Não se trata de algo tão dramático quanto à Escolha de Sofia, afinal ninguém vai morrer queimado seja qual for a opção. Mas me incomoda. Se optar pela forma correta, me sinto meio idiota. Se usar a forma coloquial, parece que estou passando um atestado de burrice.
Então, o dilema. O jeito é recorrer ao bom senso e usar a linguagem assim como se usam as roupas: biquíni para a praia; longo para festa de gala. O problema é que tem o meio termo, o dia da missa, dos encontros sociais, do trabalho, da escola… e a gramática não oferece alternativas como a moda. Ou é isso, ou é aquilo.
Até existe uma maneira de driblar a Língua, mudando a forma de tratamento. Ao invés de “tu”, empregar “você”. Mas, já viu gaúcho criado falando “você”? Soa a frescura.
Para complicar, eis que as grandes emissoras, através de seus jornalistas, resolveram manipular a Língua ao seu bel prazer. Primeiro denunciaram o “risco de vida”, uma expressão idiomática consagrada, e nos enfiaram goela abaixo o “risco de morte”. Assim como a reforma ortográfica que aboliu o trema.
Mais recentemente, apresentaram o verbo “repercutir” significando divulgar, tipo “Vamos repercutir as notícias sobre o habeas corpus de Fulano de Tal”. Está certo, o dicionário até registra, mas como tenho uma quedinha pela teoria da conspiração, acho que a ideia é testar o poder de convencimento, algo assim como brincar de donos do pensamento do povo.
Agora lançaram a moda do “tava” (estava), não em conversas informais, mas nos noticiários. Ou seja, é como ir à entrega do Oscar em roupa de banho. Daqui a pouco, o topless vai ser a Língua oficial.
As propagandas não ficam atrás. No ano passado, a Educação do RS promoveu uma campanha publicitária oral e escrita que dizia “Tamo Junto”. Entende-se que é um apelo popular, mas não acho que nivelar por baixo vai ajudar essa garotada que já escreve pouco e mal.
E isso me reporta a um clipe que está no ar e canta as belezas da serra gaúcha. Trata-se de música e letra bonitas, mas a negligência do compositor, que se expande na voz melodiosa da cantora, põe tudo a perder, com “não tem coisa mais boa do que chimarrão”. Não dói os ouvidos?
Ah! O face! Este é um caso à parte. É uma praia onde circulam muitas tribos de diferentes linguagens, inclusive “nudistas”, que só usam emoticons e emojis, aquelas carinhas que expressam o estado de espírito de quem envia, sem a necessidade de construção da frase.
Bom, “quem liga para isso?”, dirão alguns. “O importante é comunicar”.
Sem dúvida! Mas, se queremos um Brasil com igualdade de oportunidades, é nossa obrigação puxar para cima o cidadão excluído, e não empurrá-lo para baixo. Dizer que isso é preconceito linguístico me parece hipocrisia.