Comemorado em 13 de junho, dia de Santo Antônio é celebrado na Capital Nacional do Vinho desde 1878. Conheça histórias de fiéis que tiveram graças alcançadas através da convicção na força e nos milagres do santo
A Paróquia Santo Antônio, criada em 1884, na então Colônia Dona Isabel, hoje atende o Santuário, no centro da cidade, e outras 25 comunidades nos bairros e no interior do município.
A 146ª Festa de Santo Antônio traz como lema: “Do coração de Santo Antônio brota a fraternidade”. A inspiração surgiu a partir da temática da Campanha da Fraternidade 2024, que está impulsionando toda a Igreja Católica no Brasil a refletir sobre o tema “Fraternidade e Amizade Social”, com o lema bíblico “Vós sois todos irmãos e irmãs”, baseado no Evangelho segundo Mateus, capítulo 23, versículo 8. O ponto alto da Campanha da Fraternidade é ao longo da Quaresma, que iniciamos em 14 de fevereiro.
Para o padre Volmir Comparin, os festejos de Santo Antônio além de serem uma marca tradicional do município, são oportunidade para ajudar as pessoas em um processo de mudança. “A nossa Festa não se resume somente em comida e bebida, mas é sinal do Reino de Deus. Queremos que cada encontro nos ajude a reconhecer os valores das pessoas. Nós queremos que em cada dia da Festa, seguindo o testemunho de Santo Antônio, nós possamos ver a paz. Com Santo Antônio queremos nos tornar fraternos aqui. Queremos a paz e a paz vem com o amor”, salientou.
Neste ano, o Santuário Santo Antônio comemora 90 anos de elevação de Igreja Matriz a Santuário Diocesano. Por isso, em sinal de cuidado e zelo, após a festa, a imagem do Padroeiro que está no altar-mor do Santuário será enviada para restauro.
Lesandra Sonaglio Dalla Costa, 46 anos
“Meu primeiro contato com Santo Antônio veio da minha avó materna, que sempre dizia ‘que Santo Antônio te proteja’, e isso ficou na minha cabeça por anos. Em 2004, com 26 anos, estava me formando em arquitetura e tinha acabado de me casar, quando descobri um câncer de intestino. Fiz todo o tratamento com quimioterapia e uma cirurgia muito complicada. Precisava fazer radioterapia, mas o médico me alertou que poderia causar falência ovariana irreversível, ou seja, eu não poderia ter filhos, e isso era um sonho meu e de meu marido. No meu coração, estava decidido que eu seguiria apenas com a quimioterapia, mas os prognósticos eram de que eu jamais engravidaria, nem mesmo com inseminação artificial.
Começamos nosso processo de oração, fizemos novenas, pedidos, mas nunca especificamente para Santo Antônio. Até que um dia fomos convidados para sermos festeiros, mas ficamos em dúvida pois já tínhamos muitos outros compromissos e seria uma grande responsabilidade a ser assumida. Pedimos a Jesus Cristo que nos desse um sinal, se fosse para aceitarmos. Na mesma noite, rezamos o terço, como de costume, e abri a Bíblia em uma página qualquer. Para nossa surpresa, era o trecho de Isaías 45, que diz ‘Eu irei adiante de ti (…) Dar-te-ei os tesouros escondidos’. Interpretamos como uma promessa que Deus estava nos fazendo, caso aceitássemos ser festeiros.
Seguimos nas funções como festeiros, e na trezena descobri que estava grávida. Oramos para que Deus nos enviasse um sinal nos dizendo qual nome deveríamos dar a essa criança. Em um sonho, me veio o nome Antônia, e quando descobrimos que seria uma menina, não tivemos dúvidas.
No batizado da Antônia, a lembrancinha veio com o nome errado, escrito Antônio. Logo já imaginamos que um menino estaria por vir. Dito e feito, nosso segundo filho foi batizado de Antônio.
Continuamos orando e pedindo com fé por mais uma bênção, mais um filho. Algum tempo depois, engravidei de um menino, que chamamos de Francisco, o chefe de Santo Antônio. Meses depois, fomos à Itália e visitamos a Basílica de Santo Antônio. Foi um momento muito emocionante, me senti em casa, acolhida, próxima a ele e a Deus. Cada vez mais tinha certeza da forte presença do santo em nossa vida. Na volta da viagem, engravidei novamente. Batizamos nosso caçula de Fernando, que é o nome de batismo de Santo Antônio.
Em 2019, tive câncer de mama, mas sigo firme e forte. Foram inúmeros sinais que ele nos enviou. Essa história vai durar para a eternidade, Santo Antônio é meu grande amigo. São as perfeições dos atos de Deus.”
