Devido ao isolamento social, famílias encontram maneiras de estarem juntos e não deixar a tradição de Páscoa findar. Mas cada um na sua casa
A Páscoa, para os cristãos, é momento de lembramos da morte e ressurreição de Jesus. Este ano, a celebração passará por algumas adaptações, em virtude do período de isolamento social como medida de prevenção ao coronavírus (Covid-19).
A professora de Português Graciele Frosi Moroni, 36 anos, conta que ela e sua família costumam viajar para Guabiju, sua terra natal, para encontrar os parentes e ir à igreja. “No domingo de Páscoa nos reunimos todos na casa da avó para celebrar juntos. É uma festa de encontro de família e de oração. As crianças esperam que o coelhinho traga seus presentes durante a noite. Então, querem ir dormir cedo para chegar logo o domingo de manhã e encontrar seus chocolates. Fazemos marcar de patas com farinha que levam às crianças até os ninhos”, relata.
Se antes os domingos serviam para reunir famílias para almoços, agora, será cada um em sua casa. “Ficaremos em casa, só nossa família, meu marido, meus filhos e eu, e faremos nossas orações. Vamos fazer, como de costume, as pegadas do Coelhinho da Páscoa para as crianças com a procura de seus ninhos de ovos e chocolates. Isso ainda dá pra fazer”, menciona.
Tradições como essas fazem parte da vida de muitas pessoas e podem servir como inspiração para outras. “Nesta semana, farei em casa com o meu filho Lorenzo, sete anos, a colombina de Páscoa, conforme a tradição dos imigrantes italianos. É uma atividade proposta pela escola em que ele estuda, achei bacana e faremos para compartilhar em família”, estimula Graciele.
A festividade também será diferente na casa do bombeiro militar de advogado Fernando Bissaco, 28 anos. “Neste dia em especial, rememoro com meus familiares a verdadeira identidade da Páscoa, me despindo dos ideários comerciais e que, a meu ver, é o mais importante acontecimento da humanidade: a ressurreição de Cristo. Devido ao isolamento, passarei a data juntamente com minha esposa e minha filha de seis meses. A diferença é que não haverá a confraternização costumeira com todos os demais, infelizmente”, pontua.
Estando à frente da luta contra o Covid-19, Bissaco ressalta que sua atividade profissional permanece inalterada, com os devidos reforços na prevenção. “Na rotina pessoal, houve mudanças importantes devido às restrições impostas a todos os cidadãos. Com a permanência no ambiente doméstico, tenho apreciado o tempo na companhia da minha esposa e filha com mais efetividade”, afirma.
Ele aconselha ainda que as pessoas acatem as determinações das autoridades pública. “Se até potências mundiais como China e Estados Unidos se dobraram diante de um organismo microscópico, surge-me o sentimento de inoperância e reflexões sobre a fragilidade da raça humana e o quão dependentes somos da benignidade divina”, enfatiza.
“Surge-me o sentimento de inoperância e reflexões sobre a fragilidade da raça humana e o quão dependentes somos da benignidade divina” Fernando Bissaco
Habituada a se reunir no domingo de Páscoa com as quatro gerações da família para um bom churrasco, a artesã Juliane Menegazzi Dinarte, 30 anos, relata que manterá a tradição, mas agora é cada um na sua casa e de uma forma diferente. “Com o isolamento, vamos comemorar em casa, a gente aprende que regras são para serem seguidas. Faremos um vídeoconferência, com os familiares que possuem essa ferramenta, para termos, pelo menos, um momento de oração juntos”, comenta.
Ela acrescenta que “na semana que antecede a data, temos um momento de reflexão quanto ao verdadeiro significado da Páscoa, principalmente para passar ao meu filho Paulo, nove anos. Então, agradecemos a Deus, pelo seu Filho e sacrifício na cruz”, finaliza.
O assistente de expedição de uma indústria alimentícia Erik Albuquerque, 31 anos, e sua família, que estão longe da sua cidade natal há dois anos, substituíram o almoço na casa dos avós em Barreiros, Pernambuco, por uma celebração com conterrâneos, também bento-gonçalvenses de coração. “Sempre almoçamos em família, agora que estamos longe do nosso estado nos juntamos com nossos amigos para comemorar. Porém, neste ano, vamos ficar em casa, comendo as comidas que lembram nosso lugar e lembrando do Sacrifício Vicário de Cristo por nós”, afirma.
Passados de geração para geração, ritos são uma forma de manter a família unida e de transmitir aos filhos os conhecimentos sobre a data de uma maneira lúdica. “Sempre cantamos músicas cristãs do Cordeiro Pascal e lemos passagens bíblicas do povo de Israel e sua história”, destaca Albuquerque.
Se a vida te der um limão, faça uma limonada
Juliane encontrou no artesanato uma nova maneira de ganhar um extra na Páscoa. Ela começou a produzir guirlandas, enfeites para a porta e caixas em MDF ainda no final de fevereiro. “Devido ao Covid-19 não tive uma repercussão tão boa. Apesar de ter divulgado, como de costume, mas não obtive sucesso, infelizmente”, lamenta.
No entanto, a artesã uniu o útil ao agradável. “Pensei: bom, eu sei costurar, eu sei fazer uma máscara. Fiz uma aqui para casa, postei uma foto, o pessoal demonstrou interesse e comecei a confeccionar com tecidos que eu tinha e a vender. Nisso, eu soube de um grupo voluntário e passei a ajudar também. Por fim, a venda deste ano foi diferente e tenho muito trabalho, graças a Deus!”, comemora.
Fluxo nas rodovias
Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), desde que começaram as restrições em decorrência da pandemia, o fluxo de veículos decaiu 70% nas rodovias que liga Bento Gonçalves aos municípios vizinhos. “Na última semana, o movimento de veículos tem aumentado de forma gradual, dá para se dizer que 25% comparado a dias típicos”, observa o chefe do núcleo e policiamento e fiscalização da PRF, André Benedetti.
As recomendações é que as pessoas fiquem em casa neste feriado. No entanto, para a PRF a expectativa é outra. “A leitura que estamos fazendo é o contrário. Como a quarentena já dura há alguns dias, acreditamos que as pessoas irão aproveitar o feriado para visitar suas famílias e, talvez, tenha um fluxo maior do que o esperado. Temos um reforço de efetivo pronto, visando atender as demandas o período”, pondera Benedetti.
Foto: Franciele Zanon