Emater e produtores de uva explicam um pouco do que já está sendo realizado
Na Serra Gaúcha, diversas maneiras de diminuir a infestação de organismos que podem causar prejuízos nos futuros frutos são adotadas pelos produtores, com o objetivo de ter o mínimo de perdas na próxima safra.
A partir disso, o tratamento de inverno é iniciado com a aplicação de determinados produtos químicos que vão reduzir a fonte de inóculos – esporos dos fungos patógenos, que causam doenças no período vegetativo da videira. O Chefe do Escritório da Emater, Thompson Didoné, conta sobre as principais pragas e fungos patógenos que os agricultores têm que combater em suas plantações. “O mais problemático em nossa região nas uvas tradicionais é o míldio. Já nas variedades cobertas tem o oídio”, ressalta.
Ademais, há outras enfermidades que atacam as produções de uva. “A antracnose, a escoliose, podridões como botrytis e a glomerella também afetam essas culturas. E se há um histórico que certo vinhedo sofreu ataque dessas doenças, com certeza nós vamos ter o inóculo do fungo na própria planta da videira. Então, a gente faz o tratamento de inverno visando diminuir a quantidade desses fungos”, conta. E completa destacando que também é realizado para algumas pragas. “A principal é a cochonilha, tem a que afeta o ramo novo e a que ataca embaixo do ritidoma da planta, que seria a casca da videira”, relata.
Portanto, Thompson aponta que é necessário adotar certos manejos, com produtos químicos, como calda sulfocálcica. “O pessoal já compra pronta e ela tem ação, tanto para pragas quanto para fungos. Tem que ter cuidado, pois não pode ser um produto velho, se não perde a eficácia. A utilizada vem com 32 graus baumé, com um aparelho a gente mede essa graduação e ela é diluída em água”, realça.
Segundo o chefe, para cada cultura existe uma diluição. “Na videira, durante o período de inverno, se utiliza nove litros de água para um de calda sulfocálcica. Se for utilizar nos citrus, como a laranja ou bergamota, vai um litro do produto para quarenta, cinquenta, sessenta de água. Quer dizer, ela tem que ser muito mais diluída, até porque os citrus não perdem as folhas e no inverno é muito mais sensível. E tem as variações para pêssego, maçã, pera, enfim, cada fruta tem a sua graduação, na qual o agricultor, no momento da compra, tem que solicitar para a casa agrícola”, lista.
Mas também há outras opções. “A calda bordalesa, que é a base de sulfato de cobre e cal. Além do óleo mineral ou óleo vegetal, mas este produto não pode ser passado com o calor. Ele funciona como quebra de dormência, adiantando a brotação, tendo que ser utilizado no final do inverno”, frisa.
Para maiores informações sobre essa prática, que auxilia tanto os produtores, a Emater possui um centro de treinamento em Nova Petrópolis. “Lá damos aulas e orientações para o cultivo de frutíferas. Quem tiver interesse e quiser se aprofundar, pode participar do curso de uma semana. Ou senão, damos toda as explicações em nosso escritório de Bento Gonçalves”, pontua.
Os produtores que quiseram, podem solicitar à Emater uma visita técnica na propriedade. Thompson frisa que além disso, há outros meios dos agricultores obterem conhecimento. “A maioria deles é associado ou conveniado com alguma empresa, praticamente todas têm um departamento técnico com agrónomos. Esses profissionais realizam muitos treinamentos conosco e são capacitados para ajudá-los”, reitera. A Embrapa e o Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) também podem auxiliar os agricultores.
Quando é feito?
De acordo com Didoné, o tratamento de inverno é feito no período em que a planta está em dormência. “Ela perde as folhas e diminui todo o processo vegetativo. Entra num estado de latência, quer dizer, trabalha com as reservas, praticamente as que ficaram do ano anterior, absorvendo pouca coisa do solo”, diz.
Isso é normal para as plantas, principalmente as que perdem as folhas no período atual de cultivo, como o pêssego e a ameixa. “São culturas que necessitam de uma certa quantidade de horas de frio abaixo de 7,2°. Precisam desta temperatura para que haja o desenvolvimento da gema, que vai brotar e gerar a produção do ano seguinte”, afirma Didoné.
Ao falar em uvas, o chefe aponta que há diferenças entre variedades. “Se nós pegarmos as videiras americanas, elas necessitam de menos horas de frio naquela mesma temperatura. Então, em torno de 100, 150, 200 horas de frio completa a maturação dessas gemas e vai ter uma boa brotação. Já as viníferas, como as mais tardias Cabernet Sauvignon, Cabernet Frank e Merlot, precisam de mais tempo abaixo de 7,2°”, informa.
Além disso, há tipos de videiras que necessitam entre 250 à 350 horas de temperaturas baixas. Também é diferente para outras culturas. “Algumas variedades de maçã, por exemplo, precisam de mais de 400, para que a gema complete a sua fase vegetativa, tendo uma boa floração e brotação no próximo período”, menciona.
Para aqueles que ainda não iniciaram o tratamento, Didoné realça que ainda há tempo para começá-lo. “Até que não haja brotação, a orientação da Emater é que seja realizado pelo menos um, mas o ideal seria dois ou três. Estivemos a campo recentemente e não vimos nenhum vinhedo brotado”, conclui.
O que dizem os produtores
Claimar Zonta, de 49 anos, é viticultor e enólogo da Linha Eulália, atualmente produz uvas americanas e vitis viníferas. Ele revela que iniciará o tratamento de inverno em suas videiras na primeira semana de agosto. “As condições climáticas estarão melhores, sem previsão de precipitações e temperatura elevada. O procedimento será com calda sulfocálcica, aplicado com pulverizador terrestre nas partes aéreas e troncos das videiras”, garante.
Para ele, o tratamento é importante por consistir em reduzir a pressão de fungos e pragas em suas plantações. “Sendo assim, podemos dizer que teremos menos problemas com doenças fúngicas durante o ciclo, claro isso também depende de outros fatores como por exemplo as condições do clima. Mas, com certeza, com videiras sadias colheremos frutos de qualidade”, completa.
Albino Fronza, produz 34 variedades de uva na região de São Valentim, ele explica por que faz o tratamento, principalmente, para garantir a sanidade das videiras mais antigas. “Justamente para ter mais qualidade dos frutos, ainda mais nos tipos que não existem mais, como Moscatel de Alexandria, Moscatel Rosado, Moscatel de Hamburgo e Vermentino, que ninguém mais tem no mercado. Também há a Dedo de Dama legítima, que existia há 60, 70 anos atrás, eu consegui com um pessoal de Torres e enxertei aqui”, vibra.
Conforme Fronza, o índice de doenças em parreirais com mais anos de vida, é ainda maior. “Sofrem com isso bem mais que as variedades mais recentes. Até consultei o Thompson Didoné, da Emater, e realizei um tratamento com óleo de nin e outras formas orgânicas de combater as pragas”, finaliza.
Fotos: Embrapa / Renata Gava