Certa vez, ouvi de um mestre autodidata de psicologia: basta viver para decepcionar-se. Num primeiro momento, me pareceu algo depressivo, até entender que tal afirmação não estava e referir-se à vida propriamente dita e, sim, às tramas e aos dramas que entrelaçam e envolvem o ser que a respira.
Aliás, pensando bem, a primeira decepção sequer foi humana, foi divina e exatamente com o ser humano, a quem DEUS tinha confiado o próprio paraíso.
Na tentativa de alinhavar os parágrafos desta coluna e utilizando-me do vocabulário de idioma que ora inventei – “tricroches” –, sabemos todos que o tecido da vida não é feito de um ponto único, mas, sim, uma trama de fios – alguns enosados – entre nuances de pontos altos, pontos baixos e, quando não, pontos cegos. Tecemos assim, diariamente, uma obra única, cuja habilidade está, acima de tudo, em nossas mãos, mais precisamente na arte de fiar o presente, cozer as cicatrizes do passado, seguindo costurando as pontas em ligação ao sonhado molde do invisível futuro.
A propósito, em tempos cuja alma humana parece tão fragilizada a ponto de, literalmente, muitos não se permitirem ou sequer experimentarem a menor decepção, decidindo por anestesiar-se de seu aprendizado, buscando de imediato e diretamente os comprimidos de efervescente e fugaz felicidade…, um conselho: linhas, agulhas e novas tramas podem, a cada novo ponto, desfazer um nó do passado e fazer novamente…sorrir!
As terapias do tricô e crochê, unindo mãos e mentes, já comprovadas por pesquisas, são tidas como “remédio”. O manuseio de tais agulhas agem como se “injetassem” aos praticantes uma determinada “vacina” de bem estar, podendo afastar de males como a depressão, Alzheimer e Parkinson (ver, dentre outras, reportagem de Karla Precioso (2015) disponível em https://claudia.abril.com.br/sua-vida/o-croche-pode-ser-um-grande-aliado-para-o-bem-estar).
Sem dúvida, a arte de tecer é um dom – muitas vezes desconhecido até dar-se o tempo de começar – cuja sabedoria não reside apenas na necessária coordenação motora, vai muito além, pois quem tece sonha com o resultado – é a fé tecida em fios – manufatura própria de uma sensibilidade e sentimento únicos a cada nova peça.
Há ainda quem afirme que as agulhas são instrumentos de “magia”, uma espécie de varinhas de condão que transformam pessoas em seres melhores; e se tal “magia” é feita em um círculo de muitas mãos, cada ponto se transforma em laços que reforçam antigas e fazem nascer novas amizades.
Entretanto, se engana quem imagina que tudo não passa de uma mera distração e passatempo, ao contrário, requer foco concentrado, um planejamento inicial, um plano de ação, uma estratégia e, sem dúvida, enorme resiliência na superação daquele ponto errado…
Dito isso, ouso dizer, se trata de um exercício cotidiano de como tratar das diversidades da vida, sejam elas de solução fácil ou não, porém, não de forma abrupta , mas com todo esmero e cuidado, ponto a ponto, a maestria singular de costurar a emoção com a razão, sem deixar pontas.
Logo, dadas as qualidades de tais mãos na dança das agulhas, nada me surpreenderia se àquela dúvida na hora de contratar fosse resolvida por… aquele ponto “tricroche” a mais no curriculum.
Oportunamente, nesse dia dedicado aos avós, nossos parabéns àqueles que tecem ou já teceram em nossos corações o amor com açúcar, na lembrança dos cabelos fofos de algodão, nos olhos azuis violeta e na saudade daqueles dias de domingo.
Vamos em frente!