Ernilde venceu um câncer de mama; foi no artesanato e voluntariado que a idosa buscou energia para enfrentar o problema

A confiança e a coragem foram aliados de Ernilde Santarosa, 73 anos, no combate a um câncer de mama diagnosticado há sete anos. De lá pra cá, a idosa, casada, mãe de duas filhas e avó, buscou no voluntariado, em especial no artesanato, apoio para superar a doença. Em sua história, o pensamento positivo foi essencial para que o tratamento não pesasse em sua rotina diária. Em entrevista ao Semanário, para finalizar a série “Mulheres de Atitude – Outubro Rosa 2018”, Ernilde apresenta suas impressões sobre o que passou durante as diversas idas à Porto Alegre para tratar o problema. Curada, ela dedica as suas horas vagas no voluntariado junto à Liga de Combate ao Câncer, mostrando, através do artesanato, uma maneira de ajudar e ocupar a mente das pacientes que procuram a entidade em Bento Gonçalves.

Cada mulher que recebe o diagnóstico de câncer de mama tem o rumo de sua vida modificado. Compartilhar seus desvios e reconduções de rota é contribuir para a prevenção ou para o apoio a quem está nesta caminhada sem volta, mas que não precisa ter um fim. Dados apontam que uma em cada quatro mulheres no mundo está lidando, neste momento, com o diagnóstico do câncer de mama. Natural de Vila Flores e residindo há décadas em Bento Gonçalves, Ernilde recebeu há sete anos, a notícia de que pequenas calcificações atrás de uma das mamas eram nódulos de um tumor. Ela conta ainda que, graças aos cuidados que mantinha antes do diagnóstico, a doença foi descoberta no início. “Imediatamente, quando a médica falou, eu fiquei meio assim, sem reação.

Mas nunca me preocupei de achar que iria morrer por causa disso. Como o câncer foi descoberto cedo, eu não precisei fazer quimioterapia, apenas as sessões de radioterapia”, lembra. Ela conta que a família ficou bem mais preocupada.

Tratamento

A realidade vivida por Ernilde impôs durante longos meses, delicadeza e força de vontade. Tudo isso, pois naquela época, os procedimentos de combate à doença eram realizados apenas em Porto Alegre, o que tornava a idas à capital dos gaúchos cansativas, no entanto, sem perder o pensamento positivo de que tudo isso seria vencido. “Ia todos os dias a Capital. Eu ia alegre e voltava mais feliz. Eu acordava às quatro da madrugada, tomava meu café, e saía de Bento às cinco da manhã para fazer as radioterapias. Foi no inverno, de segunda à sexta-feira. Foi bem difícil. Mas, eu tirei de letra”, ressalta.

Conforme Ernilde, durante o longo período de cuidados, a família foi o seu alicerce. Ela acredita que sem o apoio, o resultado do tratamento poderia ter tomado outros rumos. “Claro que eles ficaram preocupados, mas nunca deixaram de confiar que tudo iria passar”, lembra. “Eu nunca imaginei que isso fosse acontecer comigo. Mas, ainda bem que a gente descobriu o câncer cedo, porque o tratamento é melhor”, conta.

Após a realização de todas as sessões, Ernilde recebeu o diagnóstico de que estava curada. Durante cinco anos, ela precisou continuar com o uso de medicações que controlavam a possibilidade de reincidência da doença. “Eu chamava de quimioterapia oral, pois era muito forte, que também produziam efeitos colaterais”, explica. Questionada se ainda sente preocupação em receber um novo diagnóstico da doença, ela garante que apenas fica na ansiedade em receber os resultados dos exames de rotina.

O voluntariado na Liga

O tempo passou e Ernilde estava satisfeita com o resultado do tratamento. As esperanças e os sonhos reaparecerem. Foi aí que a Liga de Combate ao Câncer entrou em sua vida.Durante uma conversa com a presidente da entidade, Maria Lúcia Severa, a idosa recebeu o convite para participar do serviço de voluntariado. “Nós já nos conhecíamos e, após dois anos depois que eu já tinha finalizado o tratamento, aceitei o convite dela. Cheguei aqui e comecei a ministrar uma oficina de artesanato”, conta.

Durante a entrevista, Ernilde destacou a sua paixão pela arte e mostrou orgulhosa o resultado do seu trabalho na Liga. Ela e mais sete mulheres, reúnem-se semanalmente na sede da entidade para confeccionar sacolas feitas com caixas de sabão em pó que são produzidas e vendidas para a Vízia Ótica. “Foi uma ideia que eu achei que iria dar certo. Até me acho importante vindo aqui, com um grupo de meninas nota 10. Somos bem unidas e estamos ajudando a Liga”, ressalta.

O trabalho não estipula metas. Mensalmente, a equipe de voluntárias confecciona cerca de 100 sacolas, compradas pela empresa e utilizadas para embalar óculos e joias comercializadas. “Além de reutilizamos material, o dinheiro pago pelas nossas sacolas é revertido para a Liga. Isso é muito importante”, revela.

“É preciso ocupar a mente”

Entre os sintomas que a doença e o tratamento podem causar, Ernilde diz ter sofrido de uma forte depressão. Para amenizar o problema, ela encontra nos afazeres domésticos uma forma de ocupar a sua mente. “Pela manhã, eu arrumo a casa, faço as coisas que eu gosto e a tarde, eu saio. Venho aqui na Liga, sou voluntária no Sesc. Saindo de casa eu ocupo a minha mente para não pensar em bobagem”, garante.

Durante a oficina, ela conta que precisa dar uns “puxões de orelha”, quando alguma paciente chega desanimada, com pensamentos negativos. “É levantar a cabeça, seguir em frente para a gente tirar de letra”, explica.

Prevenção é o melhor remédio

Para Ernilde, todas as mulheres, independente de idade precisam realizar o autoexame, fazer a mamografia, buscar ajuda médica antes que o problema se agrave. “Sempre é bom descobrir cedo, porque de uma hora para outra ele (câncer) evolui, de uma maneira impressionante”, aconselha. “Descobrir que estava com câncer não foi um bicho de sete cabeças: eu levantei a cabeça, encarei o problema de frente, sem desistir. Tem que estar com o pensamento positivo, mesmo que nem todas as pessoas sejam iguais e encarem o problema da mesma forma”, finaliza.