Preparações para o segundo dia de provas continuam na Capital Nacional do Vinho, enquanto professores avaliam suas metodologias

O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2024, “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”, revelou-se um desafio importante e significativo para estudantes de todo o país. No Colégio Nossa Senhora Medianeira, a preparação para a redação do Enem não se limita ao último ano do Ensino Médio, mas envolve um processo contínuo, iniciado logo no primeiro ano do EM.
“Oferecemos uma aula semanal focada em técnica de escrita, proposta de intervenção, gestão do tempo e prática constante”, conta a professora Iara Baldissera.

Além das aulas regulares, os alunos também realizam simulados de redação, integrados às provas de Linguagens e Códigos, com o uso da plataforma “Redigir”. “A prática semanal com a plataforma permite que eles desenvolvam o hábito de escrever e se familiarizem com o formato dissertativo-argumentativo exigido pelo Enem”, destaca Iara. O Colégio Medianeira ainda conta com o programa “Prepara Enem”, uma série de três dias dedicada a revisão e divulgação de conteúdos de redação e outras disciplinas.

Luiza Pavan e Emanuela Gioelli foram preparadas para a redação através de muitas aulas e da plataforma “Redigir”

Embora o tema específico da redação do Enem de 2024 não tenha sido trabalhado com exatidão, a professora explica que um tema semelhante, sobre o “Dia da Consciência Negra e o reconhecimento da cultura afro-brasileira”, foi discutido em outubro. “Uma questão acerca do reconhecimento e do respeito à cultura afro-brasileira, de desvalorização da imagem das sociedades africanas, dos seus saberes e produtos, como consequência do projeto capitalista. Portanto, O Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro, é uma data simbólica no Brasil, que convida à reflexão sobre o papel dos negros na sociedade”, salienta.

Para a estudante Luiza Pavan, que obteve uma pontuação de 960 nessa simulação de redação, o tema foi recebido com entusiasmo. “Acho o tema importante, porque, apesar de presente na nossa sociedade, muitas vezes é negligenciado. A questão do racismo estrutural, por exemplo, é um ponto que quis desenvolver, pois precisamos combater esses preconceitos enraizados”, afirma.

A aluna Emanuela Gioelli, que tirou 880 na simulação, destaca que o tema do Enem foi fácil de desenvolver graças ao estudo de temas parecidos. “Consegui aproveitar bastante o que já aprendemos, o que me deu confiança para desenvolver bem a redação, já que trabalhamos Quilombo dos Palmares”, conta.

Para a professora Iara, a prática contínua é um dos diferenciais no desempenho dos alunos. Aqueles que treinam redação regularmente desenvolvem um maior domínio sobre o processo de escrita e ganham confiança para enfrentar desafios como o Enem. “Os alunos que praticam mais frequentemente conseguem organizar melhor suas ideias, apresentam maior segurança ao construir uma tese sólida e têm mais facilidade em elaborar uma intervenção específica e prática”, frisa.

Para a professora Iara, a prática contínua é um dos diferenciais no desempenho dos alunos

Reações ao tema

A professora de Língua Inglesa e Língua Portuguesa do Colégio Sagrado Coração de Jesus, Samanta Kélly Menoncin, se surpreendeu com o tema deste ano. “Por ter sido um ano desafiador, em especial quanto aos impactos ambientais que assolaram o Brasil, esperava-se algo nessa linha. Contudo, sempre é tempo para discussões acerca de questões culturais que estão na base de nossa nação. O povo brasileiro é marcado pela miscigenação, pluralidades e diversidade, e isso precisa ser reconhecido por toda a comunidade para que saibamos sobre nosso passado, compreendamos nosso presente e direcionemos nosso futuro”, comenta, ressaltando que obras como “Ponciá Vicêncio”, de Conceição Evaristo, foram trabalhadas, trazendo como temática herança africana como fio condutor da narrativa.

Samanta Kélly Menoncin

Já no Centro Tecnológico da Universidade de Caxias do Sul (CETEC-UCS), tanto professores como alunos não se surpreenderam com o tema. “A discussão da herança africana é prevista como conteúdo programático de História no Ensino Médio pela Base Nacional Curricular Comum (BNCC). Além disso, livros clássicos e contemporâneos da literatura brasileira abordam o tema e são componentes das aulas de Literatura, como “Navio Negreiro”, de Castro Alves, “Negro”, de Cruz e Sousa, e obras contemporâneas, como “O Avesso da Pele”, de Jéferson Tenório, que é leitura obrigatória para o vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)”, destaca a professora da instituição, Andrea Weber Brun.

Professores Felipe Zobaran, Andrea Weber Brun e Bruno Misturini reforçam a importância da temática.

Ela complementa que se trata de uma temática extremamente relevante. “A questão da falta de valorização da cultura afrodescendente ainda é visível em nosso país. Descendentes de italianos ou de alemães, por exemplo, podem traçar precisamente de onde seus sobrenomes e antepassados vêm. Porém, descendentes de africanos tiveram seus registros sumariamente apagados pelo sistema escravocrata e, após a abolição, pela exclusão e marginalização social devido à cor da pele e à posição socioeconômica”, conclui.