Alteração nas ruas Dr. Montaury e Dr. Antunes, vias de intenso fluxo e essenciais para o escoamento do tráfego não agrada moradores, comerciantes e motoristas. Retorno à condição anterior é aguardado há meses
Mudanças nem sempre são bem aceitas, principalmente quando envolvem muitas pessoas e causam transtornos. É o caso das alterações feitas no trânsito que, embora favoreçam um grupo, acabam prejudicando outro.
A inversão no tráfego de veículos das ruas Dr. Antunes e Dr. Montaury, no Centro de Bento Gonçalves, anunciada ainda em meados de 2021, por conta da abertura de um centro comercial, causaram alvoroço desde o seu começo. Colocadas em prática no início de 2022, ou seja, há mais de um ano, continuam causando controvérsia e desconforto, não somente entre os usuários, mas também entre os moradores e comerciantes desfavoráveis.
A motorista de aplicativo e particular Evanilde Bavaresco avalia como muito ruim a mudança. “Essa opinião não é só minha, é de muitos motoristas. A volta que temos que dar quando viemos da Rodoviária em direção à Assis Brasil causa muitos transtornos e atrasos. Parece pouco, mas o trânsito da Marechal Deodoro e da Júlio de Castilhos acumula todo em frente à Praça Dr. Bartholomeu Tacchini (na pista da esquerda). Outra dificuldade é chegar ao Shopping Bento. Tem que dar a volta na Saldanha Marinho. Quando descíamos direto a Dr. Montaury era muito mais fácil e rápido. Além do mais, o semáforo em frente à igreja era um facilitador, diferentemente do que ocorre no entroncamento entre a Dr. Antunes e a Marechal Deodoro”, avalia.
Ainda conforme ela, em dias de chuva, as dificuldades são ainda maiores. “A subida da Dr. Montaury é péssima. Os carros patinam muito, principalmente com a pista molhada. Muitos motoristas têm dificuldade no arranque e aguardam na parte baixa da via. Passa um carro, dois, o semáforo já fecha. Sem contar que em Bento não tem mais horário de pico. Todas as horas são de trânsito cheio”, finaliza.
Morador da rua Dr. Antunes desde 1977, Valter Neis afirma estar lisonjeado em poder opinar. “Essa opinião não é só minha. Diria que é de 90% dos moradores do prédio (Ed. Ballista) e do pessoal da vizinhança, que não aprova a mudança”, diz.
Conforme ele, “quando o Darcy (Pozza) construiu o viaduto na subida da Dr. Montaury, encurtou e aliviou o trânsito no Centro ‘uma barbaridade’. Agora você desce, tem que converter à direita e vai afunilar aqui na Marechal Deodoro para depois chegar na Assis Brasil. Até antes de mudar você descia reto, não atravancava aqui na esquina (Dr. Antunes, cruzamento com Marechal Deodoro). Aqui junta o trânsito da Júlio de Castilhos, da Marechal Deodoro, quem vem da Rodoviária, quem vem da Cidade Alta. Imagina o que é isso na hora de pico, meio-dia, 13h20min, 17h30min. Em dias de chuva, então, é um ‘Deus nos acuda’”, frisa.
Neis falou, ainda, sobre os bloqueios constantes no trânsito em dias de eventos. “Sem contar que as inteligências supremas fizeram a Rua Coberta, mas qualquer grupo que vem se apresentar, qualquer festa, tudo é no Centro e fecham o trânsito. Imagina a ‘zorra’. Fazem isso porque não moram no Centro. Esse trânsito tem que voltar a ser o que era, porque está um absurdo. Outra coisa: sei que o piloto da moto tem o mesmo direito que o motorista do carro, mas o carro leva duas, três, quatro pessoas. A moto leva uma só. Os estacionamentos de motos têm ganhado cada vez mais espaço. Os motociclistas chegam cedo da manhã e vão embora no fim da tarde. Ao passo em que os carros, além de pagarem estacionamento, não ficam muito tempo e já não têm mais espaço. Isso precisa ser revisto”, salienta.
Proprietário de um estacionamento na esquina da Dr. Montaury com a Barão do Rio Branco, César Augusto Sartor não viu nada de positivo na mudança. “Muitos acidentes já ocorreram aqui na esquina. Para caminhões e automóveis, a subida da Dr. Montaury é muito ruim e, em dias de chuva, fica ainda pior. Outro ponto negativo: para ambulâncias e bombeiros que precisam se deslocar em direção aos bairros Borgo e Licorsul é muito mais ágil descer a Dr. Montaury do que descer a Dr. Antunes e ingressar no congestionamento da Marechal Deodoro”, aponta.
O vereador Anderson Zanella (Progressistas) está há meses levantando o assunto em suas manifestações na Câmara. “A demanda vem há muito tempo. Foi dado um ano de prazo de experiência para ver se realmente iria ficar bom. Deixamos as coisas acontecerem e não cobramos. Mas há um ano e meio da inversão, o trânsito piorou muito, o número de acidentes é altíssimo e a mobilidade do centro foi prejudicada. O que era para beneficiar, piorou. Na prática, não funciona. Fizemos três enquetes: 82% de média reprovou a mudança”, ressalta.
A versão da Prefeitura
Procurado para esclarecer os fatos, o secretário Municipal de Mobilidade Urbana (SEGIMU), Henrique Nuncio, afirma que as vias estão sendo monitoradas, porém, não há definição quanto ao retorno à condição anterior. “Há várias solicitações para que retorne. Tais pedidos estão sendo avaliados, conforme acompanhamento que estamos realizando. Não há nenhuma definição ainda”, diz.