Com a inclusão do Qarziba no rol de tratamentos, crianças de alto risco agora têm novas chances de cura através do SUS, aliviando o peso financeiro das famílias

O Sistema Único de Saúde (SUS) anunciou uma medida importante para o tratamento do neuroblastoma, um tipo raro e agressivo de câncer infantil. A partir de agora, o medicamento Qarziba (betadinutuximabe) será disponibilizado gratuitamente para pacientes de alto risco, oferecendo uma nova esperança para muitas famílias.

O neuroblastoma é o terceiro tipo de câncer mais comum entre bebês e crianças até 10 anos, com uma incidência de um caso a cada sete mil nascidos vivos. Este tumor se origina de células nervosas imaturas presentes em diversas partes do corpo, frequentemente nas glândulas adrenais, localizadas acima dos rins. Embora seja raro, é extremamente perigoso, com metade das crianças diagnosticadas com a forma de alto risco não sobrevivendo mais de cinco anos.

Alto custo e inovação no tratamento

O medicamento betadinutuximabe, que custa aproximadamente R$ 2 milhões por paciente, é indicado para casos de alto risco ou para o reaparecimento da doença. Ele é administrado em cinco ciclos consecutivos e funciona como uma imunoterapia, ativando o sistema imunológico para destruir as células cancerígenas. Estudos mostraram que o Qarziba pode aumentar em 34% a expectativa de sobrevivência e reduzir em 29% as chances de progressão da doença.

O remédio já foi utilizado em mais de mil pacientes em 18 países, com resultados promissores que aumentam a chance de cura e diminuem o risco de recidiva.

Decisão da Conitec e novos horizontes

A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) foi a responsável por dar o parecer favorável à inclusão do Qarziba no rol de tratamentos oferecidos pelo sistema público de saúde. A decisão, anunciada em outubro de 2024, ocorre após uma negociação entre o Ministério da Saúde e a empresa fabricante, que ofereceu um desconto para viabilizar o fornecimento. Esse passo garante que crianças com neuroblastoma de alto risco terão acesso a uma terapia que pode mudar o curso de suas vidas.

A estimativa é de que cerca de 55 pacientes por ano possam ser tratados com o medicamento no Brasil. Esses pacientes devem ter passado por tratamento de quimioterapia e alcançado ao menos uma resposta parcial antes de serem elegíveis para a imunoterapia com Qarziba. Além disso, eles também devem ter passado por transplante de células-tronco e outras terapias.

O impacto da decisão

A incorporação do betadinutuximabe pelo SUS representa uma conquista significativa para famílias que enfrentam a difícil realidade do câncer infantil. Até então, o alto custo do tratamento colocava um enorme obstáculo ao acesso, e muitas vezes campanhas de arrecadação de fundos eram a única alternativa.

Com o medicamento agora disponível pelo SUS, espera-se que mais crianças tenham acesso a um tratamento eficaz, aumentando as chances de cura e reduzindo a necessidade de tratamentos mais invasivos no futuro. A decisão reflete o compromisso do Ministério da Saúde em oferecer tecnologias que sejam comprovadamente eficazes e acessíveis, levando em consideração as necessidades da população e as evidências científicas.

A partir de agora, o Qarziba se junta a outras 46 tecnologias incorporadas ao SUS desde 2023, reforçando o sistema de saúde pública brasileiro no combate a doenças graves e raras, como o neuroblastoma. Essa medida traz alívio para muitas famílias e representa um avanço no tratamento oncológico infantil no Brasil.

A presidente da Liga de Combate ao Câncer de Bento Gonçalves, Maria Lúcia Gava Severa, destacou a importância dessa incorporação ao SUS. “Garante que mais pacientes tenham acesso a um tratamento eficaz, independentemente de sua condição socioeconômica, o que é fundamental considerando que o neuroblastoma é um câncer agressivo que afeta principalmente crianças. A disponibilidade do betadinutuximabe no SUS proporciona um alívio significativo, permitindo que as famílias se concentrem na recuperação das crianças”, diz.


Essa medida foi possível graças à decisão da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), que aprovou o medicamento após negociações com a fabricante para redução de custos. Estima-se que cerca de 55 pacientes por ano possam ser tratados com o Qarziba no Brasil. Para serem elegíveis, as crianças precisam ter passado por tratamentos convencionais, como quimioterapia e transplante de células-tronco.

Além dos benefícios clínicos, Maria Lúcia Gava Severa destacou o impacto positivo no aumento das taxas de sobrevivência e na qualidade de vida das crianças: “O betadinutuximabe ajuda a eliminar células tumorais remanescentes após tratamentos convencionais, como quimioterapia e cirurgia. Combinando esse medicamento, é possível reduzir a recidiva da doença e melhorar a qualidade de vida do paciente, reduzindo os efeitos colaterais”, diz.

O Centro Assistencial Andressa Zietolie, ponto de acolhida para receber pacientes e familiares em trânsito durante os tratamentos médicos, conta com estrutura de 930 metros quadrados, capaz de acomodar confortavelmente até 14 pessoas em tratamento, com seus acompanhantes. “Buscamos nos inteirar sobre o assunto, garantindo que a equipe esteja bem informada. A captação de recursos e apoio da comunidade também é uma parte importante da preparação, garantindo que a Liga tenha os recursos necessários para oferecer suporte adicional. Assim como em outros tipos de câncer, a Liga tem um amplo rol de ações direcionadas ao estímulo da prevenção e da busca pelo diagnóstico precoce do câncer, valendo-se de ferramentas como custeio de medicamentos e exames, atendimento psicológico, nutricional, fisioterapia, fonoaudiologia, enfermagem, entre outros”, declara.

A Liga de Combate ao Câncer de Bento Gonçalves está preparada para apoiar as famílias da região no enfrentamento dessa e de outras doenças. “Temos uma equipe capacitada, e contamos com o centro que acolhe pacientes e familiares durante os tratamentos médicos” afirma.

Embora a Liga ainda não tenha registrado casos de neuroblastoma, a presidente ressaltou que a entidade está pronta para colaborar com o SUS, facilitando o acesso aos tratamentos. “Nossa atuação é focada em viabilizar exames, consultas e tratamentos, e em criar um ambiente de apoio integral às famílias”, conclui.