Evento levou mais de três mil pessoas ao Ginásio de Esportes. Com coreografias, figurinos e cenários surpreendentes, estudantes da Escola Mestre Santa Bárbara foram os protagonistas principais de uma noite de espetáculos

O último final de semana começou agitado em Bento Gonçalves, isto porque a Tertúlia, evento de danças tradicionais gaúchas promovido pela Escola Estadual de Ensino Médio Mestre Santa Bárbara, aconteceu na sexta-feira, 16 de setembro. Com a presença de mais de três mil pessoas no Ginásio Municipal de Esportes, as turmas se empenharam e fizeram um grande espetáculo.

O evento acontece desde 2010, e começou mais singelo, apenas para homenagear a Semana Farroupilha e ocorria dentro da própria escola. “Foi uma professora que iniciou com atividades pequenas, depois tomou uma proporção maior, foi realizado na Casa das Artes, no Centro de Tradições Gaúchas Laço Velho e, depois, tivemos que arranjar um espaço maior para contemplar todo mundo, mesmo assim lota o ginásio e muitos ficam de fora”, frisa a diretora da escola, Margarida Protto.

Ela afirma que a edição de 2022 foi um momento de recomeço. “Dando continuidade à Tertúlia depois de dois anos de pandemia. Foi maravilhoso, todas as turmas se apresentaram muito bem, tivemos a parceria com toda a comunidade escolar. Os pais, amigos, os professores, todos se envolveram e foi aquele sucesso. Nós, da família Mestre, estamos muito felizes”, expõe.

Segundo Margarida, o período de preparação durou quase seis meses, com um empenho de toda a escola. “A gente viu o crescimento, os alunos foram desenvolvendo aos poucos, algumas turmas um pouco mais, outras tiveram dificuldade, porque todo trabalho em grupo exige cooperação, e às vezes gera algum conflito”, lembra.

A dedicação, conforme a diretora, aconteceu desde a escolha do coreógrafo, do tema, edas vestimentas. “É uma tarefa árdua, mas a gente percebe que nos últimos 15 dias o envolvimento foi intenso, onde a nossa escola virou serraria, marcenaria, os pais iam até lá e auxiliavam os alunos, eles construíram seus cenários, foi bem bacana”, esclarece.

Para ela, a atividade auxilia no crescimento e amadurecimento dos estudantes. “A Tertúlia envolve a pesquisa científica, pois eles tinham que produzir um artigo baseado no tema escolhido, pesquisar sobre isso, desenvolver o trabalho, mostrar para uma banca de avaliadores, e depois apresentar através da artística que foi a culminância”, pontua.

Orgulhosa do resultado final, Margarida frisa que os alunos foram os protagonistas dessa ideia, porque eles criaram e desenvolveram toda a apresentação. “Os professores só foram mediadores do conhecimento. Foi um espetáculo no qual a equipe diretiva não sabia o que iria acontecer, eles apresentaram para o público e para nós. Os estudantes que movimentaram toda a comunidade escolar, nós só mediamos, bancamos a estrutura e organizamos o evento, mas foram eles que deram o show”, analisa.

Além disso, a diretora também ressalta a participação de muitos pais, que contribuíram e foram fundamentais para o resultado final, pois levavam os filhos para os ensaios, organizavam e auxiliavam na construção do evento. “Cada turma tinha que indicar no mínimo um pai ‘amigo da turma’ como representante, porque em um grande grupo de adolescentes a gente precisa também ter a parceria dos adultos. Isso mostra o quanto eles se envolveram com a escola”, relata.

A novidade deste ano foi o retorno, pois a última vez que a Tertúlia ocorreu foi em 2019. “Nas outras edições, os terceiros anos tinham mais domínio, já tinham participado de outras, então o diferencial dessa é que era novo para todas as turmas. O que eu, como diretora pude perceber, foi que antes, ao assistir as apresentações, quando chegava no final a gente tinha uma expectativa de qual iria ganhar. Neste ano, saí de lá e não tinha uma ideia de qual turma seria a vencedora. Foi surpresa porque todas estavam bem preparadas, no mesmo nível”, conta.

