália e Faria lemos. “Nós até alugamos o campo para outros times jogarem em competições que não participamos, porque no interior, o único campo com luz é o nosso, então procuram muito”, comenta Demari.
Uma curiosidade ao ver os prêmios são os diversos troféus de ‘Disciplina’ que eles têm expostos. “Nossos jogadores sempre foram daqui e eles sabiam da importância em não brigar e em manter a ordem. Fora que os pais deles e os tios deles estavam do lado de fora. Então ter um time onde você conhece os jogadores faz toda a diferença”, ressalta.