Ania De Toni Longo, 27 anos
“Sempre fui uma pessoa bastante ligada a religião, participando ativamente das atividades paroquiais, missas e encontros. No ano de 2022, estava finalizando meu trabalho de conclusão do curso de arquitetura, que é minha profissão atual, elaborando um projeto de um hospital oncológico. Por coincidência, ou não, na mesma época recebi o diagnóstico de um câncer no colo do útero.
Passei por um longo tratamento e por uma cirurgia, na qual tive diversas complicações. Mesmo diante de todas essas adversidades, mantive minha fé em Deus e em Santo Antônio, rezando muito para que superasse esse momento sem nenhuma sequela grave.
Foi então que resolvi fazer uma promessa a Santo Antônio. Caso tivesse minha graça alcançada, que era a cura do meu câncer, retribuiria de alguma forma minha gratidão, expressando minha devoção ao santo. Sempre tive essa certeza comigo.
Agora em 2024, recebi o convite para ser festeira jovem da 146ª Festa de Santo Antônio de Bento Gonçalves, e vi nisso a oportunidade de demonstrar meu agradecimento, dizer meu muito obrigada. É algo que me enche de orgulho, fazer parte disso tudo e saber que nosso querido Santo Antônio continua operando milagres. Todos os dias ele está presente em nossas vidas, e eu sou a prova viva disso.
Para mim, ser festeira jovem é uma maneira de valorizar e demonstrar a força da minha fé e eterna gratidão por ter sido curada. Faço questão de estar todos os dias na paróquia, estar envolvida em todas as fases da organização do evento, sair da minha rotina e me dedicar ao máximo. Não me canso.”
Tradições e crendices
Há quem conheça Santo Antônio também pela “fama” de casamenteiro, com várias histórias que ficaram conhecidas e atravessaram gerações.
Uma das histórias do imaginário popular é que, uma mulher pedia diariamente à estátua do Santo para encontrar um marido, porém, sem êxito. Frustrada por não encontrar um amor, ela teria se irritado e atirado a imagem pela janela. O objeto teria atingido um rapaz, que ao se conhecerem, ficaram apaixonados e assim, deram crédito ao santo pela união.
Há ainda outras duas hipóteses. Uma delas, a mais conhecida pelos fiéis, diz que o santo ajudava jovens mulheres que não tinham condições de custear as despesas do casamento, fazendo mobilizações e arrecadando doações para pagar os dotes. Há também diversas histórias de mulheres que haviam perdido a esperança de se casar, e que com a graça de Santo Antônio teriam encontrado o grande amor. Outra versão relata que, em determinada ocasião, um rapaz rico foi repreendido por Santo Antônio após abandonar uma moça pobre que ele havia seduzido. O santo teria dito ao jovem que, se ele não retornasse à amada, jamais teria sorte na vida. A profecia se concretizou, o homem voltou e se casou com a mulher, perpetuando então a fama de casamenteiro para o frei franciscano.
Um dos rituais mais conhecidos é o de colocar a estátua de Santo Antônio na geladeira ou de cabeça para baixo na água, de “castigo” até conseguir encontrar um grande amor.
Em outra simpatia, a pessoa deve pôr a imagem de Santo Antônio debaixo da cama durante três noites seguidas, imaginando o próprio corpo rodeado por uma luz rosa. No quarto dia, um banho de casca de maçã com uma colher de mel deve ser preparado pela manhã. Segundo a tradição, basta aguardar que irá conhecer rapidamente uma pessoa especial.
Outra simpatia para quem está solteiro é cortar três palmos de uma fita branca e amarrá-la em uma imagem de Santo Antônio. Depois, é preciso rezar e pedir para outro fiel fazer o mesmo procedimento.
Uma terceira possibilidade é o fiel abrir as portas da casa e dizer: “Santo Antônio, protetor dos namorados, faça chegar até mim aquele(a) que anda sozinho(a) e que em minha companhia será feliz”. Após isso, no dia 13 de junho, deve-se acender uma vela rosa de qualquer tamanho em um pires com mel e pedir ao santo a entrada de alguém especial na vida.
Outra tradição, uma das mais elaboradas, está associada àqueles que possuem uma amizade a qual se espera algo a mais. Para o relacionamento ir a outro nível, a pessoa deve espalhar um pouco de mel sobre um pires, cobrindo com um plástico e deixando aos pés de uma imagem de Santo Antônio por sete dias. Por baixo do pires, deve ser colocada uma foto em que a pessoa e sua “amizade” estejam juntas. Todas as manhãs, a pessoa deve pedir ao santo que mude os sentimentos do amado, transformando em paixão recíproca, além de rezar o “Pai Nosso” e depositar uma moeda de pequeno valor aos pés do santo. No oitavo dia, as moedas devem ser entregues para a primeira pessoa necessitada que o simpatizante encontrar. O pires embrulhado com mel deve se jogado no lixo, e a foto das pessoas deve ser guardada dentro de um livro de romance, que transformará história em realidade.