Segundo Margarida, o sucesso só foi possível com a participação e o envolvimento de todos os pais, professores, coreógrafos e toda a comunidade. “Nós só temos que agradecer aos nossos alunos, que foram protagonistas da 12ª edição, sem exceção, e que todos são vencedores, independente de quem ficou como primeiro colocado”, conclui.

União que trouxe vitória

A turma vencedora da Tertúlia Mestre 2022 foi a 32M, com o tema “Uma Viagem a Vapor”, que teve como objetivo principal retratar o papel da Maria Fumaça no desenvolvimento histórico e atual de Bento Gonçalves.

Uma das líderes da turma, Ana Paula Tomasi, conta que o primeiro contato entre os alunos e coreógrafo foi no final de maio. “A Tertúlia é um projeto que pode ser considerado longo e trabalhoso se você decidir se dedicar. Nossa turma optou por fazer o melhor, então a disciplina e comprometimento tiveram que estar presentes por esses últimos meses. Os ensaios para as artísticas eram realizados nos domingos de manhã, feriados, e um período por semana na escola. Nos organizamos para achar um local e horário acessível para todos”, descreve.

De acordo com a estudante, além da dança, os figurinos e cenário foram trabalhosos. “Tecidos, costureira, bonés, maquiagem, botas, sapatilhas e o nosso tão amado trem que foi construído por um colega do zero. É importante destacar que as tarefas foram realizadas com o dinheiro da turma, arrecadado em rifas, vendas de pizza, festa junina e patrocínios. A preparação foi longa, mas necessária, todo o esforço e tempo foram recompensadores”, garante.

Ana Paula assegura ainda que a Tertúlia não presenteia os alunos com prêmios, mas sim com aplausos e emoção. “Ela é um ótimo projeto para desenvolver união e responsabilidades. Não há melhor sentimento de recompensa do que sentir o suor escorrendo no rosto, o coração a mil, os gritos da plateia, e, no final, descobrir que fomos os destacados entre todas as outras turmas”, enfatiza.

Ela diz, ainda, que nunca pensou que aprenderia tanto com um projeto escolar. “Guardar e arrecadar o dinheiro, dialogar e negociar com tantas pessoas, mas principalmente se manter firme em momentos de intriga e estresse”, reconhece.

A aluna também admite que existiu uma relutância nos meses iniciais, sendo os motivos o pós-pandemia, a preocupação com vestibulares, escola e trabalho, o que fizeram o evento ficar em último plano. “Entretanto, conforme víamos as ideias saírem do papel, a animação surgiu junto, nosso coreografo Gringo contribuiu enormemente com seus discursos e criatividade inspiradores. Essa é a nossa última e primeira Tertúlia, evento que destaca o Mestre, e agora conseguimos entender porque ele continua presente após tantos anos. É um orgulho poder falar que ficamos na primeira colocação, competindo com outras coreografias maravilhosas”, ressalta.

O estudante Guilherme Tomasi, responsável pelo cenário, menciona que os alunos começaram a se preparar no dia 21 de março. Ele destaca que a vitória foi recebida com muita satisfação, pelo tempo empenhado em fazer uma boa apresentação. “A gente nem se surpreendeu muito, porque trabalhamos demais e a gente já sabia que, pelo menos, iríamos estar entre os três primeiros colocados”, comemora.
Por ser a única oportunidade da turma de 3º ano se apresentar no evento, eles se esforçaram ainda mais. “Queríamos fazer bem feito. Gostaria de agradecer a turma, acho que se não fosse essa combinação entre o teórico e o artístico, a gente não teria vencido. A vitória só aconteceu por conta da união de todos”, finaliza.

Fotos: Thamires Bispo